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Nº 1432 - Ano 30 - 01.4.2004

 

 

A todo vapor, apesar da crise


Ana Lúcia Almeida Gazzola *

s universidades federais, entre elas a Federal de Minas Gerais, de dezembro para cá, têm estado presentes com uma freqüência inusitada nos meios de comunicação de todo o Brasil. De forma geral, reportagens amplas e bem documentadas abordam as dificuldades pelas quais passam, sem exceção, as instituições federais de ensino superior. Trazem ao conhecimento da sociedade o arrocho orçamentário em curso e o inevitável déficit daí decorrente. Se, de um lado, a situação das instituições é dramática, de outro, é mais que desejável que temáticas relacionadas ao ensino superior público no país passem a fazer parte da agenda dos debates nacionais. Ora, cenários sociais são ocupados por interesses os mais diversos e, não poucas vezes, conflitivos. Assim sendo, a chamada crise das universidades federais no Brasil vem sendo objeto de análises e comentários variados, nem sempre próximos dos fatos. À luz disto, julgamos procedente que alguns esclarecimentos sejam feitos de modo que o debate seja proveitoso e capaz de encaminhar as soluções necessárias.

A UFMG continua com o vigor de sempre. Novos cursos são criados na graduação e na pós-graduação. Ocupam os primeiros lugares em quaisquer processos avaliativos. Os indicadores de qualificação institucionais _ da titulação do corpo docente à produtividade acadêmica _ não cessam de crescer. É muito mais do que razoável a participação das universidades federais na pesquisa nacional, e o papel da UFMG nesta área é proeminente. Em Minas Gerais, a Instituição é responsável por 54% das pesquisas realizadas. O nosso corpo discente tem crescido regularmente nos últimos anos. Os nossos programas de extensão ganham, a cada ano, em qualidade e abrangência. Somos conscientes das nossas responsabilidades enquanto instituição pública, o que se reflete, por exemplo, em nossas tentativas de criar redes nacionais de universidades e em medidas favorecedoras de inclusão social, como atesta o esforço de abertura de cursos noturnos.

Quarenta e um por cento dos alunos aprovados no vestibular 2004 são provenientes de escolas públicas: apenas em quatro dos nossos 59 cursos o número de alunos originários de escolas públicas é inferior a 20%. No último vestibular, 29% dos aprovados declararam-se negros/pardos. Programas ambiciosos de bolsas discentes, assistência aos alunos carentes, estruturas curriculares flexibilizadas e enriquecidas são, entre tantas outras, provas da vitalidade desta Instituição.

O campus Pampulha é hoje um canteiro de obras. O sonho, presente já na fundação da Instituição, em 1927, de reunir num só espaço os prédios da Universidade, nunca esteve tão próximo. A isto, acrescente-se o fato de que é grande o contingente dos que aqui são formados na graduação e na pós-graduação e que viabilizam a qualidade das instituições privadas de ensino superior. Assim procedendo, não estamos senão procurando cumprir os nossos de veres enquanto instituição pública num país que só encontrará o desejado desenvolvimento com um sólido parque científico, tecnológico e cultural.

Num estado democrático, as universidades públicas devem ser modelares. Aqui deve ser feita a pesquisa mais avançada, aqui devem ter lugar os melhores cursos, aqui a sensibilidade social deve ser mais aguçada. De resto, são estes os valores que podem ser verificados na história da universidade pública brasileira e, sobretudo, na história da Universidade Federal de Minas Gerais.

Atravessamos uma crise? Certamente. É este imenso patrimônio, constituído ao longo de uma história marcada pela coragem e pelo sacrifício, que está sob risco. É esta qualidade acadêmica ímpar que está ameaçada. Ao diminuir o número de bolsas discentes, ao perder parte de nossos funcionários terceirizados, ao diminuir ao máximo os nossos gastos, certamente viveremos um ano muito difícil e veremos ameaçada a nossa qualidade acadêmica. É mais do que necessário que a gravidade do momento atravessado pela Universidade ganhe o espaço do debate público e que a diversidade dos interesses seja amplamente explicitada.

De nossa parte, professores, funcionários e alunos da Universidade Federal de Minas Gerais estamos certos de que o desenvolvimento da nação brasileira depende de uma universidade pública cada vez mais qualificada e atenta aos desafios apresentados pela nossa história. É nossa responsabilidade lutar para que estes valores, conquistados graças às gerações que moldaram esta Instituição, continuem a balizar a vida da Universidade. E, não se iludam os apressados detratores da universidade pública, lutaremos.

* Reitora da UFMG
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