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Nº 1518 - Ano 32
16.02.2005

Nas entrelinhas da tradução

Núcleo de Estudos da Fale utiliza tecnologia para aprimorar formação de tradutores e propõe criação de bacharelado

Ludmila Rodrigues

icionários e gramáticas são algumas das ferramentas do tradutor. Tais recursos, entretanto, não são suficientes para desenvolver a tradução ideal. As habilidades e aptidões do profissional vão além de conhecimento da língua e consultas aos livros. A tradução de um texto exige formação específica e conhecimentos científicos próprios da disciplina.

É o que defendem os professores do Núcleo de Estudos da Tradução (NET), da Faculdade de Letras, que aperfeiçoa pesquisas sobre processos da tradução e propõe a implantação do bacharelado em tradução, o segundo em Minas Gerais – apenas a Universidade de Ouro Preto oferece o curso.
Foca Lisboa

Célia Magalhães, Fábio Alves e
Adriana Pagano, do NET: linha de
pesquisa consolidada

De acordo com o coordenador do grupo, professor Fábio Alves, a linha de pesquisa já está consolidada na Fale, que conta com especialização, mestrado e doutorado em Estudos da Tradução. “A criação da graduação ainda está caminhando. A Fale tem infra-estrutura e plenas condições para ofertá-la”, garante o coordenador do NET.

Segundo o professor, os estudos da tradução têm avançado, e a UFMG é uma referência no assunto. A tecnologia utilizada no NET – um software dinamarquês de coleta de dados – permite que estudantes e pesquisadores mapeiem o processo de tradução e, a partir daí, é possível analisar o método de trabalho dos tradutores – aprendizes ou profissionais. “Com isso, podemos detectar, por exemplo, que tipo de problema os tradutores encontram nos textos e como podem ser resolvidos”, conta Fábio Alves.

Suporte
O Corpus Discursivo para Análise Língüísticas e Literárias (Cordiall) é o principal projeto do grupo de estudos. Trata-se de um banco de dados que reúne textos de diversos gêneros em língua inglesa, portuguesa, alemã e espanhola. Um dos objetivos do Cordiall é dar suporte às pesquisas sobre características de textos originais e traduções, além de padrões gramaticais e de vocabulário mais freqüentes.

Segundo a professora Adriana Pagano, pesquisadora do grupo, o conjunto de textos – retirados de contos, romances, artigos jornalísticos e acadêmicos – começou a ser compilado em 1999 e já acumula mais de um milhão de palavras. “O banco de dados gerado mostra ocorrências de palavras, freqüências, variantes das línguas e padrões de colocações”, explica a professora. O acesso ao Cordiall será disponibilizado à comunidade acadêmica ainda este semestre, já que o sistema de busca está em fase de implantação.

Também faz parte do Cordiall outro banco de dados, chamado Corprat (Corpus Processual para Análise Tradutória), que disponibiliza informações sobre o “rascunho” gerado durante o trabalho de tradução. Segundo o professor Fábio Alves, um software registra todos os movimentos do teclado. Nesse diretório são mostrados padrões de pausa do tradutor, dúvidas, palavras trocadas, entre outros aspectos. “Graças a esse acervo, podemos investigar e avaliar o conhecimento do tradutor”, conclui Adriana Pagano.

NET transpõe os muros da Universidade

Além de concentrar pesquisas e discussões sobre o campo de estudos da tradução, o NET mantém parcerias com instituições nacionais e estrangeiras. Um projeto com a Universidad Autónoma de Barcelona, na Espanha, analisa a implantação de novas tecnologias no processo de tradução.

Outros projetos, realizados em parceria com as universidades federais de Ouro Preto (Ufop) e de Santa Catarina (UFSC), relacionam, entre outros aspectos, processos lingüísticos e contextualização política. Mais de 40 pesquisadores, entre estudantes e professores, trabalham com as pesquisas no laboratório do NET.