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Nº 1348 - Ano 28 - 09.05.2002

Jovens descobrem os segredos da mecânica

Parceria da Engenharia com a PBH ensina fundamentos da profissão a adolescentes carentes

Ana Siqueira

a sala improvisada em um galpão, 14 jovens assistem à explanação em silêncio e com olhos atentos. Eles moram em diferentes lugares de Belo Horizonte, cursam o ensino médio na rede municipal e buscam entrar em contato com o mercado de trabalho. Um dos professores é também estudante, mas do 1º período de Engenharia Mecânica, e seus gestos não escondem o entusiasmo de estar ali, ensinando pela primeira vez. O outro professor é um pouco mais velho, mas demonstra a mesma disposição em contribuir para a formação de jovens carentes.

Cenas como essa podem ser observadas nas aulas do curso de extensão Tecnologia Mecânica, oferecido pelo departamento de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia, em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, a alunos de baixa renda. Idealizado pelos professores Roberto Márcio, Alexandre Abrão e Juan Rubio, o curso é parte de um projeto que pretende aproveitar a estrutura da graduação para prestar serviços à comunidade. Com duração de cinco semanas e carga horária de 100 horas/aula, a iniciativa quer estimular jovens a desenvolver habilidades para o trabalho em oficinas mecânicas e serralheria. "Não podemos em tão pouco tempo formar um profissional, mas acreditamos que seja possível oferecer ao aluno um pequeno diferencial que lhe permita aspirar a uma vaga no mercado", explica o professor Roberto Márcio.

Custos reduzidos

O convênio com a PBH foi firmado no início do ano a custos bastante reduzidos, pois a Universidade cedeu os laboratórios gratuitamente, e os professores abriram mão de qualquer remuneração. A Prefeitura financia o material de consumo, a bolsa dos estudantes de graduação que atuam como professores no curso, vale-transporte e vale-refeição aos alunos. A administração municipal também pretende fazer a "ponte" com o mercado de trabalho. "Pretendemos absorver parte dos estudantes em suas oficinas e em empresas particulares já contatadas", explica Luís Henrique Cunha, gerente de desenvolvimento socioeconômico da PBH.

A parceria tem duração inicial de um ano, período em que devem ser formados 196 jovens. São sempre duas turmas, uma pela manhã e outra à noite, com 14 alunos e dois professores em cada, entre alunos da graduação em Engenharia Mecânica e técnicos dos laboratórios. "A cada nova turma, queremos manter um dos professores e substituir o outro por um novato. Assim, não prejudicamos seus estudos na graduação nem deixamos de aproveitar a experiência que eles vão acumulando", afirma Roberto Márcio, para quem a participação dos alunos de Engenharia Mecânica tem sido decisiva para o sucesso do programa. "Eles ajudaram na elaboração do projeto. Até a apostila usada no curso foi preparada por um deles", argumenta Márcio. Um dos professores do curso, o estudante Rodrigo Teixeira elogia a iniciativa. "Além de contribuir para minha formação acadêmica, a iniciativa me traz enorme satisfação pessoal", explica.

Ávidos por aprender e de olho em futuras oportunidades de trabalho, os alunos não querem desperdiçar a chance. Tiago Teixeira, morador do bairro São Gabriel, diz que pretende arrumar um emprego na área. Só tem uma queixa: a temível Matemática. "É uma matéria muito difícil, mas faço de tudo para entendê-la", afirma Teixeira. Seu colega Davidson Romero, que vive no bairro Jardim Alvorada, já vislumbra novos horizontes. "Estou tentando um estágio de torneiro mecânico com um vizinho que trabalha na área", conta.