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Nº 1488 - Ano 31 - 16.6.2005


UFMG desenvolve nova geração de
bibliotecas digitais

Ana Rita Araújo

ruto de estudos acadêmicos da UFMG, começa a chegar ao mundo virtual uma nova geração de bibliotecas digitais. Maior capacidade de adaptação a inovações tecnológicas, critérios mais seguros de qualidade de conteúdo e possibilidade de oferecer serviços personalizados são algumas das características que prometem facilitar a vida de usuários e provedores.

As pesquisas, coordenadas pelo professor Alberto Henrique Frade Laender e pelo recém-doutor Marcos André Gonçalves, do Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG, devem gerar componentes de software livre* que poderão ser usados para criar bibliotecas ou para aperfeiçoar o funcionamento das já existentes.

"Esperamos estar com os dados testados e disponíveis na Internet até o final de 2006", anuncia Marcos André Gonçalves, que acaba de receber dois prêmios internacionais por seu trabalho na área. Paralelamente, Alberto Laender criou e desenvolve a Biblioteca Digital Brasileira de Computação (BDBComp), que funciona como "bancada de testes" para as pesquisas em andamento.


Marcos Gonçalves: estudos premiados
Foto: Foca Lisboa

Prêmios

Ex-aluno da Virginia Polytechnic Institute and State University (Virginia Tech), dos Estados Unidos, o cearense Marcos André Gonçalves chegou à UFMG em fevereiro deste ano como recém-doutor, com bolsa do CNPq. Ele desenvolve pesquisa sobre Extensão do arcabouço 5S para suporte à próxima geração de bibliotecas digitais no DCC.

Segundo Gonçalves, os atuais sistemas para criar e manter bibliotecas digitais são projetados em língua inglesa, além de não oferecerem facilidades de manuseio. "Trabalhamos com uma nova visão, em que os componentes de softwares comunicam-se para gerar todas as funcionalidades, ao mesmo tempo em que são facilmente adaptados para contextos específicos", explica.

O projeto também inclui a análise da qualidade de conteúdos e promete remover a ambigüidade na autoria de objetos bibliográficos. "Um dos problemas dos textos disseminados em subcoleções é a identificação dos autores, já que a grafia dos nomes não costuma ser padronizada".

A pesquisa de Gonçalves começou no doutorado - desenvolvido na Virginia Tech - com a proposta de se transformar num dos primeiros arcabouços teórico-formais para a área de bibliotecas digitais. A partir desse arcabouço, foram desenvolvidas linguagens e ferramentas visuais de modelagem, ferramentas para geração semi-automática de aplicações de bibliotecas digitais e uma caracterização da noção de qualidade para uma biblioteca digital.

O primeiro prêmio ao recém-doutor foi concedido pela Sigma Xi, Sociedade de Pesquisa Científica que possui comitês de representação em universidades, instituições governamentais e indústrias do mundo inteiro. O outro foi do próprio Departamento de Ciência da Computação da Virginia Tech, por indicação do Graduate Program Committee. Pelas premiações, Marcos recebeu certificados e cheques de US$100 e US$250 da Sigma Xi e da Virginia Tech, respectivamente.

* O software livre fundamenta-se na liberdade que os usuários têm de executar programas de computador e adaptá-los às suas necessidades. O usuário é livre também para aperfeiçoar o programa e liberar informações para o maior número possível de pessoas.

DCE ajudou a ampliar biblioteca nos EUA

O interesse acadêmico da UFMG pelas bibliotecas digitais surgiu em 2003, com um convite de parceria feito ao DCC pela universidade norte-americana Virginia Polytechnic Institute and State University (Virginia Tech). "Eles tinham a tecnologia de bibliotecas digitais e nós, boas ferramentas de extração de dados na Internet", explica Alberto Laender, ao ressaltar que o intercâmbio ofereceu à UFMG a possibilidade de dominar uma nova e importante tecnologia, abrindo campo para pesquisas e formação de mestres e doutores. O trabalho desenvolvido pelo grupo mineiro foi responsável pela ampliação da Networked Digital Library of Theses and Dissertations (NDLTD), biblioteca digital de teses e dissertações que funciona como consórcio mundial sediado na Virginia Tech. "Através de nossas ferramentas de extração de dados, buscamos conteúdos em instituições do mundo inteiro e disponibilizamos este material no padrão internacional utilizado pela NDLTD", conta Laender.

O próximo passo foi a criação da BDBComp, cuja tecnologia tem evoluído a passos rápidos. Além de oferecer facilidades como busca por autor, título, ano ou evento, navegação por coleções, resumos e textos completos, a biblioteca está implantando serviço de auto-arquivamento, em que os próprios usuários podem publicar trabalhos. "Com a descentralização, a comunidade brasileira de computação participará efetivamente da construção. Isso é importantíssimo para o sucesso de uma biblioteca digital", comenta o professor. Hoje, a BDBComp está incorporada à estrutura da Sociedade Brasileira de Computação. Segundo Laender, outra característica importante das bibliotecas digitais é a especificidade do público. "É preciso criar interfaces voltadas para a comunidade a que serve", reforça.

Laender e sua equipe também vêm desenvolvendo, por encomenda de pesquisadores do ICB, uma biblioteca digital para monitoramento de fauna e flora. O espaço virtual está sendo organizado para disponibilizar, padronizar e exportar dados coletados em diversos sítios ecológicos de Minas Gerais.

A biblioteca foi concebida para integrar os dados gerados pelo Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (Peld), rede de estudos em biodiversidade formada por 12 sítios brasileiros e financiada pelo CNPq. "A biblioteca digital BDig-Peld utiliza arquitetura de operação que possibilita a coleta descentralizada de dados e oferece serviço de busca textual combinado com busca georreferenciada", explica o mestrando Evandrino Barros, que defende, ainda este mês, dissertação sobre o tema. Sob a orientação de Laender, Barros criou versão-piloto da BDig-Peld, tomando por base dados de um dos sítios do programa.