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Nº 1432 - Ano 30 - 01.4.2004

Ciência sem fronteiras

Tese de doutorado do ex-diretor científico da Fapemig mapeia as redes cooperativas de pesquisa em Minas

Murilo Gontijo


iologia e informática, russos e norte-americanos. A ciência contempo rânea tem aversão a fronteiras e avança em redes cooperativas transdisciplinares. Mas o que favorece e o que prejudica a constituição dessas redes? Mais: o que as caracteriza? Pela primeira vez, o Brasil articulou respostas para essas questões, através da tese de doutorado Atividades cooperativas de pesquisa científica e tecnológica em Minas Gerais: projetos, redes e consórcios, defendida por Afrânio Carvalho Aguiar, professor aposentado da Escola de Ciência da Informação e diretor científico da Fapemig no período de 1992 a 2000. Foram avaliadas 79 redes de pesquisa mineiras nas quais atuam 673 pesquisadores.

Vasta, ao mesmo tempo em que descreve as redes de pesquisa, a tese cria um modelo teórico de análise e aplica parte dele na verificação de aspectos do funcionamento dos grupos cooperativos. Para isso, o autor elaborou 40 itens distintos de análise. "Dentre outros, identifiquei coordenadores e participantes das redes, quem as financia, quando elas foram criadas, quantos projetos executaram e os resultados alcançados", exemplifica Afrânio Aguiar.

Com tantas variáveis entrecruzadas, o retrato tem foco preciso. Deixa claro, por exemplo, que as redes são importantes para introduzir novos grupos em assuntos de fronteira científica, apesar de serem um fenômeno recente. "Minha pesquisa mostra que 60,7% das redes mineiras foram constituídas depois de 1998", frisa o pesquisador. Ponto para as áreas de agronomia, engenharia metalúrgica e metalurgia, as que mais se aglutinam para desenvolver pesquisas, de acordo com a tese. Depois delas, vêm ciência dos mate-riais e química. Dentro das redes, 82,3% dos pesquisadores têm o título de doutor, 13,4% são mestres, e 2,6%, especialistas. Em contraste, 70% dos cientistas mineiros são doutores. "A presença de doutores nas redes é muito maior", compara Aguiar, lembrando que a maioria esmagadora (70%) dos pesquisadores envolvidos com redes de estudos tem mais de 15 anos de experiência investigativa, e 62% deles são ligados a universidades.

Altruísmo

Ao criar redes cooperativas para pesquisas, os estudiosos, antes de mais nada, buscam agregar competências exteriores que reforcem as capacidades do grupo. Além disso, eles estão dispostos a trabalhar conjuntamente, mesmo quando há assimetrias científicas entre os parceiros, o que não impede a estabilidade do processo produtivo: "Há certo altruísmo", atesta Afrânio Aguiar. Outra surpresa é que o principal instrumento de intercâmbio de informação nas redes não é a Internet, como poderiam arriscar os desavisados: "Eles trocam dados, principalmente, em conversas pessoais, trabalhos em co-autoria e, só depois, através da Internet", esclarece o professor Aguiar.

Isso não quer dizer que os pesquisadores estejam indiferentes à rede mundial de computadores. A comprovação: apenas cinco deles responderam o questionário impresso aplicado por Afrânio.

"Todos os outros 300 enviaram suas opiniões pela Internet", diz o pesquisador. Quanto aos empecilhos que dificultam o trabalho das redes cooperativas, os pesquisadores entrevistados apontaram vá-rios procedimentos das agências financiadoras, como intermitência de repasse de recursos e inflexibilidade para alterações nos projetos.

Tese: Atividades cooperativas de pesquisa científica e tecnológica em Minas Gerais: projetos, redes e consórcios
Autor: Afrânio Carvalho Aguiar
Defesa: 16 de fevereiro de 2004
Programa: Doutorado do Centro de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Cepead) da Face. A tese está disponível para cópia na página do Cepead: www.cepead.face.ufmg.br
Orientador: Carlos Alberto Gonçalves

Quase um terço das redes estão na UFMG


A pesquisa do professor Afrânio Aguiar revela que 31,15% dos pesquisadores que atuam em redes científicas em Minas estão na UFMG. Um dado muito próximo ao do CNPq, que aponta que 34,5% da força de pesquisa estadual está concentrada na Universidade. Entre as cinco instituições com maior número de pesquisadores vinculados a redes figuram ainda o Cetec e as universidades federais de Viçosa, Lavras e Ouro Preto. Confira.

 

Participação de pesquisadores em redes e projetos cooperativos, por entidade

Instituição

Número de participantes em redes

Percentual

UFMG

209

31,15%

Cetec

55

8,20%

UFV

54

8,05%

Ufla

32

4,77%

Ufop

31

4,62%