Busca no site da UFMG

Nº 1533 - Ano 32
01.06.2006

Páginas de inclusão

Livro desvenda a relação entre a escola e crianças com deficiência

Manoella Oliveira

a década de 80, técnicos da Secretaria de Educação de Minas Gerais alarmaram-se com uma estatística: 90% dos alunos classificados como especiais vinham de camadas economicamente desfavorecidas. A constatação pôs em xeque a estrutura de ensino da época e serviu de inspiração para o livro Educação inclusiva e igualdade social, de autoria da professora Priscila Augusta Lima.

Foca Lisboa

Priscila Lima: literatura abrangente

Ex-funcionária da Secretaria e atual coordenadora do Grupo de Estudos de Educação Inclusiva e Necessidades Educacionais Especiais da Faculdade de Educação, Priscila preocupa-se com as políticas brasileiras de ensino que, apesar de caminharem para a inclusão, ainda são ineficazes na hora de incorporar alunos com deficiência.

Segundo a professora, não existe um livro de referência sobre educação especial que reúna as duas áreas de deficiências mais freqüentes, as sensoriais e as físicas. “Encontramos literaturas consistentes, mas seccionadas ou muito volumosas e caras, o que restringe o acesso. Por isso, procurei englobar as várias deficiências com que os professores lidam em sala, em uma única publicação”, explica.

A obra parte de conceitos básicos como educação inclusiva e educação especial para abordar conteúdos específicos como deficiência visual, auditiva e artificial, às quais a professora dedica capítulos detalhados. Educação inclusiva e igualdade social traz ainda indicações de alguns sites especializados e de 42 filmes relacionados ao tema.

Universalização
A partir de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN) determinou que as escolas efetuassem, sem discriminação, as matrículas de todas as crianças que se apresentassem. Essa obrigatoriedade fez com que o número de alunos com deficiência aumentasse, sem que os educadores recebessem orientações na mesma proporção. Embora o MEC e as secretarias estaduais ofereçam cursos, não há programas permanentes de capacitação de professores em educação especial. “Cada vez mais o ensino fundamental recebe crianças surdas, mudas ou com Síndrome de Down, o que projeta um problema ainda maior para o futuro. Com o passar do tempo, elas terão de procurar educação para jovens e adultos e nós não temos estrutura para isso”, adverte a professora.

Convivência é a palavra-chave para iniciar o processo de inclusão, na opinião de Priscila Lima. “Não devemos encarar as crianças como se elas fossem frágeis. É preciso estar ciente de que todos nós teremos alguma deficiência com o passar do tempo”, afirma. “À medida que as pessoas interagem, as relações sociais mudam e essa visão preconceituosa de que o outro é menos capaz desaparece”, completa.

Herança
Os índices que, nos anos 80, tanto impacto causaram nas instituições de ensino melhoraram, mas registros atuais ainda apontam a desigualdade social como fator de exclusão mais evidente. “A maioria das crianças excluídas não são deficientes, são pobres. E a maioria das crianças com deficiência também são crianças pobres”, conta a professora.

Para ela, trabalhar a inclusão de pessoas com deficiência é também uma maneira de melhorar as estatísticas da pobreza. “Tudo que realizamos pela educação inclusiva pode se tornar apenas um paliativo se a situação de desigualdade não melhorar”, alerta. Crianças de classes sociais baixas têm carência de alimentação, de saneamento e de condições adequadas para estudo, o que prejudica o seu desempenho na escola. “A criança será excluída por motivos que não se referem a uma deficiência de fato, mas por uma deficiência artificial. Ela é vítima de preconceito à medida em que esse sistema injusto se reproduz”, explica.

Estudos de Educação Inclusiva e Necessidades - Grupo da FaE, criado em 2002, que desenvolve ações relacionadas à inclusão de pessoas que tenham alguma deficiencia.

Livro: Educação inclusiva e igualdade social
Autora: Priscila Augusta Lima
Editora: Avercamp
Páginas: 176
Preço: R$ 32
Vendas: na Faculdade de Educação da UFMG e em livrarias de Belo Horizonte e de São Paulo