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Nº 1574 - Ano 33
23.4.2007

Banco de Imagens do FTC-EBA
EBA - Fachada - 1964
Galpão que abrigava a Escola de Belas-Artes em 1964

Meio século fazendo arte

Ao completar 50 anos, Escola de Belas-Artes comemora avanços acadêmicos e prepara-se para avaliar estrutura curricular

Tatiana Santos

U

m conjunto de galpões que guardava o material de construção das unidades do campus Pampulha abrigou, em 1962, a primeira turma do curso de Belas-Artes. Mesmo entre vergalhões e concreto, alunos e professores tinham motivos para comemorar, pois, enfim, haviam encontrado um “cantinho” para trabalhar.

Fundada em 5 de abril de 1957, a Escola de Belas-Artes (EBA) passou cinco anos sem ter uma sede própria. Até 1962, as aulas ocorriam no prédio da Escola de Arquitetura, no centro de Belo Horizonte. Só que a convivência entre os estudantes não era pacífica. “Os alunos de arquitetura não aceitavam os estudantes de Belas-Artes, porque o nível de formação exigido dos últimos era menor. Eles eram alvo de bombinhas, barricadas e precisaram enfrentar até corredor polonês para assistir às aulas”, informa Pompéa Péret Britto da Rocha, professora aposentada da Escola e uma das primeiras alunas do curso.

O conflito incentivou o professor Orlando de Carvalho, então reitor da UFMG, a levar a questão do curso de Belas-Artes para o Conselho Universitário, que apoiou a transferência para o campus Pampulha, na época ocupado somente pelo prédio da Reitoria. “Assistíamos às aulas teóricas em um andar da Reitoria, enquanto as práticas eram dadas nos galpões que abrigavam a Escola”, lembra Pompéa Britto.

Como as condições estruturais da Escola não eram das melhores, os professores e alunos contribuiam para sua limpeza e manutenção. O corpo docente, formado em sua maioria por arquitetos – Yara Tupinambá e Haroldo Matos eram os únicos artistas –, ministrava aulas de decoração, artes gráficas, escultura, desenho, cinema, aquarela, história da arte, modelagem e pintura. Somente em 1965 começou a contratação de professores especializados.

Em 1967, os artistas da jovem Escola de Belas-Artes participaram de uma experiência marcante: o primeiro Festival de Inverno realizado no país. “O Festival era como um movimento de resistência à ditadura. Conseguíamos driblar a censura e expressar, por meio da arte, metáforas sobre o tema”, recorda a professora Lúcia Gouvêa Pimentel.

Pluralidade

A EBA faz 50 anos em pleno momento de transformação. A Unidade ocupa área de oito mil metros quadrados, que abrigam a sede, o ateliê de gravura e o departamento de Artes Cênicas. “Nos últimos anos, conseguimos melhorar o espaço físico da Unidade, consolidar a pós-graduação e os cursos de extensão. Temos um futuro promissor pela frente com a criação de cursos, desenvolvimento do trabalho na área de mídia e a adaptação estrutural para imagem digital”, resume o diretor, Evandro Lemos.

Se nos primórdios o corpo docente não era formado por artistas especializados, a EBA, hoje, pode se orgulhar de ser, ao lado da USP, UFRJ e UFRGS, uma escola que oferece curso de pósgraduação em Artes com nível de Doutorado. Desde 1995, ano de criação do Mestrado, foram defendidas 245 teses e dissertações, que contribuem para a qualidade de ensino e pesquisa nas áreas de Artes Visuais (desenho, pintura, escultura, gravura e artes gráficas); Teatro; Cinema; Fotografia; Conservação e Restauração de Bens Culturais e Estilismo.

Por lidar com diferentes manifestações artísticas, a EBA tem se firmado como uma escola plural, cuja formação depende de reconhecimento social. “Ninguém pode se autoproclamar artista. Quem diz isso é a sociedade”, comenta Evandro Lemos. Pela formação ampla, os alunos que passam por lá encontram mais oportunidades de atuação no mercado de trabalho nas áreas de artes, licenciatura, produção de filmes, teatro e programas sociais.

O 50o aniversário da Escola de Belas Artes será marcado por reflexões. “Vamos aproveitar a data para definir que caminhos poderemos percorrer nos próximos anos”, antecipa o diretor. A programação ainda não está fechada, mas já se sabe que será realizado, neste semestre, um seminário interno de avaliação da atual estrutura curricular. No fim do ano ocorrerá exposição com trabalhos de todos os 863 alunos e professores da EBA.
Foca Lisboa
Aluna da EBA
Aluna da EBA pinta retrato de Lincoln Volpini, professor da Escola

Guardião da memória

As origens da Escola de Belas-Artes remetem à passagem de Juscelino Kubitschek pela Prefeitura da capital. Em fevereiro de 1944, o então prefeito criou o Instituto de Belas-Artes de Belo Horizonte, ao qual foi incorporada a Escola de Arquitetura. As primeiras sessões de desenho e pintura eram ministradas em parques da cidade e até num galpão onde hoje se encontra o Palácio das Artes. As aulas passaram a ser ministradas, efetivamente, na Escola de Arquitetura em 1957, ano considerado como marco inaugural da Escola de Belas-Artes.

Essas e outras histórias sobre os primórdios da Unidade estão sendo resgatadas pelo Projeto Memória, desenvolvido pelas professoras Lúcia Pimentel e Pompéa Péret. As duas se debruçam sobre o período que vai da fundação até a inauguração do prédio no campus, em 1972. “O Projeto Memória é um gesto de gratidão, reconhecimento e justiça pela luta dos professores e alunos que fizeram a escola funcionar”, destaca Pompéa.

Nos últimos três anos, o Projeto reuniu centenas de imagens e 33 entrevistas com ex-professores, funcionários e alunos. As memórias serão registradas registradas em documentário, com lançamento previsto para agosto deste ano, e em um livro, que deve ser finalizado até o fim de 2007.

Duas novas graduações à vista

Fernanda Cristo

Além das graduações em teatro e artes visuais, a EBA oferece cursos de especialização, atualização e extensão. Dois dos mais procurados são os pioneiros Conservação, Restauração de Bens Culturais Móveis e Estilismo e Modelagem do Vestuário, que estão em vias de se transformar em cursos de graduação, podendo ser ofertados já no Vestibular 2008.

“Desde 2000 temos uma comissão estudando a implantação do curso de restauração na Escola. Em 2002, fechamos um projeto, que acabou reformulado em 2005 e que agora está em tramitação na Pró-Reitoria de Graduação”, afirma a professora Bethania Veloso, coordenadora do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor). Criado em 1978, o curso de especialização em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis oferece 13 vagas a cada dois anos, número que pode ser ampliado para 20 entradas anuais, caso seja transformado em graduação. “Pessoas de todo o Brasil vêm estudar aqui. Na última turma, inclusive, não havia alunos de Belo Horizonte”, comenta a coordenadora.

Já o curso de Estilismo completou 20 anos em novembro do ano passado e oferece anualmente 30 vagas. “Desde a fase de criação, a idéia era que o estilismo integrasse a graduação, mas isso não aconteceu, principalmente porque na época não se entendia bem o significado das atividades de design”, avalia o professor Vlad Eugen Poenaru, coordenador do Centro de Extensão (Cenex) da EBA.

Os dois cursos são mantidos com as mensalidades pagas pelos alunos. “É muito difícil conseguir recursos financeiros, professores e bolsas de estudo em um curso de especialização”, explica Bethania Veloso. Se ganharem status de graduação, os dois cursos deverão ser oferecidos no período noturno, o que amplia o seu potencial inclusivo. Outra vantagem para os alunos, segundo Vlad Poenaru, será a oferta do diploma. “Os cursos são reconhecidos, mas não têm uma chancela oficial”, comenta.

Referência nacional

O curso de restauração é oferecido pelo Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor) e o de estilismo, pelo Cenex. O Cecor foi criado em 1980 e desenvolve diversas atividades, inclusive de pesquisa. “O Cecor é referência nacional. Entre outras obras, estamos restaurando duas esculturas policromadas pertencentes ao Palácio do Planalto”, comenta Bethania Veloso.

O Cenex oferece 32 cursos, como pintura e retrato, imaginação sonora, introdução ao cinema de animação, e coordena o projeto Mosaico, que integra o programa Pólo de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha. Em março foram realizadas as primeiras atividades – oficinas de papel e bambu – nos municípios de Açucena, Padre Paraíso e Santana do Araçuaí.