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Nº 1578 - Ano 33
21.5.2007

Uma identidade em afirmação

Ronaldo Tadêu Pena*
Prédio da Reitoria - Desenho de Fabrício Fernandino
Desenho de Fabrício Fernandino

A

comemoração dos 80 anos da UFMG inicia-se neste mês de maio. Na programação, estão incluídas atividades que fazem menção à história que esta instituição já exibe, ao lado de outras que apontam para seu propósito de inserção na comunidade acadêmica mundial – e que, ao mesmo tempo, reafirmam o seu vínculo com a cidade que a abriga e com o país a que pertence.

A palestra de um convidado internacional ou de um professor da UFMG cujo trabalho científico marcou seu campo do conhecimento; a instalação, em cada rua do campus, de placas que permitem ao transeunte saber quem foi o professor que lhe deu o nome; o lançamento de livros de memórias da instituição; a apresentação de grupo artístico mineiro de projeção internacional – essa diversidade de tópicos tem como fio condutor a identidade desta instituição universitária. O que ela foi, o que ela pretende ser, articulada pela noção da multiplicidade das suas formas de manifestação definidas desse ser imaterial que se projeta para o futuro: a cultura da UFMG.

Na escala humana, o passar de cada ano motiva a celebração da existência do indivíduo e as passagens, ao longo da existência, medidas em décadas: a adolescência, a juventude adulta, a maturidade, a meia-idade. Comemorar 80 anos é um gesto que celebra a vida. Ao contrário, da escala do correr da vida humana para uma universidade, 80 anos denotam um estágio ainda inicial – uma afirmação de identidade, na forma de promessa, até mais que a celebração de feitos passados. Por enquanto, a UFMG ainda segue o compasso das décadas - assim como a cidade de Belo Horizonte, assim como o Brasil republicano.

Talvez as mudanças de etapas, nesses casos, ocorram no horizonte de um século – horizonte este já vislumbrado pela UFMG. Até 2027, a UFMG deverá diplomar mais de 100 mil alunos de graduação, 40 mil mestres, 15 mil doutores. Deverá publicar cerca de 60 mil artigos científicos, e algumas centenas de eventos científicos nacionais e internacionais serão organizados por seus docentes. Os alunos egressos de seus quadros se envolverão na elaboração e execução de muitas das políticas públicas que definirão a face deste país. Participarão, ainda, da aventura do avanço do conhecimento científico e tecnológico, elemento crucial para a emancipação de nosso povo. Como docentes irão formar, em todos os níveis do ensino, os especialistas para o domínio e o usufruto do conhecimento e cidadãos para o inarredável exercício da democracia. A população projetada da Região Metropolitana de Belo Horizonte,
nesse período, será atendida de alguma forma, pela área de saúde da UFMG. A atividade econômica dessa mesma região irá se alterar em relação à sua estrutura atual, migrando para uma base de maior agregação tecnológica, em grande parte ligada à presença da UFMG. O que terá mudado, então?

Nessa festa de 80 anos, ao lado de um tributo ao passado, aos homens e mulheres que deram o melhor de si para que a UFMG seja hoje uma referência e uma promessa, impõe-se vislumbrar o trajeto à frente. O caminho até aqui não foi resultado do determinismo das leis da natureza, mas da conjugação de vontades humanas, que se permitiram participar do sonho brasileiro da criação de uma civilização nesta parte da América do Sul.

Talvez não seja dado aos homens de hoje o acesso às formas do mundo do futuro, de 2027, de 2127, ou de um horizonte ainda mais distante. Mas cabe-lhes a tarefa, apresentada hoje em forma de escolha, de balizar o percurso até lá, de escutar atentamente a realidade do povo e, na reflexão interpretativa acerca dos condicionantes, de intervir nessa realidade. Assim, cabe-nos manter o princípio identitário que vem caracterizando a UFMG ao longo de sua existência: a busca incondicional do saber, como requisito para a soberania, liberdade e a democracia do povo a que pertence.

*Reitor da UFMG