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Nº 1554 - Ano 33
30.10.2006

Ilustração científica ganha espaço
entre pesquisadores

Exposição reúne cerca de 100 trabalhos no saguão da Reitoria

Ana Rita Araújo

rafite, nanquim, aquarela e papéis especiais para desenho podem, surpreendentemente, conviver com microscópios e equipamentos sofisticados de investigação científica, nas mesas de trabalho de estudiosos de áreas como medicina, botânica ou entomologia. É o que demonstra o crescente número de pesquisadores que procura os cursos de ilustração científica oferecidos pelo Instituto de Ciências Biológicas (ICB) desde o início de 2005.



Cerca de 100 trabalhos, produzidos por alunos dos quatro cursos oferecidos este semestre, estarão expostos no saguão da Reitoria, no campus Pampulha, de 6 a 11 de novembro. Trata-se de trabalhos em grafite, nanquim e lápis de cor, que reproduzem partes do corpo humano, insetos e plantas.

Um dos expositores presentes na mostra, aluno na turma de Ilustração médica, Maurício Silva Gino é professor da Escola de Belas-Artes da UFMG. Segundo ele, em um mundo onde a produção “automática” de imagens é cada vez mais simples e acessível, a ilustração “torna-se importante instrumento disponível aos meios de divulgação científica e recurso essencial às diversas metodologias de ensino no campo da ciência e da tecnologia”.

O diferencial das ilustrações frente às inovações tecnológicas na produção de imagens é a possibilidade de focar todos os detalhes do objeto. “No desenho, o ilustrador mostra tudo o que deseja, ao contrário da fotografia, que focaliza apenas certas partes”, afirma Rosa Alves, professora dos cursos. Inicialmente oferecido apenas na modalidade Ilustração botânica, a atividade agora abrange Ilustração médica e de Insetos (entomologia), inéditos em Minas Gerais. Os alunos são orientados nas técnicas, em módulos de 45 ou 60 horas/aula.

Com o domínio das técnicas de ilustração cientítica, o pesquisador tem independência para ilustrar o próprio trabalho, além de desenvolver olhar técnico, capaz de orientar e avaliar trabalhos que ele eventualmente contrate, explica a professora Rosy Isaias, do departamento de Botânica. “Não se trata de dizer se a ilustração é bonita ou feia, mas de fazer uma avaliação técnica”, reforça a pesquisadora, que coordena o Colegiado de Ciências Biológicas.

A professora de Ilustração entomológica, Virgínia Mendes Braga, explica que a ilustração científica é uma das principais ferramentas para pesquisadores de áreas como biologia, medicina e paleontologia. Eles precisam demonstrar, por exemplo, como determinado experimento vai reagir, “sem que o resultado ainda esteja totalmente visível”. A técnica também é importante para reconstituir partes destruídas do espécime.

Na licenciatura, a ilustração científica colabora para desenvolver e apurar a percepção do aluno. “Além de ajudá-lo a entender a morfologia dos espécimes, o aprendizado através da percepção visual é um grande aliado no entendimento da matéria estudada”, ressalta a professora.

Para Rosa Alves, a ilustração científica traz à tona a figura do generalista, “profissional que não sabe tudo, mas reúne e dialoga com diversas áreas. O ilustrador de ciência faz isso em seu cotidiano”. Ela ressalta que, além do domínio técnico da arte, é necessário ter também conhecimento do objeto de estudo, para uma tradução correta e inteligível a todos. “Daí a crescente presença de pesquisadores nas turmas de ilustração científica”, comenta.

Nos dias 17 e 18 de novembro, o Centro Cultural UFMG sedia o I Encontro Nacional sobre Ilustração Cientifica, promovido pelo Instituto de Ciências Biológicas e pela organização Ilustradores Científicos do Brasil.
O evento, que já conta com inscritos de todo o país e da Argentina, será composto por oficinas, palestras, debates e exposição. Inscrições e mais informações pelo telefone (31) 3499-2533 e na página eletrônica do Centro Cultural UFMG (www.ufmg.br/centrocultural).