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Nº 1425 - Ano 30 - 05.2.2003


O som do escurinho do cinema

Dissertação da EBA pesquisa formatos sonoros e sua importância para a sétima arte

Andréa Hespanha

 

magine o tubarão de Steven Spielberg perseguindo suas vítimas sem o embalo da trilha sonora que, há quase 30 anos, apavora cinéfilos em todo o mundo. Certamente, o realismo daquelas cenas ficaria comprometido, e o tubarão talvez tivesse mais dificuldades para sustentar aquela imagem de animal aterrorizante.

 

Tubarão é apenas um exemplo do poder do som - recurso tão importante quanto a imagem - na construção de uma atmosfera envolvente para filmes de qualquer gênero. "O som reforça a imagem para fazer o público acreditar no filme", afirma o pesquisador Nélio Costa, autor da dissertação O surround e a espacialidade sonora no cinema, na qual pesquisa principalmente os formatos de som multicanal digitais do cinema (Dolby Digital, DTS e SDDS).

O estudo de Nélio Costa, desenvolvido na Escola de Belas-Artes, faz uma descrição técnica dos três formatos multicanais. Para isso, ele realizou um levantamento dos marcos históricos do som no cinema, que incluem desde os primeiros filmes falados até as mudanças provocadas pelos atuais formatos digitais de som no processo de produção cinematográfica.

Três momentos da trajetória cinematográfica são abordados pelo estudo. O primeiro é em 1927, quando o filme O cantor de jazz, dirigido por Alan Crosland, surpreendeu as platéias ao inaugurar nas telonas cenas em que o som das falas acompanhavam os personagens. Nos anos 70, foi a vez do Dolby Stereo, ainda um formato de som analógico, mas com melhor qualidade, que se consolidou com o primeiro filme da série Guerra nas Estrelas. Já o moderno áudio digital multicanal apareceu pela primeira vez em 1992 no filme Batman, o Retorno, de Tim Burton. Surgia aí o formato Dolby Digital, marco da evolução sonora do cinema. "Outra referência importante é o clássico de Francis Ford Coppola, Apocalipse Now, de 1979", acrescenta Nélio Costa. O filme, que ganhou o Oscar na categoria Melhor Som, chamou a atenção com a cena em que os helicópteros tocam a Cavalgada das walquírias, de R. Wagner, antes de iniciarem um ataque.

Superando crises

"Nos momentos de crise do cinema, foi o som quem o levantou e o fez recuperar seu público", afirma Nélio Costa. Ele argumenta que, passada a euforia do advento da sétima arte, no final do século 19, o cinema precisou de estímulo para continuar atraindo multidões. Foi nesse contexto que, na segunda metade dos anos 20, a imagem do cinema alia-se ao som, parceiro de quem nunca mais se separaria. Na década de 50, o cinema sofre novo revés, dessa vez imposto pelo aparecimento da televisão, que passou a permitir que a produção imagética fosse levada para dentro de casa. Mais uma vez, diz Nélio Costa, o som, agora com o multicanal magnético, ajudou o cinema a superar mais uma crise e a recuperar seu público. "O som, que antes passava ao espectador a sensação de vir de frente, unidirecional, agora cria envolvimento e aumenta o caráter realista dos filmes", acrescenta. Hoje, mais do que nunca, a maioria das emoções dos amantes de cinema são induzidas pelo som.

 

Surround refere-se às sensações de espacialidade sonora no cinema e na música e aos formatos de som multicanal que causam essas sensações. Quando é envolvido em campo sonoro abrangente, o ouvinte é transportado para uma paisagem que reforça a dramaticidade, o enredo e o realismo do filme.


Título: O surround e a espacialidade sonora no cinema
Aluno: Nélio José Batista Costa
Defesa: 28 de janeiro, no auditório da Escola de Belas-Artes
Orientadora: Ana Lúcia Andrade