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Nº 1578 - Ano 33
21.5.2007

EntrevistaAluísio Pimenta

Foca Lisboa Aluísio Pimenta
Aluísio Pimenta: pesquisa fortalecida

A federação que virou universidade

Fernanda Cristo

O

rédios dispersos, pesquisas esparsas e pouco contato entre unidades. Essa era a realidade da UFMG até o início dos anos 60, lembra o professor Aluísio Pimenta, reitor da Universidade entre 1964 e 1967. Durante sua gestão, ele promoveu intensa reforma na instituição e em seu estatuto, ao criar os institutos centrais, fortalecer o papel do Conselho Universitário e investir em infra-estrutura e formação de recursos humanos para pesquisa.

A entrevista com Pimenta abre a série que o BOLETIM publicará, nos próximos meses, com os ex-reitores da Universidade, em comemoração aos 80 anos da instituição. Professor emérito da UFMG, ele é um entusiasta da presença feminina na Universidade, elogia o atual Reitorado e prevê, para os próximos 80 anos, que a UFMG empreenderá grandes esforços no desenvolvimento de pesquisas em nanociência e de estudos ambientais para conter o aquecimento global.

Como era a UFMG durante sua gestão como reitor?

Ao assumir a Reitoria, aos 39 anos, a UFMG era uma federação de escolas. Havia as faculdades de direito, medicina, arquitetura, filosofia, enfermagem, ciências econômicas, veterinária, engenharia, odontologia
e farmácia - onde eu estudava. Neste contexto, o reitor tinha pouca influência nas unidades. Quando assumi a instituição, o objetivo era transformá-la, de fato, numa universidade, conferindo à figura do reitor e ao Conselho Universitário intensa atuação na gestão universitária. Durante meu Reitorado, criamos os institutos centrais e trabalhamos para estruturar uma instituição que pudesse dar um grande salto em pesquisa, ensino e extensão.

Qual o estágio da pesquisa desenvolvida na UFMG na época?

Cada escola desenvolvia suas pesquisas separadamente e não tínhamos como fazer grandes investimentos em laboratórios. Tomemos como exemplo minha área, a química. Estudava-se química em várias faculdades (medicina, farmácia, engenharia, entre outras). Em cada uma, porém, as instalações de pesquisa eram relativamente fracas e os professores não podiam se dedicar em tempo integral. A pesquisa foi fortalecida na UFMG durante nossa gestão com a criação dos institutos centrais e pelo fato de termos enviado muitos professores para cursarem pós-graduação na Europa e nos Estados Unidos. Conseguimos muitas bolsas de estudo junto a instituições internacionais, como a Fundação Ford, além de empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que impulsionou muitos estudos. Criamos um conselho de pesquisa que gerenciava as verbas destinadasà área.

E o ensino?

A graduação passou por um movimento semelhante. Sempre trabalhamos com a idéia de que era preciso tornar o ensino um processo mais presente, para não fazer dele algo simplesmente livresco. Aqui vale destacar a participação da mulher na vida acadêmica. Quando assumi a Universidade, não havia professoras de engenharia e medicina. Em economia, eram pouquíssimas e, em relação ao corpo discente, o cenário era o mesmo. Na administração central, todos os cargos de chefia eram ocupados por homens. Recrutei um grupo de mulheres que me ajudou muito na gestão da universidade. Homens e mulheres têm a mesma inteligência racional, mas as mulheres são dotadas de uma inteligência emocional que faz a diferença em atividades de ensino e pesquisa.

E a área social?

A atuação da fundação responsável pela assistência estudantil, que à época se chamava Assistência aos Universitários Mendes Pimentel (Aump), foi fortalecida durante nossa gestão. Quando surgiu, sua única função era fazer empréstimos aos discentes, uma vez que a Universidade era paga. Depois que assumi a Reitoria, o órgão passou a atuar também na gestão dos restaurantes universitários.

Quando administrados pelas próprias faculdades, eles eram muito caros. Mas ao assumir sua gestão, a entidade reduziu o custo de produção da refeição, porque passou a adquirir alimentos em grandes quantidades. Além disso, concedíamos um desconto de 30% aos alunos que compravam tíquetes para um mês de refeições e bolsa-alimentação para aqueles que não podiam pagar.

Apesar desses avanços, sua gestão foi muito afetada pela situação política vivida pelo Brasil após o golpe militar...

O então general Guedes (Carlos Luís Guedes, 4ª Divisão de Infantaria, a ID4) mandou quatro coronéis e o delegado militar de Juiz de Fora fazer uma intervenção federal e me tirar da Universidade. Tiraram, eu reagi, e o presidente Castelo Branco mandou que me reconduzissem ao cargo imediatamente. Eu me indispus várias vezes com o pessoal da ID4. Eles prendiam um estudante e eu ia atrás.

Como o senhor vê a UFMG hoje?

Tenho grande orgulho de ter sido aluno, professor, pesquisador e reitor da UFMG. A Universidade cresceu, ampliou as construções no campus. Também acho que a presença da mulher evoluiu muito. Tanto que, nos últimos anos, tivemos duas reitoras. Os dirigentes que me sucederam são pessoas sérias e trabalhadoras, incluindo os atuais reitor e vice-reitora, que estão fazendo muita coisa positiva pela UFMG.

Que Universidade o senhor projeta para os próximos 80 anos?

Imagino que a UFMG vai desenvolver muitos projetos nas áreas de nanociência e nanotecnologia. Até porque o nosso departamento de Física já tem estudos muito importantes nessas áreas. Penso que a Universidade também investirá em pesquisas na área de ciências ambientais
que possam contribuir para impedir o aquecimento global. A UFMG vai participar ativamente do desenvolvimento de Minas e do Brasil; vai preparar profissionais e cientistas não só nas áreas de ciências exatas, mas também em filosofia, sociologia, música... Além disso, vejo uma universidade que se preocupará com a formação de pessoas das classes menos favorecidas.