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Nº 1579 - Ano 33
28.5.2007

Inclusão deficiente

Estudo da Face mostra dificuldades de inserção no mercado de trabalho vividas por pessoas com deficiência

Tatiana Santos

I

ncapacidade dos gestores em lidar com a deficiência e ausência de condições de trabalho adequadas marcam o cotidiano dos pessoas com deficiência, mas, a despeito das dificuldades que encontram para se inserirem no mercado de trabalho, eles buscam no emprego a possibilidade de autonomia, melhoria da autoestima e construção de respeito social.

Essa foi a conclusão a que chegou Maria Nivalda de Carvalho Freitas, com a tese de doutorado defendida em fevereiro junto à Faculdade de Ciências Econômicas. Para compreender como as pessoas com deficiência se inserem profissionalmente, ela procurou identificar que tipo de ambiente 18 empresas brasileiras – 15 delas com mais de mil empregados – oferecem a esse grupo especial de pessoas. Todas as organizações estudadas cumprem a chamada Lei das Cotas (nº 8.213), promulgada em 1991, que determina que as empresas brasileiras com mais de 100 funcionários devem ter de 2% a 5% de portadores de deficiência em seu quadro de pessoal.

Na primeira etapa da pesquisa, Maria Nivalda entrevistou 163 gestores. Ao questioná-los sobre como vêem a deficiência, encontrou respostas que vão desde concepções espirituais (a deficiência vista aqui como uma entidade metafísica) à noção de deficiência como um desvio da normalidade. “Essas concepções limitavam a avaliação dos gestores. Em vez de considerar as potencialidades do funcionário, eles se concentram no tipo de deficiência de cada um”, destaca Nivalda. Por outro lado, as entrevistas revelaram que a maioria dos gestores, 80%, compartilha uma concepção de deficiência baseada na inclusão. “Eles pressupõem que a deficiência é uma questão social e que a organização e a sociedade precisam se adequar para acolher a todos”, informa.

A pesquisadora verificou, ainda, que muitos gestores têm dificuldades para lidar com pessoas com deficiência e de saber quais ações promover para recebê-las, o que implica desde a promoção de alterações físicas no ambiente de trabalho à implementação de práticas que proporcionem condições igualitárias de inserção profissional. “Mesmo apresentando infra-estrutura adequada para receber o portador de deficiência, algumas empresas não investem na sensibilização das chefias e das equipes de trabalho para estimulá-las a tratar o portador de deficiência como um empregado comum”, avalia Maria Nivalda.

Avaliação

Uma das principais etapas do estudo consistiu na avaliação que 128 pessoas com deficiência física, visual e auditiva fizeram sobre o seu ambiente ocupacional. Eles trabalham em uma das maiores empresas pesquisadas por Maria Nivalda Freitas – cerca de 80 mil funcionários, sendo 1.470 portadores de deficiência. A maioria dos entrevistados, 82%, estava cursando ou já havia concluído o curso superior, mas ainda assim demonstrava insatisfação com as oportunidades de crescimento profissional oferecidas. “Todos têm a expectativa de colaborar na elaboração das políticas e práticas de inserção e gestão da diversidade na sua empresa. Por meio da pesquisa, eles reivindicaram justamente essa participação na definição dos rumos de seus trabalhos”, acrescenta a pesquisadora.

Para Maria Nivalda Freitas, seu estudo tem o mérito de oferecer, para o universo acadêmico e profissional, mais informações para o diagnóstico e planejamento de ações de inserção e gestão do trabalho de pessoas com deficiência nas empresas. Subsídios que poderão facilitar a vida de gente como a psicóloga judicial Liliane Camargos, que, aos oito anos, começou a desenvolver doença degenerativa da retina, chamada visão subnormal. Para exercer as atividades diárias, ela conta com o auxílio de uma lupa, mas no emprego precisou esperar um ano para receber um computador adaptado com lente de aumento e um leitor de tela. “A sociedade não está preparada para receber o deficiente. Ela ainda o inclui em uma categoria à parte, em vez considerá-lo apenas como uma pessoa que tem algum tipo de problema, como bronquite ou diabetes”, opina a psicóloga.

 

Dissertação: A inserção de pessoas com deficiência em empresas brasileiras: um estudo sobre as relações entre concepções de deficiência, condições de trabalho e qualidade de vida no trabalho
Autora: Maria Nivalda de Carvalho Freitas
Orientador: Antônio Luiz Marques
Defesa: 15 de fevereiro de 2007, junto ao curso de Doutorado em Administração do Cepead/Faculdade de Ciências Econômicas