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Em mesa de abertura, física e artes plásticas se uniram para descrever o fenômeno da luz

segunda-feira, 19 de outubro de 2015, às 16h14

Na manhã desta segunda, 19, o auditório da Reitoria recebeu a abertura oficial da Semana do Conhecimento UFMG, que integra a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A temática escolhida para o evento deste ano é Luminosidades.

“O tema luz foi indicado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e, com base nele, articulamos uma ideia mais geral, Luminosidades, que fosse significativa para as diversas áreas do conhecimento”, explicou o filósofo Rodrigo Duarte, pró-reitor de Pós-graduação da UFMG.

“Procedemos assim porque Luminosidades é uma temática motivadora tanto para as ciências naturais – e para a física, em especial – como para as ciências humanas, área em que simboliza, de uma forma geral, o conhecimento", justificou Duarte.

No evento, o pró-reitor de Pós-graduação coordenou a mesa-redonda Luz e cor na ciência e na arte, que deu início formal às atividades da Semana do Conhecimento, após apresentação de músicos da Escola de Belas-Artes. A mesa reuniu o artista plástico Paulo Pasta e a professora Maria José Brasil, do Instituto de Física da Unicamp. Ambos trabalham cor e luz em suas respectivas áreas.

Antes das palestras, Ricardo Takahashi, pró-reitor de Graduação, fez um apanhado histórico da trajetória da Semana do Conhecimento, que começou em 1992 como Semana de Iniciação Científica, “uma forma de dar visibilidade à produção científica dos alunos de graduação”. Takahashi explicou que, no decorrer de 24 edições, o evento ganhou o status de uma grande feira de atividades, que contempla diversas frentes de produção de conhecimento, dos servidores aos professores, passando por estudantes de graduação e pós-graduação.

Takahashi lembrou que, neste ano, pela primeira vez, a Universidade convidou as unidades acadêmicas para contribuir com o evento. “E elas atenderam ao convite com prontidão. Isso contribuiu para que tivéssemos um número bem maior de atividades que nos anos anteriores, com uma diversidade impressionante.”

A expectativa para o próximo ano é a de ampliar ainda mais o escopo do evento, diz o pró-reitor. “Queremos uma Semana ainda mais complexa, com mais atividades disponíveis. A ideia é chamar o público externo e a sociedade a participar e a se inteirar do conhecimento acadêmico que a gente produz. Isso é algo a ser buscado em um futuro próximo.”

Parte da programação da Semana do Conhecimento será transmitida ao vivo pelos portais UFMG (acesso pelo navegador Internet Explorer) e pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). O evento segue até o dia 23 com ampla programação.

Sem mitos Em sua palestra, Maria José Brasil (foto acima), do Instituto de Física da Unicamp, lembrou que cor é uma ciência, ainda que esse status não seja muito reconhecido. “Em razão disso, frequentemente são divulgados conceitos ultrapassados, até incorretos”, lembrou.

A professora, em intervenção, procurou desfazer mitos que envolvem o tema. “Costuma-se dizer, por exemplo, que todas as cores estão presentes no arco-íris. Isso não é verdade. Há uma série de cores, como o magenta, o bege, o salmão, que não estão ali. São as chamadas cores espectrais”, disse. A especialista também rebateu a ideia de que seria possível gerar qualquer cor por meio de três cores básicas. “Isso não é verdade.” As explicações foram todas demonstradas em gráficos e exemplos práticos.

Ainda que fosse uma palestra sobre ciência “dura”, a especialista fez uma série de exercícios de percepção de cor com o público, de forma a demonstrar que, muitas vezes, a cor, tal como a beleza, “está nos olhos de quem vê”. Para se fazer entender, Maria José Brasil delimitou conceitualmente o que seja cor e luz. “Cor é a análise da luz visível que é feita por nosso sistema de visão. Luz é energia eletromagnética que se propaga como uma onda.”

Na sequência, o artista plástico Paulo Pasta (foto) falou sobre cor e luz no campo das artes. O professor optou por, inicialmente, repassar a história das artes plásticas, para discutir como seus principais expoentes analisaram o tema em suas produções.

Para tanto, o artista distinguiu “claro e escuro” de “luz e sombra”, apontando-as como coisas distintas. “Cabe aproximar a ideia de 'claro e escuro' das formas plásticas, e a ideia de 'luz e sombra' das formas pictóricas”, disse.

Depois de passar por diversos nomes da história das artes plásticas, como Leonardo da Vinci, Monet e Caravaggio, Paulo Pasta alcançou Matisse, o artista que teria proporcionado mais autonomia à cor. “Van Gogh já havia libertado a cor, mas ainda em sentido simbólico. Se Van Gogh pintava o vestido de uma mulher de verde, ele o fazia associando o verde à ideia de esperança, por exemplo. Em Matisse não há mais isso. Matisse confere autonomia à cor.”

Para Paulo Pasta, a cor nas obras de Matisse era harmonia. “Em suas obras, uma cor não podia diminuir a outra. Ele ia mudando as cores para que elas encontrassem o seu lugar, uma potencializando a outra. E, ao ganhar autonomia, a cor vai perdendo o seu volume”, problematizou.

Antes de apresentar seus próprios trabalhos, com os quais encerrou sua apresentação, Paulo Pasta ainda citou o pintor venezuelano Armando Reverón como exemplo de artista que faz uma abordagem contemporânea de cor e luz. Pasta lembrou que Reverón vive no Caribe, em um ambiente de luz forte, similar à luz que incide no Brasil.

Com essa luz natural estourada em vista, Paulo Pasta apresentou um quadro de Reverón em que trabalha de forma intensa a cor branca. “Reverón entendeu muito bem uma possibilidade de transpor para o quadro a realidade de luz. O branco, ao mesmo tempo em que é visibilidade máxima, é também impossibilidade de ver, o que tem muito a ver com a nossa realidade.”

(Armando Reveron. Cocoteros en la playa, 1926. Fonte: www.wikiart.org/)

Fonte: Agência de Notícias UFMG