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Nº 1468 - Ano 31 - 13.1.2005

UFMG, CDTN e Funed pesquisam efeitos da irradiação de alimentos

Uso da tecnologia melhora qualidade e abre portas para produtos brasileiros no exterior

Ana Rita Araújo

s efeitos são diferentes, mas muitos consumidores – até os mais esclarecidos – ainda confundem irradiação com radioatividade*. Para os cientistas, o preconceito e a desinformação prejudicam o uso da irradiação por raios Gama, tecnologia capaz de prolongar o tempo de exposição de frutas e legumes, além de controlar microorganismos em alimentos como carnes, milho, leite, café e ervas medicinais.

Já aplicada na Europa, a irradiação “é absolutamente segura, não tendo ainda sua utilização disseminada devido ao medo e à rejeição por parte dos consumidores em algumas partes do mundo”, afirma Alexandre Soares Leal, pesquisador do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN). Ele coordena trabalho de parceria entre CDTN, UFMG e Fundação Ezequiel Dias (Funed), financiado pela Fapemig, que pretende avaliar a segurança de alimentos irradiados.

“A irradiação já é exigida em vários países importadores de alimentos. Podemos prestar um serviço aos produtos brasileiros, ao definir as condições e o controle de qualidade do processo”, afirma a professora Vany Ferraz, do departamento de Química do ICEx/UFMG. Além da Química, há pesquisadores das áreas de Física e Biologia envolvidos no projeto.


Alexandre Leal, do CDTN: tecnologia segura

Aplicação

A freqüente incidência de toxinas em produtos agrícolas representa grande impacto negativo na economia, especialmente nos países em desenvolvimento, onde técnicas adequadas de cultivo, colheita, pós-colheita e armazenamento são raramente praticadas. Calcula-se que durante o armazenamento ocorre perdas de 10% de cereais, 40% de legumes e frutas e 75% de grãos. No caso das carnes, as perdas são ainda maiores por serem particularmente sensíveis aos ataques enzimáticos e microbiológicos.

“A tecnologia por irradiação pode ser uma resposta à ­necessidade de preservação e melhoria da qualidade dos alimentos”, afirma Alexandre Leal, ao lembrar que, com a crescente procura por alimentos seguros, esta tecnologia já vem sendo utilizada em 37 países. A irradiação elimina ou diminui as toxinas e os fungos que as produzem e reduz a população de microorganismos a um nível aceitável para consumo humano.

A pesquisa coordenada por Alexandre Leal pretende detectar a eficácia da irradiação em produtos cultivados no Brasil, determinando como a técnica inibe ou elimina fungos e toxinas dos alimentos. Outro objetivo é avaliar as diferentes metodologias utilizadas para identificar os subprodutos da irradiação, os chamados radiolíticos. “Os países importadores compram o produto irradiado, mas exigem ser informados sobre o processo. Por isso, é necessário definir os métodos mais adequados para identificar se um alimento foi ou não irradiado e com que dosagem”, explica Alexandre Leal.
Nesta pesquisa, os alimentos são irradiados no CDTN – que possui uma fonte de Cobalto 60 – e as amostras, submetidas a análises químicas, físicas e biológicas pelos demais pequisadores.

Segurança alimentar

“Um alimento submetido aos raios Gama não se torna radioativo, apenas sofre uma irradiação momentânea”, explica o pesquisador Alexandre Leal, comparando a irradiação ao processo de aquecimento de alimentos em microondas.

Leal acredita que a aceitação do alimento irradiado está relacionada ao nível de informação e conhecimento sobre a técnica. Por isso, ressalta, é fundamental difundir a tecnologia de irradiação e informações e métodos de detecção práticos, seguros e de larga aplicabilidade, “de modo a ampliar a aceitação e a confiança do mercado consumidor em relação a esta tecnologia”. Segundo ele, observa-se até uma tendência mundial de se pagar mais caro por produtos irradiados. “Nos Estados Unidos, a propensão do consumidor para comprar alimentos irradiados aumentou de 57% para 83% a graças uma campanha educativa”, exemplifica Alexandre Leal.

Pesquisa: Avaliação da segurança alimentar de derivados de milho, leite, café e ervas medicinais tratados por irra­diação Gama: contaminação fúngica, micotoxinas e detecção de produtos radiolíticos
Equipe: Alexandre Soares Leal (CDTN), Vany Perpétua Ferraz (UFMG), Raquel Gouvêa dos Santos (CDTN), Klaus Krambrock (UFMG), Guilherme Prado (Funed), Jovita Eugênia Gazzinelli Cruz Madeira (Funed), Marize Silva de Oliveira (Funed), Vanessa Andréa Drummond de Morais (Funed), Ionara Fernanda Rezende Vieira (doutoranda em Engenharia Química da Unicamp) e Patrícia Maria Barragán Frattezi (graduanda em Química e bolsista de Iniciação ­Científica do CDTN)
Financiamento: Fapemig

*A irradiação é o processo segundo o qual determinado material é submetido ao tratamento pela radiação – pode ser ionizante ou não, dependendo da sua energia. No caso dos alimentos, eles são tratados normalmente por radiação gama do elemento cobalto 60. O tratamento por irradiação, portanto, não torna o alimento radioativo.

Já a radioatividade é a capacidade de certos elementos de emitirem radiação ionizante dos tipos alfa, beta e gama. Esses elementos podem ser encontrados na natureza ou produzidos artificialmente, como os chamados transurânicos (elementos mais pesados
que o urânio).