A cada hora, o setor de ciência e tecnologia (C&T) brasileiro perde cerca de R$ 500 mil em investimentos federais. Essa é a estimativa da Conhecimentos Sem Cortes, iniciativa que reúne pesquisadores, estudantes e professores de universidades federais e institutos de pesquisa contra os cortes no orçamento do setor.

O grupo inaugurou na tarde desta terça-feira, 18, durante o encontro As universidades e os professores diante da crise brasileira, o tesourômetro, um contador digital que prevê, em tempo real, o montante que o governo federal deixa de investir em ciência e tecnologia.

Segundo Tatiane Roque, presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde foi inaugurado o primeiro tesourômetro, em 2015, a iniciativa tem o papel de sensibilizar a sociedade para a perda causada pela Emenda Constitucional 95. A proposta, aprovada no ano passado no Congresso Nacional, prevê que, nos próximos 20 anos, os investimentos na área da educação serão calculados de acordo com o índice inflacionário do ano anterior.

“São cortes em educação, ciência e tecnologia nas universidades e nos centros de pesquisa. Eles afetam diretamente o nosso futuro. Como a população não é informada, queremos levar esse assunto para a opinião pública. Acreditamos que podemos reverter esse quadro com o apoio da sociedade”, afirmou Tatiane.

Para estimar o total não investido, os cálculos realizados para as previsões incluíram montantes de cortes no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI), das universidades federais e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Para a presidente da SBPC, Helena Nader, a iniciativa do tesourômetro é importante porque a Emenda Constitucional põe em risco a continuidade da ciência brasileira nos próximos 20 anos.

Mesa-redonda, realizada no CAD 2, discutiu as perspectivas das universidades e dos professores diante da crise brasileira. Foto: Marcílio Lana / UFMG

“Ciência e educação precisam ser vistas como investimentos, não como despesas. Essa medida vai contra o que desejamos para o nosso país e por isso corremos risco. Nas últimas décadas, a ciência pôs o Brasil no rumo certo, e esses foram investimentos que não podem ser interrompidos”, destaca.

O ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Clelio Campolina Diniz, também demonstrou preocupação com o futuro da ciência brasileira. Ele explicou que a história do desenvolvimento da humanidade mostra que, para evoluir, a sociedade precisa produzir conhecimento, algo que se torna mais difícil com os cortes nos campos de educação e C&T.

“O mundo passa por uma corrida científica e tecnológica sem precedentes, e é impossível não fazermos parte deste processo. Há que se controlar a crise financeira pela qual o país passa, mas não podemos fazer um controle cego, passar a régua nos gastos de forma linear e não planejada.” Ele destacou que o Brasil já está ficando atrás de outros países que, antes, não ocupavam posição de destaque na pesquisa mundial.

“A Coreia do Sul, por exemplo, já gasta 4% do seu orçamento com ciência e tecnologia, enquanto nós gastamos menos de 1%. E, como a previsão é que esse valor diminua mais ainda, corremos o risco de ficarmos fora da corrida científica mundial.”

Para o diretor do Colégio Técnico da UFMG (Coltec), Giovane Azevedo, além das pesquisas de ponta, que correm o risco de serem interrompidas com os cortes, o ensino técnico e profissionalizante também sofre. “A questão financeira passou a prevalecer sobre o cidadão, com a interrupção de projetos e contratos. O tesourômetro é uma iniciativa importante para evitar que a estrutura que temos hoje seja comprometida.”

O reitor Jaime Arturo Ramírez destacou a importância da universidade sediar o segundo tesourômetro do país, campanha que ele acredita ser importante para o setor de ciência e tecnologia nacional. “O tom da abertura da 69ª Reunião da SBPC mostrou que passamos por um momento difícil. A ciência e a tecnologia nos une, e a UFMG sempre foi clara em sua posição: a Emenda 95 precisa ser derrubada porque é um retrocesso em relação à Constituição de 1988. O conhecimento não pode sofrer cortes, e essa campanha precisa ganhar corpo”, conclamou.

Grupo de pesquisadores na inauguração do tesourômetro, na entrada do campus Pampulha. Foto: Carol Prado / UFMG