[Imagem destacada: brasilianas.org / EBC]

O modo como as universidades podem atuar no desenvolvimento e crescimento das cidades foi discutido na mesa-redonda Planejamento e política: o papel da universidade, que integrou a programação da 69ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

Carlos Bernardo Vainer, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ), iniciou sua exposição destacando que a colonização brasileira fez as universidades do país surgirem pautadas na dicotomia centro-periferia. Para ele, essa característica interfere diretamente no modo como as universidades atuam no planejamento urbano brasileiro.

Vainer destacou papel da colonização brasileira. Foto: Raíssa César

“Todo o planejamento das cidades tem como base a questão centro-periferia, uma vez que o capitalismo se desenvolveu reproduzindo essa relação. O desequilíbrio entre esses dois polos (centro e periferia) interfere em como a cidade é planejada e em como as universidades se estabeleceram”, disse.

Vainer explicou que a universidade, apesar de lugares de produção de saber, conhecimentos e representações, não consegue deixar de refletir a dicotomia centro-periferia. Nos países centrais, a universidade se instaura como centro de coleta e produção de saber sobre as periferias, enquanto na periferia ela reproduz a rejeição da cultura e saberes locais.

“As universidades acabam agindo como reprodutoras da subalternização do processo de produção de conhecimento na periferia, o que leva essas universidades a funcionar como aparelho ideológico poderoso e dominante e como centro de produção de um conhecimento que rebaixa a periferia”, explicou.

Não ao colonialismo
Vainer afirmou que as universidades dos países periféricos, incluindo o Brasil, precisam conquistar um novo espaço de atuação, deixando de se ver como vítimas e usando os conhecimentos produzidos localmente.

“Somos colonizados intelectualmente e, em várias áreas, lemos autores de outros países. Deveríamos agir de outra forma, pois ninguém nos conhece melhor que nós mesmos. Não podemos nos fechar somente no diálogo com o saber produzido em outros países”, disse.

A vereadora em Belo Horizonte Áurea Carolina (PSOL) corroborou com as ideias do pesquisador ao afirmar que a universidade deve agir como refúgio do pensamento crítico, atuando de forma ativa para as transformações das cidades. “É dever ético e político das universidades quebrar as fronteiras demarcadas desde a colonização. Pesquisa e ensino devem atuar junto com a extensão, que é o modo como os muros das universidades são quebrados e como ela consegue, de fato, transformar as cidades e as pessoas.”

Para a vereadora Áurea Carolina, extensão quebra o muro que separa a universidade da sociedade. Foto: Raíssa César / UFMG

Ermínia Maricato, professora da Universidade de São Paulo (USP), acrescentou que o pensamento de país colonizado precisa ser superado dentro e fora das universidades. “O grau de discriminação intelectual que sofremos é grande e nos atrapalha planejar o nosso desenvolvimento. O planejamento das cidades deve partir das universidades e chegar até as ruas, onde as pessoas devem discutir como o dinheiro público será investido na construção e funcionamento de suas cidades”, concluiu.