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Nº 1554 - Ano 33
30.10.2006

A utopia que brota no campo

Seminário discute conformação do ideário republicano no universo agrário

e Canudos às Ligas Camponesas; dos quilombolas às atuais experiências de vida no campo. “Escavar o solo da memória” e buscar o significado político desses movimentos, associando-os ao ideário republicano é um dos objetivos do Seminário Utopias Agrárias, que a UFMG realiza de 7 a 10 de novembro, no auditório da Escola de Ciência da Informação, no campus Pampulha.
Acervo Agência Estado/Projeto República

Concentração das Ligas Camponesas em Pernambuco, no início da década de 1960

O Seminário é um desdobramento de pesquisas desenvolvidas pelo Projeto República que mostram a conformação do ideário republicano no universo agrário desde o século 19. Para os organizadores da iniciativa, a questão agrária ainda tem “status” de utopia em pleno século 21. “Até porque não foi resolvida até hoje”, salienta o professor Maurício Campomori, diretor de Ação Cultural da UFMG e coordenador-geral do evento.

Os estudos do Projeto República resgatam experiências utópicas que começaram ainda no Império, como Canudos, na Bahia, e que continuaram no período republicano, como as Ligas Camponesas, em Pernambuco, lideradas por Francisco Julião.

As mesas de debates reunirão pesquisadores de instituições brasileiras e internacionais, para discutir temas como a imaginação brasileira e o sentimento de reforma agrária, Estado e cidadania para o sertão, questão agrária e ambiental. A solenidade de abertura será na noite do dia 7, com presença prevista de três ministros – Guilherme Cassel, do Desenvolvimento Agrário; Marina Silva, do Meio Ambiente; e Fernando Haddad, da Educação. Haverá ainda lançamento de livro, exposição de vídeos e apresentações musicais.

Idealizadora do evento, a vice-reitora Heloísa Starling destaca que no livro Utopia, Thomas Morus critica a posse privada das antigas terras comunais, com a conseqüente expulsão de camponeses e destruição das bases de sua existência. “Talvez por isso uma utopia republicana sempre parece se defrontar com a questão agrária”, comenta a professora, que coordena o Projeto República. Ela ressalta que “interpretar os modos e o alcance desse confronto pode ser, quando pouco, um passo inequívoco de um país como o Brasil, onde os caminhos da República ainda encontram-se abertos e por se fazer”.

Livro e CD-ROM
Durante o encontro será lançado um livro e o CD-ROM Sentimento de reforma agrária, sentimento de República. O livro é uma coletânea de artigos que analisam temas como a tradição republicana e o entendimento da terra, a tradição anticapitalista e o modo com que a cinematografia e a música brasileira se apropriam da questão agrária. Entre os articulistas estão a própria vice-reitora Heloísa Starling e os professores Rodrigo Patto e Juarez Guimarães.

Já o CD reúne textos – de cunho acadêmico, mas produzidos para um público mais amplo -, trechos de filmes escolhidos num universo de 340 produções cinematográficas nacionais pesquisadas e músicas populares (cerca de 180 canções de gêneros que vão do rock ao samba) que refletem a interface entre a idéia de república e o mundo agrário. CD-ROM e livro foram produzidos a partir de levantamento realizado pelo Projeto República.

O Seminário também oferecerá a estudiosos e profissionais um conjunto de informações, acervos, técnicas e metodologias para o trato de questões de áreas como história, cultura, sociologia, estudos políticos, ecologia e geografia. “Nesse sentido, os produtos desse evento se converterão em substrato para o desenvolvimento de novas pesquisas e para a contínua produção de conhecimento na área”, prevê Heloísa Starling. Além disso, acrescenta a professora, o público passará a ter acesso “a um dos maiores e mais significativos conjuntos de informações e documentos sobre as questões agrárias e da terra no Brasil, a partir da divulgação e disponibilização dos produtos e resultados do Seminário”.

As mesas de debates e os depoimentos darão origem a uma publicação impressa intitulada Utopias Agrárias, que se constituirá no registro documental do Seminário a ser publicado pela Editora UFMG.

Programação

Dia 7
19h30 – Abertura – Reitor Ronaldo Pena e ministros Guilherme Cassel, do Desenvolvimento Agrário; Marina Silva, do Meio Ambiente; e Fernando Haddad, da Educação

Dia 8
9h30 – Mesa Utopias agrárias e republicanismo – Marcelo Jasmin (IUPERJ/PUC-Rio) e Leonardo Boff (teólogo)
14h – Mesa Experiências de vida comum no campo – Flávio dos Santos Gomes (UFRJ), Paulo Cunha (Unesp) e Carlos Antônio Leite Brandão (UFMG)
19h30 – Depoimento – Manoel Conceição Santos

Dia 9
9h30 – Mesa Estado e cidadania para o sertão – Cícero Araújo (USP) Leonardo Avritzer (UFMG) e Newton Bignotto (UFMG)
14h – Mesa Imaginação brasileira e sentimento de reforma agrária – Maria Rita Kehl (escritora e psicanalista), Wander Miranda (UFMG), Juarez Rocha Guimarães (UFMG) e Robert Wegner (Fiocruz)

Dia 10
9h30 – Mesa Utopias agrárias e questão ambiental – Hugo Achugar (Universidad Nacional de la República, Uruguai) e Jean Hebette (Núcleo de Altos Estudos Amazônicos)

Seminário Utopias Agrárias
Data: 7 a 10 de novembro
Local: auditório da Escola de Ciência
da Informação, campus Pampulha
Inscrições e informações: (31) 3499-5513, das 14 às 18h