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Nº 1554 - Ano 33
30.10.2006

Retratamento é nova esperança
para portadores de hepatite C

UFMG participa do maior estudo internacional de inclusão de pacientes com a doença

Manoella Oliveira

acientes que contraíram hepatite C e que não responderam ao tratamento convencional estão ganhando novo alento com um estudo realizado em centros do Brasil, Europa e Estados Unidos. Financiado por um laboratório farmacêutico de projeção internacional, o estudo baseia-se na metodologia do retratamento, prática até então inexistente no Brasil.
Foca Lisboa

Rosângela Teixeira: retratamento para conter ação do HCV

O estudo, primeiro do gênero realizado em território nacional, tem como principal investigadora em Minas Gerais a professora da Faculdade de Medicina da UFMG, Rosângela Teixeira, do Ambulatório de Hepatites Virais do Instituto Alpha de Gastroenterologia, do Hospital das Clínicas. Iniciada em 2003, a pesquisa deve durar cinco anos e envolve outras universidades brasileiras que assistem portadores de hepatites virais. O projeto é o maior estudo de inclusão de pacientes sobre hepatite C desenhado em todo o mundo. São cerca de três mil voluntários, dos quais 300 brasileiros – 40 estão envolvidos no estudo da UFMG.

A pesquisa contempla pacientes que não responderam aos tratamentos prévios e são portadores de fibrose hepática com potencial de evolução para a cirrose. Eles estão enquadrados, no mínimo, no estágio dois da fibrose, numa classificação que vai de zero a quatro: o zero representa a ausência da patologia e o estágio máximo, a ocorrência de cirrose. “Sabemos que o vírus da hepatite C, o HCV, causa inflamação e fibrose. A progressão da fibrose resulta em cirrose e suas complicações, como os distúrbios da função hepática e o câncer de fígado. Vamos avaliar, dentre outros aspectos, se a medicação é capaz de frear esses prejuízos”, explica a professora Rosângela Teixeira.

A fonte de tratamento de hepatite C mais difundida e oferecida pela rede pública brasileira é o interferon peguilado associado à ribavirina. Este tipo de interferon – proteína ligada à molécula de polietilenoglicol com propriedades antivirais e imunomodulares – é mais eficiente do que o convencional. “A combinação das duas propriedades proporciona uma chance, ainda que pequena, de negativar o vírus”, aponta a pesquisadora.
Para oferecer nova chance aos pacientes, o retratamento é feito com essa mesma combinação de drogas, sendo o antiviral, a ribavirina, fornecido pelo patrocinador, a Schering-Plough. “Nossa primeira intenção é analisar a reação da droga no organismo de pacientes que não responderam ao tratamento anterior, baseado no interferon convencional, que é mais fraco”, completa.

Resultados
O objetivo é fazer com que o vírus da hepatite C desapareça do organismo do paciente seis meses após o término do retratamento, com duração prevista de 48 semanas. O resultado parcial obtido no estudo revela que o retratamento foi eficaz para 12% a 15% dos voluntários. “É um índice baixo ainda, mas similar às estatísticas de outros projetos realizados pelo mundo”, comenta a professora Rosângela Teixeira.

As pessoas que não responderam à medicação por 12 semanas são randomizadas (transferidas por sorteio para outro grupo). Ou vão para um grupo que recebe interferon peguilado em baixa dose – configurando um tratamento de manutenção que vai durar de três a cinco anos – ou para um grupo observacional, sem medicação de manutenção.

Segundo Rosângela Teixeira, o objetivo do estudo de manutenção é verificar se esse tratamento evita a evolução da fibrose para estágios mais avançados. E, nos pacientes que já têm a cirrose, a intenção é avaliar se a terapia previne suas complicações. Além disso, acredita-se que, em doses reduzidas e a longo prazo, o interferon peguilado, sozinho, tenha função antifibrótica e antitumoral. Os resultados sobre manutenção só serão concluídos em 2007, ao final da pesquisa.

Recursos
Os recursos repassados pela indústria farmacêutica dão suporte a outros projetos de pesquisa em andamento no Ambulatório de Hepatites Virais do IAG. “A verba que recebemos, administrada pela Fundep, é suficiente para manter a equipe da pesquisa e nos auxilia também como fonte de financiamento de outros estudos do Centro na linha das hepatites virais”, afirma a pesquisadora.

molécula de polietilenoglicol com propriedades antivirais e imunomodulares - Uma proteína com propriedade imunomodular estimula a produção de anticorpos, aumentando a resistência do organismo às doenças

 

Infeçcão pelo HCV atinge cerca de 200 milhões

A hepatite C é uma inflamação no fígado provocada pelo vírus HCV, contraído quando em contato com o sangue contaminado. Não se sabe o número de portadores da doença, mas estima-se que haja entre 170 milhões e 200 milhões de pessoas infectadas pelo HCV. No Brasil, calcula-se que 1,2% da população tenha o vírus da doença.

Em muitos casos, a doença é assintomática ou apresenta sintomas semelhantes aos da gripe. Muitos só descobrem que têm hepatite C quando fazem exames ou começam a sofrer de suas complicações, como cirrose e câncer de fígado.