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Nº 1533 - Ano 32
01.06.2006

Museu quer abrigar obras de Krajcberg

Artista polonês estuda possibilidade de doar parte de seu acervo à UFMG

Kleyson Barbosa

grito do artista plástico polonês Frans Krajcberg contra a destruição da natureza ecoa nas suas esculturas produzidas com madeiras queimadas e elementos naturais retirados de mangues. Donas de estética singular, suas “árvores-poema” estão expostas em Curitiba, Paris e Nova Viçosa, cidade do sul da Bahia onde mora, e futuramente em São Paulo e no norte da Bahia. Minas Gerais, estado onde ele produziu suas primeiras esculturas – mais precisamente em Cata Branca, próximo ao Pico do Itabirito – deverá ganhar espaço semelhante. E a UFMG poderá ser o porto-seguro que o artista procura.
Eber Faioli

Frans Krajcberg visitou o Museu de História Natural: “em Minas Gerais nasceu
minha primeira escultura”

Com esse objetivo, Krajcberg esteve em Belo Horizonte no dia 24 de maio para visitar o Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG. Ele está avaliando a proposta de doação de parte do seu acervo à Universidade. Em contra-partida, a instituição criaria um espaço exclusivo no Museu para a arte de Krajcberg. “Raramente vendo minhas esculturas. Todos as obras dos espaços que tenho foram doadas. E Minas Gerais é muito importante para mim, pois foi aqui que nasceu minha primeira escultura”, disse Krajcberg, que, ao lado do diretor Fabrício Fernandino caminhou pelas áreas verdes e conheceu instalações do Museu, como o Palacinho e o Presépio do Pipiripau. “É difícil acreditar que em Belo Horizonte exista área tão bonita e verde. Contudo, creio que o espaço preciso ser reestruturado”, defende.

Segundo Fabrício Fernandino, a UFMG e o artista ainda estão “namorando” a proposta de doação do acervo. “O acervo de Krajcberg é fabuloso e ele gostaria que parte de sua obra estivesse exposta em BH, com a finalidade de divulgar a defesa da vida”. Para Fernandino, não há, na capital mineira, local mais adequado do que o Museu para a iniciativa. “Mas ainda é preciso organizar o espaço e escolher uma área específica para abrigar a arte de Krajcberg”, avalia.

Trajetória
Nascido em Kozienice, na Polônia, em 1921, Frans Krajcberg é naturalizado brasileiro. Foi combatente do Exército Soviético durante a Segunda Guerra Mundial e viveu na Alemanha depois do conflito, tendo estudado entre 1945 e 1947 na Academia de Belas-Artes de Stuttgart, como aluno do célebre Willy Baumeister, professor da Bauhaus. Krajcberg perdeu toda sua família nos campos de concentração nazistas. Apesar de possuir amigos na França e de ter adotado Paris como sua cidade cultural, decidiu mudar-se para o Brasil em 1948. Estabeleceu-se inicialmente em São Paulo, onde trabalhou como pedreiro e faxineiro até tornar-se ajudante de montagem da I Bienal de São Paulo.

Em seus primeiros anos no país, o artista dedicou-se à pintura, sob a influência do cubismo e do expressionismo. Mas ele intoxicou-se com as tintas e parou de pintar. “Foi com restos de madeira abandonados em locais de mineração que descobri pigmentos e cores naturais. Conheci a liberdade por meio da natureza”, revela.

A arte de Krajcberg demonstra uma inquietação diante a natureza, a vida e a destruição. “Eu faço tudo para gritar. O homem está acabando com o próprio homem. Estamos destruindo a vida deste planeta”, protesta. Grande parte de suas esculturas são feitas em árvores queimadas, revelando o seu estranhamento diante da devastação da natureza pelos humanos. “A escultura, os restos e o fogo – mais do que a pintura – transmitem a minha revolta”, conclui.

Museu vai consolidar Jardim Botânico


A criação de espaço para abrigar as obras de Frans Krajcberg é uma das principais ações do projeto de reestruturação do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, uma das prioridades da Universidade. No início do ano foram concluídas as reformas do Palacinho e da Casa de Arqueologia. O foco agora é a consolidação do Jardim Botânico nas dependências do Museu.

A direção do órgão quer transformá-lo num espaço interativo e de referência na cidade nos campos da ciência, cultura e lazer. As mudanças das estações do ano serão usadas como mote para planejar exposições e outras atividades. “Nossas ações ocorrerão ao longo do ano em quatro momentos distintos e nada mais adequado do que eleger as estações do ano como marco para as atividades”, explica o diretor, Fabrício Fernandino.