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Nº 1348 - Ano 28 - 09.05.2002

Mestrado em Geografia chega à centésima dissertação

Carla Maia

om um trabalho sobre Itabira - berço da Companhia Vale do Rio Doce e terra do maior poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade - o curso de pós-graduação em Geografia, oferecido pelo Instituto de Geociências (IGC), chegou à sua centésima dissertação, defendida no dia 24 de abril. A autora do estudo é a geógrafa Maria das Graças Souza e Silva.

O mestrado em Geografia é organizado em duas áreas de concentração: Geografia e análise ambiental e Geografia e organização humana do espaço. Criado em 1988, o curso buscou ampliar, nesses 14 anos, o campo de aplicação da geografia, através do desenvolvimento de pesquisas, e preparar pesquisadores qualificados, oferecendo uma formação múltipla e abrangente. "Seu caráter é interdisciplinar, e nenhuma das 25 disciplinas oferecidas é obrigatória", explica a professora Heloísa Costa, coordenadora do curso. Assim, o aluno pode escolher quais matérias cursar, em função de sua área de pesquisa e interesse.

O programa conta com 17 professores, todos com doutorado. No segundo semestre de 2001, havia 74 alunos matriculados, sendo 28 ex-alunos de graduação do IGC. O curso também recebe profissionais das áreas de Arquitetura, Sociologia, Ciências Biológicas e Economia.

Produtividade

O curso atravessa uma fase extremamente produtiva. A previsão é de que, de fevereiro a julho de 2002, sejam defendidas 44 dissertações, número que corresponde a quase metade das defesas ocorridas entre 1988 e 2001. Mas há outros bons indicadores: o curso obteve nota máxima na mais recente avaliação da Capes, e o número de bolsas cresceu de 10 para 15, em 2002. "O ideal seria que todos os alunos fossem contemplados com bolsas, mas esse aumento já é um progresso", considera Heloísa Costa.

Além do mestrado, o programa de pós-graduação em Geografia oferece cursos de especialização nas áreas de Turismo e desenvolvimento sustentável; Análise ambiental para gerenciamento de recursos naturais; e Percepção ambiental e espaço urbano. Já o doutorado está em fase de implantação, faltando apenas a aprovação da Câmara de Pós-Graduação e do Conselho Universitário.

 

Pesquisa descobre a "terceira Itabira"

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil; este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa...

(Carlos Drummond de Andrade)

 

Intitulada A terceira Itabira - os espaços político, econômico, socioespacial e a questão ambiental, a centésima dissertação do mestrado em Geografia da UFMG analisou as mudanças ocorridas na cidade, na década de 90, a partir da privatização de sua principal fonte de sustentação: a Companhia Vale do Rio Doce.

A geógrafa Maria das Graças Souza e Silva recorreu a uma crônica de Drummond para dar nome a seu trabalho. "O poeta nos fala de uma primeira Itabira, a do ouro, uma segunda, a do ferro, e uma terceira e diversa Itabira, a que procurei descobrir", afirma. Ela estudou os efeitos da privatização da Vale sobre as relações econômicas, políticas, sociais e ambientais no municípo. "Constatei que houve um rearranjo na cidade, principalmente no que diz respeito à postura política da população", explica Maria das Graças.

Segundo ela, quando a Vale deixou de ser uma empresa estatal e passou às mãos da iniciativa privada, os moradores abandonaram a antiga postura passiva, "a cabeça baixa" de que fala Drummond, e despertaram para uma consciência política, principalmente em relação às questões ambientais. "Fica a impressão de que antes a população não percebia as transformações ambientais conseqüentes da mineração, mas, depois da privatização, a Prefeitura local entrou com uma ação contra a Vale, e muitas audiências públicas sobre controle ambiental passaram a ser realizadas", esclarece Maria das Graças.

A desestatização da Vale, em 1997, alterou a face da economia de Itabira, marcada, sobretudo, pelo aumento dos níveis de desemprego e pela redução de salários. Em 1990, a empresa respondia por 4.189 empregos diretos, número que caiu para 1.701 nove anos depois. Após a demissão, boa parte dos funcionários acabou sendo recontratada como trabalhadores terceirizados e com salários bem menores. "Um engenheiro admitido pela Vale, nesse regime de trabalho, ganha o que recebia um faxineiro há 15 anos", observa Maria das Graças. Os efeitos dessa retração atingiram em cheio a cidade: queda das vendas no comércio local, desvalorização imobiliária e aumento dos níveis de pobreza, verificado pelo crescimento das favelas. A receita do município teve queda livre: nos áureos tempos da Vale estatal, a cidade arrecadava cerca de R$ 25 milhões por ano só de ICMS, cinco vezes mais do que se arrecada hoje.

Nem tudo, porém, é desalento na paisagem itabirana. Para a geógrafa, a privatização forçou a população a reconhecer a vulnerabilidade de sua economia, antes tão dependente da Vale. "Os itabiranos perceberam que está na hora de andar com as próprias pernas", diz Maria das Graças Silva. Ela constatou que a cidade abriu espaço para o crescimento de outras atividades, como a fruticultura, o desenvolvimento do ensino superior e o turismo cultural, esse último centrado na figura de Drummond. "Aos poucos, o município vai diversificando sua base produtiva", conclui a pesquisadora.

Dissertação: A terceira Itabira _ os espaços político, econômico, socioespacial e a questão ambiental

Autora: Maria das Graças Souza e Silva

Defesa: 24 de abril de 2002, no IGC

Orientador: Geraldo Magela Costa