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Nº 1432 - Ano 30- 01.4.2004

 

Boi manso


Pesquisa da Escola de Veterinária desenvolve novo método para analisar o temperamento do rebanho bovino

Jurandira Gonçalves

ebanhos mais dóceis, de melhor manejo, com maior facilidade para ganhar peso e com carnes mais macias. Isso é tudo que estudiosos e criadores de gado querem. E foi isso que motivou a pesquisadora Walsiara Estanislau Maffei, da Escola de Veterinária, a desenvolver um método para analisar o temperamento de bois e que resultou numa dissertação recentemente defendida na Escola de Veterinária.

O estudo baseia-se no uso de um dispositivo eletrônico acoplado a uma balança móvel e na análise dos dados por ele coletados. Quando o animal entra na balança, o dispositivo mede suas oscilações de movimento e quantifica essa movimentação em tempo e freqüência. "De acordo com esses dados observados, que servem de base a uma análise, os animais recebem uma pontuação. Quanto maior a movimentação, maior será a pontuação, e mais agressivo é o temperamento do animal", explica Walsiara Maffei. O método recebeu o nome de Reatividade animal em ambiente de contenção móvel. O trabalho foi desenvolvido em fazendas do Mato Grosso do Sul e envolveu 610 animais da raça Nelore.

A elaboração do dispositivo, desenvolvido em parceria com o departamento de Engenharia Mecânica da UFMG, e a utilização do método resultaram na descoberta de uma característica denominada reatividade, indicadora do temperamento animal. "Moldado por um conjunto de características, o temperamento representa a reação de medo do animal quando manejado no dia-a-dia", explica Walsiara.

Quanto maior a pontuação atingida pelo animal durante o teste na balança, maior será sua reatividade, que tem relação direta com a produtividade, fertilidade (mobilidade do sêmen e produção de espermatozóides viáveis) e com a reprodutividade (taxa de prenhez e número de concepções). Animais altamente reativos possuem carnes mais duras, engordam menos e têm mais dificuldades de procriação.

Melhoramento genético

Comprovada a eficácia do método, a característica "reatividade" será incluída nos programas de seleção de melhoramento genético realizados no Brasil. Isso poderá ajudar a reverter uma situação muito comum no país, onde 80% do rebanho é de zebuínos, das raças Nelore, Tabapuã, Gir e Guzerá, consideradas mais agressivas que as raças taurinas, de origem européia. "No Brasil, as pesquisas sobre o temperamento animal são escassas e sofrem algumas limitações. Os pecuaristas estão mais preocupados com aspectos produtivos e deixam de lado características que também interferem no ciclo de produção e na rentabilidade da atividade", conta Walsiara Maffei. "Se selecionarmos animais menos reativos, poderemos diminuir a agressividade nos rebanhos zebuínos", completa.

O método dará maior precisão aos programas de seleção de rebanho, que hoje escolhem os melhores animais de acordo com a dicotomia docilidade/agressividade. Os mais dóceis acabam selecionados, e os mais agressivos, descartados. "Com a introdução dessa nova variável, a reatividade, os animais poderão ser classificados em grupos mais específicos, já que a escala de pontuação é muito ampla, variando de 1 a 2.218 pontos", diz a pesquisadora. Essa classificação mais focalizada, acrescenta Walsiara, permitirá aos produtores direcionar os animais para atividades adequadas ao seu temperamento, com melhor aproveitamento de grupos que poderiam ser descartados numa avaliação menos acurada.

A reatividade apresenta um outro componente, conhecido como variança genética aditiva, que interessa muito aos selecionadores. Através dele, é possível prever como será o temperamento das novas gerações dos animais, pois, em geral, estes dão origem a filhotes com a reatividade semelhante à sua.

A autora explica que o método é uma alternativa rápida, precisa e objetiva para quantificar a reatividade. Ele foi patenteado pela UFMG, e a perspectiva é de que chegue ao mercado em dois anos. No entanto, o protótipo-piloto está disponível para produtores que queiram incluir seus rebanhos no grupo de testes. Mais informações sobre a técnica e sobre como participar do projeto pelo e-mail wemaffei@uol.com.br.

Dissertação: Reatividade animal em ambiente de contenção móvel -
um método alternativo para quantificar o temperamento bovino
Autora: Walsiara Estanislau Maffei
Orientador: Professor José Aurélio Garcia Bergmann
Defesa: 19 de fevereiro de 2004
Unidade: Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, da Escola de Veterinária