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Do bule para o tanque
UFMG pesquisa café como matéria-prima para obtenção do biodiesel
Ana Maria Vieira
maturos,
negros e ardidos não entram. O que parece uma regra formulada pelo
preconceito nada mais é que o padrão de qualidade estabelecido
para o aproveitamento de grãos no beneficiamento do café tipo
exportação. Classificados como defeituosos, sua incidência
chega a representar 20% das colheitas e, freqüentemente, é possível
encontrá-los misturados aos grãos sadios para venda no mercado
interno. A receita não é boa e resulta numa bebida de pior
qualidade. Mas um novo destino está sendo traçado para esses
grãos: por sugestão do Sindicato das Indústrias do
Café de Minas Gerais (Sindcafé), professores da Escola de
Engenharia iniciaram pesquisa sobre a viabilidade de seu aproveitamento
para a produção de biodiesel*.
Os estudos são financiados pela Fapemig, que aprovou, em 2003, a
liberação de R$ 30 mil. O valor destina-se ao custeio
de pequena escala de trabalho em laboratório, informa uma das
coordenadoras da pesquisa, a professora Adriana Silva França, do
departamento de Engenharia Química. O trabalho consiste em realizar
a extração do óleo, isolar impurezas e verificar a
viabilidade de seu uso para a produção do combustível.
O método vale-se de solventes, indicado para sementes de baixo teor
de óleo, como as do café.
Estima-se que, de cada 100 quilogramas de café, é possível
obter 12 quilogramas de óleo. Apesar de produzir pouco óleo
– a soja fornece 20% e o babaçu 60% de sua massa –, o
café possui vantagens em relação a outras oleaginosas,
sobretudo devido ao volume de sua produção e ao custo reduzido
do processo de aproveitamento dos grãos defeituosos, cuja separação
já ocorre no beneficiamento convencional.
Rede organizada
O fato de o café ser uma cultura consolidada, que conta com ampla
rede de agricultores e empresários organizados, é outro fator
importante para o aproveitamento dos grãos como combustível
biodegradável. Diversificar o destino dos grãos também
interessa aos cafeicultores devido à queda sistemática dos
preços do café no mercado internacional nas últimas
décadas.
A utilização de grãos de culturas regionais poderia
ser o caminho mais curto para o Brasil obter sucesso na produção
de matérias-primas para o biodiesel, avalia o professor Leandro Soares
de Oliveira, do departamento de Engenharia Química que, junto a Adriana
França, coordena a pesquisa na área. Ele observa que a instalação
de unidades regionais de produção de biodiesel utilizando
oleaginosas locais, além de reduzir custos, permitiria gerar novos
empregos e facilitaria o escoamento do produto para a própria comunidade.
Minas Gerais responde por quase metade da produção nacional
de café, e o Brasil é o líder mundial. Só em
2004, o país colheu cerca de 2,15 milhões de toneladas de
grãos estima-se que 430 mil defeituosos, o que daria para extrair
41,24 mil toneladas de óleo para biodesel.
O
consumo de diesel no Brasil chega a 40 bilhões de litros ao ano.
“Com a regulamentação, que autoriza a mistura de 2%
do biocombustível ao diesel, o mer-cado precisará produzir
800 milhões de litros de biodiesel ao ano”, calcula o professor
Inácio Loiola Campos, do departamento de En-genharia Nuclear da Escola
de Engenharia.
De acordo com Leandro de Oliveira, o aproveitamento de grãos de culturas
regionais como matéria-prima de combustíveis pode ajudar a
fortalecer uma mentalidade de pesquisa em biodiesel no país. Além
dos centros de pesquisa da Petrobras e do Cetec, que desenvolveram tecnologia
na área, há, segundo o professor, dois grandes grupos sediados
na USP e UFRJ, que estudam biocombustíveis a partir de diversas fontes.
“As competências estão sendo formadas”, analisa
Oliveira, que participa da estruturação do laboratório
de biodiesel na Escola de Engenharia e de novo grupo de pesquisa na UFMG
sobre biocombustível, ao lado de Adriana França, Inácio
Loiola e Ramón Molina, este do departamento de Engenharia Mecânica.
O objetivo é expandir a pesquisa com diversas matérias-primas
e desenvolver projeto para implantação, na Universidade, de
unidade de produção de biocombustíveis.
Sobre a importância da pesquisa na área, Inácio Loiola
lembra que o peso do petróleo e da eletricidade de origem hidráulica
é muito alto na matriz energética do Brasil. “Se houver
nova crise, o país poderá amargar graves conseqüências”,
prevê o professor. Loiola desenvolve tese de doutorado em que compara
o combustível fóssil ao biodiesel obtido a partir de várias
oleaginosas. As variáveis analisadas são emissão de
poluentes, desempenho do motor e oxidação do biodiesel, freqüente
90 dias após sua produção. Quando isso ocorre, ele
tem suas características alteradas e pode causar danos ao motor e
ao meio ambiente.
Derivado de óleos vegetais ou de gorduras animais, é um combustível para motores a combustão interna com ignição por compressão, renovável e biodegradável, capaz de substituir parcial ou totalmente o óleo diesel de origem fóssil. Ele permite reduzir, drasticamente, a emissão de poluentes na atmosfera. A indústria automobilística já possui cronograma para converter motores de carro de passeio para diesel, o que aumentará sua vida útil e o consumo de biodiesel no país.
Legenda foto: Adriana França, da equipe que pesquisa o biodiesel na UFMG
Foto: Foca Lisboa