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Nº 1384 - Ano 29 - 13.02.2003


Dissertação da Face calcula custos
da violência em BH

Murilo Gontijo


s trocados que se foram pela ação do pivete, a cura para um ferimento causado pelo assaltante, o carro surrupiado na porta da churrascaria. De crime em crime, a marginalidade provoca prejuízo de cerca de R$ 883 milhões por ano a Belo Horizonte, o que representa 4,1% do PIB da capital. Os dados foram apurados por Vinícius Velasco Rondon para sua dissertação Custos da criminalidade no município de Belo Horizonte: duas abordagens sobre as perdas de bem-estar, defendida no dia 4 de fevereiro, junto ao mestrado em Economia da Face.

A pesquisa, que considera apenas a violência intencional contra terceiros, é dividida em dois artigos. No primeiro, o autor utiliza o método de contagem para dimensionar os prejuízos impostos pela violência à capital. Para isso, Vinícius Rondon valeu-se de seis categorias de custos: estatísticas de custos com as vidas perdidas; com tratamentos de saúde; com segurança pública e privada; gastos privados com seguros; e perdas diretas. Na segunda parte do trabalho, ele descreve o impacto da criminalidade sobre o valor dos aluguéis na cidade. "Aqui, avalio a disposição dos cidadãos a pagar por segurança", resume Vinícius Rondon.

Das perdas impostas a Belo Horizonte pela violência, a maior cota cabe ao poder público, que gasta com segurança cerca de R$ 334 milhões anualmente. Os gastos com pagamentos de seguros respondem por outros R$ 86,7 milhões. Já as despesas apenas com a massa salarial de segurança privada giram em torno de R$ 60 milhões. "Na segurança particular, não foram considerados dispêndios com aquisição de equipamentos, por exemplo, que certamente representam muito", esclarece Vinícius Rondon.

Diante de números tão altos, a quantia de R$ 1,87 milhão gasta com atendimento médico a vítimas da violência pode parecer pouco. Mas não é. "Essas despesas representam 2,83% de todos os repasses feitos pelo SUS para Belo Horizonte", lembra o pesquisador. A distorção fica ainda maior quando se sabe que são masculinas 86% das internações motivadas pela violência. Segundo Vinícius, isso remete para uma outra estatística importante: a expectativa de vida entre os homens da capital. "Se não houvesse a violência atual, os belo-horizontinos poderiam ganhar um ano a mais de vida, passando de 68,2, em média, para 69,2", compara. Para as mulheres, o fim da violência representaria um acréscimo de 0,19 ano (70 dias) na expectativa de vida.

Outra distorção apurada pelo estudo de Vinícius Rondon reside no fato de que os maiores investimentos em segurança são feitos pelo poder público, mas 36% dos gastos vão para o pagamento de inativos. "Isso quer dizer que mais de um terço dos recursos não são utilizados diretamente no combate à violência atual, mas em serviços já prestados", observa.

Pega ladrão!

Na outra ponta da violência, os furtos e roubos e as perdas de renda potencial das vítimas fatais tiram da economia R$ 401 milhões todos os anos. Para se ter uma idéia, de 1999 a 2001, foram roubados 26 mil veículos em Belo Horizonte. Vinícius Rondon faz as contas: "Considerando que os ladrões visam carros mais valiosos, e que cada automóvel vale, em média, R$ 10 mil, veremos que só em carros foram roubados R$ 260 milhões no período".

Melhorar os índices depende de muitas variáveis e pode não ser um trabalho fácil, mas é possível, na opinião de Vinícius Rondon. "Vai depender, principalmente, de uma nova atitude política", argumenta. Segundo o pesquisador, cada R$ 1 gasto em políticas sociais equivale a R$ 5 aplicados no combate direto à violência. Vinícius Rondon alerta, entretanto, que os políticos e a sociedade têm pressa. "Os resultados de investimentos sociais são mais lentos e, às vezes, podem não aparecer em quatro anos", lamenta.

Violência afeta preço de aluguel

Os aluguéis no centro da capital mineira não caem ano após ano apenas por causa do envelhecimento dos prédios da região. A violência também atua na depreciação dos imóveis, segundo Vinícius Rondon. Na segunda parte de seu trabalho, ele mostra que, se a taxa de homicídio da área caísse à metade, o preço de locação de um apartamento médio (três quartos) poderia sofrer correção de cerca de 12%. No Cabana, a queda da violência implicaria reajuste de, aproximadamente, 7%. "Para chegar a essas conclusões, trabalhei com diversas variáveis, além da taxa de violência", esclarece o pesquisador, lembrando que utilizou informações sobre a qualidade do acabamento do imóvel, a existência de garagem e o número de quartos.

Dissertação: Custos da criminalidade no município de Belo Horizonte: duas abordagens sobre as perdas de bem-estar
Autor: Vinícius Velasco Rondon
Orientadora: Mônica Viegas Andrade
Unidade: Faculdade de Ciências Econômicas
Data: 4 de fevereiro de 2003

Composição dos custos da criminalidade em Belo Horizonte


Composição dos gastos em segurança pública / Minas Gerais (2000)