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Nº 1594 - Ano 34
10.12.2007

Um brinde à Biblioteca Nacional

Júnio César Barbosa Louback*

biblioteca

Ao saber da existência de uma excursão organizada pelos alunos de Biblioteconomia da UFMG para visitar a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, pensei em aproveitar a oportunidade para refletir a respeito do meu curso e resolvi conhecer a tão famosa instituição. Achei que a visita poderia também servir como estímulo para meus estudos, já que, às vezes, pairam algumas incertezas na mente do estudante.

Já na chegada ao prédio, a impressão foi muito forte. Fomos recebidos por um funcionário da instituição que, no saguão, forneceu detalhes sobre a construção do prédio, que data de 1910, e conceitos históricos. Mas o que me chamou a atenção foi a descrição dos detalhes de duas pinturas localizadas no saguão do prédio.

Do lado esquerdo da entrada, uma das telas mostrava a imagem de um cavalo montado por um esqueleto voando num céu nublado; deitadas no chão, pessoas com semblantes carregados pelo sofrimento e tristeza. Abaixo da tela, esculpidas em pedra, figuras de pessoas agredindo e violentando umas às outras. Essas imagens trazem um significado: o cavalo voador simboliza a ignorância, que resulta em tristeza, violência e morte – esta representada pelo esqueleto.

Do lado direito, havia outra tela com a imagem de uma mulher descendo do céu azulado; na terra, pessoas – entre elas uma criança – traziam na face expressões de alegria. Toda a beleza presente nesse quadro retrata a sabedoria. Desde a mulher que desce do céu até a criança que “olha” para o espectador, dando a entender que a sabedoria contempla qualquer pessoa, sem distinção. Esculpidas em pedra abaixo da tela, viam-se imagens de pessoas colaborando e ajudando umas às outras, num ambiente de solidariedade, fruto do conhecimento.

Isto foi apenas o início. Depois, visitamos algumas salas com enormes janelas e móveis ali presentes desde a construção do edifício. Ao subirmos as escadas, cobertas por tapete vermelho, deparamos com o busto de Dom João VI. E, ao chegarmos no segundo andar, mal sabíamos que o melhor estava por vir. Fomos presenteados com uma exposição de obras raras, acessíveis só em circunstâncias especiais para pesquisa.

Ao apresentar aquelas preciosidades, a bibliotecária falou sobre o livro que estava bem diante de mim: uma obra do século 14, um livro de oração, escrito em latim e com ilustrações. Quando a bibliotecária começou a folhear aquele livro, meus pensamentos acompanharam a trajetória que ele deve ter feito até chegar ali. Na verdade, me perdi entre o tempo e o espaço: imaginei embarcações em que aquele livro já esteve, tempestades enfrentadas, estradas de terra por onde passou. Apesar de tantas intempéries, ele estava ali, bem conservado, diante de nós.

Dentre outras raridades, vimos uma carta escrita por Tiradentes, além de livros presenteados a reis e rainhas. Detalhes em madeira, couro e pigmentos em ouro embelezavam as capas dessas obras dos séculos 17 e 18. Tentei descrever o que ocorreu comigo naquele momento, mas não consegui.

Só posso afirmar que senti uma emoção muito forte e que passei a alimentar uma certeza: escolhi uma profissão muito importante.
Poderia falar dos lugares que visitei: o Museu de Arte Contemporânea, uma das mais belas obras de Oscar Niemeyer, e a Fortaleza de Santa Cruz da Barra, construída em 1555 em Niterói; ou relembrar o Cristo Redentor e as noites agradáveis na Lapa e na Estação Primeira de Mangueira, onde tive a chance de acompanhar a disputa do samba-enredo para o carnaval de 2008. Poderia descrever cada lugar e cada momento com sua singularidade.

Contudo, para mim, estudante de Biblioteconomia, não houve nada tão especial quanto conhecer a Biblioteca Nacional. Saímos de lá com a sugestão, dada pelo guia e pelo recepcionista, de aproveitar o calor e tomar uma cerveja bem gelada em algum dos bares nas imediações, no Arco do Telles. Notei certo desânimo entre alguns colegas, cansados da viagem, mas insisti que deveríamos comemorar com um brinde à Biblioteca Nacional.

No caminho, alguns colegas agradeceram a sugestão, porque, apesar do cansaço, surgiu um motivo que reacendeu o ânimo da turma. Ao chegarmos nos bares do Arco do Telles, fizemos um brinde à Biblioteca Nacional e relembramos detalhes da visita.

Dias depois, já em Belo Horizonte, percebi que muitos colegas do curso gostariam de ter realizado essa viagem, mas foram impedidos pela falta de recursos. Seria muito bom se surgisse algum projeto que transformasse a visita à Biblioteca Nacional numa atividade acadêmica, estendida a todos os cursos, e que fosse custeada pela Universidade ou pelas entidades de assistência estudantil para possibilitar o acesso aos alunos que não têm condições financeiras para realizar esse programa tão especial.

Assim, mais pessoas teriam a chance de conhecer a Biblioteca Nacional e viver uma experiência arrebatadora, dessas que a gente guarda para o resto da vida.

* Aluno do 2º período do curso de Biblioteconomia (noturno).

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