Busca no site da UFMG




Nº 1384 - Ano 29 - 13.02.2003


UFMG adota medidas para regularizar
uso de softwares

Carla Maia*

tividade ilegal, a pirataria de softwares pode resultar em
enormes prejuízos financeiros às instituições que a praticam. A lei 9.609/98 prevê multa de até três mil vezes o valor de cada programa-pirata encontrado nos computadores. Para se precaver de sanções como esta, a Diretoria de Tecnologia da Informação (ATI), através do Centro de Computação (Cecom) da UFMG, vem adotando medidas para o correto licenciamento de softwares na Universidade.

As medidas incluem a compra, há mais de três anos, de sete mil licenças do pacote Smartsuite, da Lotus, cujas funcionalidades são equivalentes às do pacote Office da Microsoft. O número é suficiente para toda a Instituição. Segundo o diretor de Tecnologia da Informação da UFMG, Márcio Bunte, "a Diretoria vem-se esforçando para fazer com que toda a infra-estrutura de Tecnologia de Informação da Universidade trabalhe com softwares legalizados".

Na opinião de Carlos Alfeu, diretor do Cecom, a decisão é muito importante, tanto do ponto de vista operacional quanto ético. "Escolhemos trabalhar com a Lotus por motivos econômicos e estratégicos. Os programas, além de mais baratos, representam nossa política de legalização", esclarece Alfeu. Para utilização dos programas da Lotus, a ATI, em parceria com a Pró-Reitoria de Recursos Humanos, oferece programas de treinamento aos funcioná-rios. Só em 2002, foram treinadas mais de 300 pessoas. Além do Smartsuite, o Cecom tem divulgado e distribuído softwares livres, como o Linux, os pacotes de escritório StarOffice e OpenOffice e os programas utilitários para antivírus e compactação de arquivos. "Os gastos em licenciamento seriam absurdos. Com um software livre, os custos diminuem significativamente", explica Alfeu.

Solar

Recentemente, foi criado, no Instituto de Ciências Exatas (ICEx), o Centro de referência do software livre (Solar). O núcleo tem o objetivo de fomentar o uso do software livre, através da formação de mão-de-obra, pesquisa de plataformas eficientes, desenvolvimento de serviços e aplicações, implantação de ambientes de teste e avaliação, e elaboração de arquiteturas de referência, recomendações e normas. O professor Sérgio Campos, um dos coordenadores do Centro, explica que "a discussão acerca dos softwares livres é antiga e tem ganhado corpo e força. Eles representam uma alternativa ao monopólio, que nos faz dependentes das grandes multinacionais". De acordo com Campos, o objetivo do Solar é impulsionar, ampliar e consolidar o uso do software livre na comunidade acadêmica. "Já desenvolvemos um programa para Linux que opera de maneira muito similar ao Windows, mas dentro da lógica do software livre", informa.

O Solar criou em sua página na Internet uma lista de discussão para receber contribuições e estimular o debate sobre o software livre. Basta acessar o endereço www.solar.ufmg.br.

 

Softwares livres opõem-se à "obsolescência controlada"

Uma das principais contribuições dos softwares livres está no fato de funcionarem como contraponto à política de "obsolescência controlada", instituída por empresas como a Microsoft, que, rápida e constantemente, substituem os próprios programas por novas versões. "É o fabricante quem determina o tempo de uso de um software. O usuário apenas recebe as informações sobre o que já está ultrapassado", diz o professor Sérgio Campos.

O uso de softwares livres, além de oferecer resistência ao interesse de grandes fabricantes, envolve sérias discussões econômicas, políticas e sociais. Grande parte dos computadores do mundo são controlados por sistemas operacionais proprietários, softwares que pertencem a empresas privadas. A líder na área é a Microsoft, criadora do Windows. Na maioria dos casos, o licenciamento de determinado software permite seu uso apenas em um computador, e sai por custos bastante elevados. Os produtos só podem ser utilizados pelos usuários após o pagamento de uma licença.

Além disso, as empresas não disponibilizam os códigos-fontes, o que impede qualquer adaptação no software original. "Muitas vezes, paga-se caro por aplicativos que nunca serão usados", afirma Sérgio Campos. No final das contas, poucas pessoas dispõem-se a comprar o produto autêntico e recorrem a cópias ilegais. E, por incrível que pareça, até a pirataria favorece as empresas. "Quanto mais pessoas utilizarem o programa em casa, mais ele se torna unanimidade", argumenta Campos.

Com o software livre, a situação é diferente. Ao disponibilizar gratuitamente os códigos-fontes, o sistema permite a manipulação e o uso diferenciado dos programas. A comercialização de um software livre não é proibida, desde que seja fornecido o seu código-fonte. "Assim, paga-se pelo serviço do programador que formatou o programa, que desenvolveu o software, e não por um produto cheio de aplicativos que só o encarecem e, por vezes, são inúteis" argumenta Carlos Alfeu, do Cecom.


Um software livre concede o direito ao uso gratuito e à reprodução irrestrita, além da liberdade para adaptar o programa a necessidades específicas. Isso porque ele disponibiliza seus códigos-fontes, o que não acontece com os softwares proprietários, que utilizam códigos-fontes fechados e, normalmente, exigem a compra de licenças de uso.

 

*(Colaborou Maurício Guilherme Silva Júnior)