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Nº 1519 - Ano 32
23.02.2006

Pesquisa com voluntários investiga Transtorno do Pânico

Manoella Oliveira

s causas do Transtorno do Pânico (TP) ainda são uma incógnita para cientistas de todo mundo. Mas os efeitos da doença – inclusive os sociais – começam a se tornar conhecidos. Um estudo do médico Paulo Henrique Casadei Melillo revela, por exemplo, que o índice de desempregados entre os portadores do TP é significamente maior do que entre pessoas sem o distúrbio. Essa conclusão é parte da dissertação de mestrado defendida por Melillo junto ao programa de Farmacologia Bioquímica e Molecular do ICB.

O resultado pegou de surpresa o próprio pesquisador. “É uma peculiaridade do meu estudo, não conheço outra pesquisa que traga esse tipo de evidência”, explica. “Acredito que as caracteríscas do transtorno dificultem a obtenção ou manutenção de um emprego, já que o simples fato de ter que sair de casa pode representar um problema, dependendo do estágio da doença”, avalia Melillo, que desenvolveu estudo experimental com homens e mulheres de várias idades, estados civis, níveis de escolaridade e classes sociais.

Eber Faioli

Transtorno do Pânico é uma das 12 patologias da ansiedade

Os voluntários compuseram dois grupos: um formado por 49 pacientes com TP e outro, numericamente igual, de pessoas que não apresentavam a patologia. Os voluntários foram submetidos a exames sangüíneos para análise de DNA e a entrevistas sobre sua história familiar e pessoal. O procedimento permitiu ao médico confirmar, em pacientes brasileiros, estudos internacionais – realizados com pacientes europeus, norte-americanos e asiáticos – que atribuem um papel secundário ao poliformismo genético (1) do transportador de serotonina (2) na manifestação do TP. “Isso significa que a combinação gênica responsável pela produção dos diferentes subtipos do neurotransmissor que regula a ansiedade não influencia na manifestação do Transtorno do Pânico”, detalha Paulo Melillo.

Incidência por gênero
O pesquisador também encontrou outros dados que confirmam experiênciais internacionais semelhantes. Entre os sexos, a diferença na manifestação do TP é evidente. A proporção do Transtorno entre as mulheres é três vezes superior à registrada em homens. “O TP é mais freqüente no sexo feminino, assim como os transtornos de humor, enquanto o sexo masculino é mais susceptível ao alcoolismo” informa o pesquisador, ao ressaltar que, embora a medicina ainda não tenha explicações adequadas para o fenômeno, as evidências apuradas até o momento são consistentes.

Uma análise menos rigorosa, baseada em questionário psiquiátrico sobre o histórico familiar, apresentou um número impressionante. Quase 80% dos pacientes com TP relataram pelo menos um parente de primeiro grau com distúrbio psíquico e necessidade de tratamento. “A predisposição genética é uma condição primordial para o Transtorno do Pânico, mas sua manifestação depende também do contexto em que o indivíduo está inserido. O ambiente em que ele vive pode favorecer ou inibir os sintomas do distúrbio”,conclui Paulo Melillo.

Distúrbio é resposta
a ameaças inexistentes

O Transtorno do Pânico integra um conjunto de 12 patologias caracterizadas pela ansiedade excessiva ou sem motivos aparentes. Embora os transtornos de ansiedade sejam semelhantes, o do pânico apresenta uma peculiaridade: sua manifestação central é a ocorrência espontânea de ataques de pânico, crises nervosas repentinas desencadeadas pelo Sistema Nervoso Central, que respondem a ameaças inexistentes. Os sintomas são sudorese, tremores, alucinação, falta de ar, medo da morte, dor no peito e taquicardia.

Aproximadamente 65% das pessoas que sofrem de TP também padecem de outras disfunções psíquicas. Os pesquisadores ainda não conseguiram identificar as causas do Transtorno do Pânico, mas alguns estudos indicam como hipótese mais provável o desequilíbrio na quantidade de serotonina em lugares específicos do cérebro. A partir dessa evidência, o tratamento convencional é feito com medicamentos que atuam nos neurotransmissores – a serotonina, em especial – associados a psicoterapias.


1 - Variação na seqüência de um determinado lugar no DNA que pode levar a diferentes características (cor dos olhos ou tipo de cabelo). No caso específico dos transportadores de serotonina, essas diferenças podem resultar em três subtipos de molécula. Os indivíduos que possuem o subtipo “LL” conseguem transportar a serotonina de forma mais eficiente do que aqueles em que se manifestam os subtipos “LS” ou “SS”.

2 - Neurotransmissor encontrado no cérebro que, entre outras funções, regula e afeta a ansiedade, o humor e a percepção sensorial. Acredita-se que seu desequilíbrio esteja relacionado às causas do TP.