Busca no site da UFMG




Nº 1472 - Ano 31 - 17.2.2005

ICB cultiva "floresta social" no Norte de Minas

Com fotos e registro instântaneo de informações, página de notícias sobre o concurso estimula acessos

Tacyana Arce


Nadja de Sá e Maria Rita Muzzi, coordenadoras de projeto
pioneiro de revegetação em Minas Gerais
Foto: Eber Faioli

esquisadores do Departamento de Botânica do ICB estão aplicando no Projeto Jaíba, no Norte de Minas, um novo conceito de recuperação de áreas degradadas. Aliando sistemas agroflorestais para produção madeireira e envolvimento da população local na gestão da área tratada, a equipe das pesquisadoras Maria Rita Scotti Muzzi e Nadja Horta de Sá é responsável pela primeira experiência de implantação de uma "floresta social" em território mineiro. O objetivo é reverter o processo de degradação permitindo, ao mesmo tempo, que a população explore a área economicamente.

Segundo as pesquisadoras, o projeto nasceu da necessidade de responder à demanda por madeira na região. A escassez do produto foi uma das conseqüências do desmatamento da vegetação nativa, a caatingueira arbórea, conhecida como mata seca. Os 203 mil hectares de floresta deram lugar às glebas irrigadas, onde predomina o cultivo de frutas. Foram mantidas duas reservas, somando 21 mil hectares, mas sete mil hectares da reserva legal acabaram devastados por incêndios e pela exploração desordenada. "Não há sociedade que sobreviva sem madeira. Para o fogão a lenha, para a cerca, caixotes, utensílios domésticos. Sem ter onde buscar madeira, a população acabou recorrendo à reserva legal, agravando a devastação", esclarece Maria Rita Muzzi.

Com a destruição da reserva legal, a reserva biológica, com 14 mil hectares, passou a ser alvo de risco. Para impedir sua devastação, uma alternativa foi fornecer à população a madeira necessária. "A população queria que plantássemos eucaliptos, mas essa monocultura empobreceria ainda mais o solo da região. Resolvemos experimentar consórcios de eucaliptos com árvores nativas, plantio já feito no Havaí e na Austrália, com espécies locais, e também no Vale do Rio Doce, com exemplares da Mata Atlântica. A idéia era permitir o restabelecimento do bioma e servir a população da madeira necessária", esclarece Nadja de Sá.

Outros frutos

Mas a experiência gerou mais frutos. Na implantação do modelo de cultivo, a adubação química foi reduzida em 40% devido às pesquisas desenvolvidas em laboratório que permitiram a inoculação de microorganismos promotores do crescimento de plantas. Além de minimizar a agressão ao solo por produtos químicos, a prática resultou numa velocidade de crescimento das plantas acima da média, o que deverá reduzir o tempo de maturação do eucalipto _ de 7 a 8 anos _ para 5 a 6 anos, antecipando o corte e o uso econômico da madeira.

Além disso, pesquisas desenvolvidas por três doutorandos e cinco mestrandos do programa de pós-graduação em Biolo

gia Vegetal do ICB revelam que, em dois anos, os indicadores físicos, químicos e biológicos da floresta recém-plantada estarão próximos dos verificados nas áreas preservadas. "Fizemos seis experimentos de consórcio de eucalipto com diferentes espécies nativas. Comparamos esses resultados com os da reserva ecológica e da área plantada apenas com eucalipto. Nas áreas mistas, verifica-se enriquecimento do solo, maior presença de microorganismos, aumento no seqüestro de carbono e da umidade", explica Maria Rita Muzzi.

Por fim, pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma das parceiras do projeto, apontou que o DNA de todo o material presente no solo da floresta está mais próximo do bioma da caatinga arbórea do que do carrasco, espécie de arbusto que infestou a área após a degradação, impedindo o renascimento da mata seca. "É um sinal de que estamos alcançando o objetivo de recuperar a vegetação nativa", comemora Nadja.

Benefícios sociais

Para os moradores da região, tão importante quanto recuperar o meio ambiente é a possibilidade de a floresta atender às suas necessidades econômicas e de lazer. Enquanto esperam a maturação do eucalipto, os moradores assumiram a gestão da floresta pela associação Oásis e já exploram a produção do mel e até criam galinhas na área. Bolsistas dos cursos de Artes Cênicas e Educação Física da UFMG já desenvolveram projetos com os moradores. Eles agora querem que a Escola de Arquitetura assuma o projeto paisagístico da floresta. "Como o nome da associação indica, a floresta é a única área verde no meio de uma região semi-árida. Eles usam o espaço para descansar, caminhar. A cada dia a floresta assume novos usos para a população", finaliza Maria Rita Muzzi.

Projeto : Florestas mistas de espécies nativas e eucalipto para recuperação ambiental e fortalecimento da agricultura no semi-árido de Minas Gerais

Parcerias : Fundo Nacional do Meio Ambiente, Instituto Estadual de Florestas (IEF), prefeituras de Matias Cardoso e Jaíba, Distrito de Irrigação do Jaíba, associações de Irrigantes do Projeto Jaíba, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Ruralminas, Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). Universidade de Uberaba (Uniube) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)