A matemática da bola

Site da UFMG realiza análises probabilísticas dos jogos das três divisões do campeonato brasileiro

Flávio de Almeida

imponderável sempre rondou o mundo do futebol. Tanto que Nelson Rodrigues criou o personagem Sobrenatural de Almeida, entidade metafísica a quem recorria em suas crônicas para explicar os fatos estranhos que observava nas quatro linhas.

Foca Lisboa Gilcione: previsibilidade para a “caixinha de surpresas”

O escritor certamente torceria o nariz para tentativas de enquadrar o esporte numa moldura mais objetiva, mas até a caixinha de surpresas do futebol tem lá seu grau de previsibilidade. É o que mostra o site de análises probabilísticas das três divisões do campeonato brasileiro – séries A, B e C –, idealizado por um grupo de professores do departamento de Matemática do ICEx.

Em comum, eles cultivam a paixão pela matemática e, claro, pelo futebol. São dois atleticanos, um são-paulino, um americano e outro que torce pelo Fluminense carioca. Apenas o colombiano Fábio Brochero não se liga no esporte. Engajou-se na empreitada por causa de seu conhecimento técnico. “Ele foi fundamental no planejamento da página”, reconhece o professor Gilcione Nonato Costa, um dos atleticanos do grupo.

A página foi criada no ano passado, quando as análises se restringiram aos jogos da Série A. A queda do Atlético para a segundona certamente influenciou o grupo a aumentar o seu espectro de análise, contemplando agora a segunda e terceira divisões.

Projeções
Baseado em parâmetros matemáticos, o site revela as chances que qualquer time da série A tem de vencer o título, alcançar vagas na copas Libertadores e Sul-Americana e de ser rebaixado. No caso da Série B, projeta a pontuação necessária para o campeão, para os quatro times que subirão ao “céu”, a série A, ou para aqueles que chegarão ao “inferno”, a série C.

Para o professor Gilcione, a iniciativa tem o mérito de conciliar a matemática – assunto árido para a maioria das pessoas – com o futebol, uma paixão nacional. Ele também se sentiu estimulado pelas imprecisões que lia e ouvia nos meios de comunicação, principalmente na rádio de maior audiência de Minas Gerais, que mantém em seus quadros um “analista de números”. “Existe muita confusão nesse meio. Há quem não consiga distinguir um evento matemático, que está assegurado e não se tem como reverter, de uma análise probabilística, que aponta as chances de um time alcançar determinada posição”, explica.

O cálculo das probabilidades leva em conta a classificação geral das equipes, o desempenho delas como mandante e como visitante e a classificação nas dez últimas rodadas. “Esta é uma variável muito importante, porque revela tendências de ascensão e declínio”, observa o professor Gilcione.

A metodologia de cálculo envolve também a realização de milhares de simulações matemáticas dos jogos que ainda serão realizados. Nessas análises – que podem chegar a 600 mil – costumam ganhar os times de melhor desempenho pregresso. “Não se pode modelar o futuro sem analisar o passado”, ensina o professor Gilcione. Contudo, nas simulações também ocorrem resultados surpreendentes, desses que Nelson Rodrigues botaria na conta do Sobrenatural de Almeida. É a popular zebra, que a fria matemática não consegue evitar, mas, se serve de consolo, pelo menos pode prever.