Caçador de imagens

Em vez de palavras-chaves, mecanismo criado por pesquisadora utiliza ícones para fazer pesquisas em projetos de engenharia

Ricardo Bandeira

Arthur Almeida

Qualquer um que já tenha usado computadores para trabalhar, estudar ou mesmo se divertir está habituado com os mecanismos de busca, sobretudo na internet. Basta digitar uma palavra-chave e, em instantes, surge uma série de opções. O que pouca gente imagina é um mecanismo que encontre informações a partir de ícones-chaves, ou seja, o usuário coloca uma imagem na área de busca e o sistema lista todas as ocorrências da mesma na base de dados consultada.

A pesquisadora Renata Abrantes Baracho não só imaginou como também desenvolveu o protótipo de um sistema que recupera imagens em projetos de engenharia. As bases conceituais e os resultados dos testes do modelo estão descritos na tese de doutorado Sistema de recuperação de informação visual em desenhos técnicos de engenharia e arquitetura: modelo conceitual, esquema de classificação e protótipo, defendida por Renata, em outubro deste ano, no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFMG. A orientação foi de Beatriz Cendon, vice-diretora da Escola de Ciência da Informação (ECI).

A pesquisa tem grande relevância social por causa de suas possíveis aplicações. O estudo de caso da tese de Renata foi feito na base de dados do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, que manifestou interesse em desenvolver um sistema de recuperação de imagens a partir do protótipo criado pela pesquisadora. Ele pode, por exemplo, ajudar os bombeiros a identificar rapidamente a localização dos extintores de incêndio dentro de um prédio em chamas, com base em uma busca no projeto da construção.

Com isso, será possível traçar rotas de fuga para os ocupantes do prédio, antes mesmo da chegada da equipe ao local da ocorrência, aumentando as chances de salvar vidas. “Os desenhos são submetidos ao sistema; eles ficam indexados e a recuperação da informação é instantânea”, explica Renata.

O sistema, batizado de BIP (Busca de Informação em Projeto), pode ter diversas outras aplicações. Os projetos de engenharia geram centenas e até milhares de desenhos e, até agora, não há mecanismo tão preciso e rápido quanto o criado por Renata. Parte de seus estudos foi executada na Universidade do Estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, onde a pesquisadora consultou a literatura sobre o tema e as pesquisas já desenvolvidas e não encontrou nada parecido, em todo o mundo.

Para fazer os testes descritos em sua tese, Renata utilizou 332 desenhos técnicos de projetos de segurança contra incêndio, apresentados ao Corpo de Bombeiros em 2006. O sistema gastou apenas 6,2 segundos para interpretar, classificar e indexar cada desenho e apresentou uma taxa de acerto de 98,7%. A localização pode ser feita em projetos gerados de forma digital ou em projetos físicos escaneados para o computador.

Modelo

Para chegar a esses resultados, Renata desenvolveu um modelo que utiliza conceitos e técnicas tanto da ciência da informação quanto da ciência da computação. A ciência da informação contribuiu com os conceitos de organização, tratamento e recuperação de informações. Da computação, ela utilizou técnicas de processamento de imagens. O modelo desenvolvido pela pesquisadora inspira-se na interpretação humana de dados, para aperfeiçoar o processo computacional, o que torna o sistema, segundo ela, mais eficiente.

A criação do protótipo para a busca de dados em projetos de engenharia tem relação com a trajetória acadêmica de Renata Abrantes Baracho. Ela é engenheira arquiteta formada pela UFMG, bacharel em Ciência da Computação pela PUC Minas, mestre em Ciência da Computação pela UFMG, onde acaba de cursar doutorado em Ciência da Informação. A idéia de criar o modelo surgiu, aliás, de sua experiência como engenheira arquiteta. “Eu pude constatar, em várias empresas de engenharia, que havia a necessidade de localizar desenhos nos projetos de forma mais eficiente”, afirma.

Interesse dos bombeiros

O BIP será integrado ao Programa de Gerenciamento do Serviço de Prevenção contra Incêndio e Pânico, desenvolvido pela Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais (Prodemge) para o Corpo de Bombeiros. A informação é do subchefe do Centro Integrado de Defesa Social de Belo Horizonte, major Carlos Alberto Marques de Oliveira. De acordo com ele, desde 2001 os bombeiros têm interesse num sistema desse tipo. São daquela época os primeiros contatos com Renata.
O major explica que, nos próximos anos, todos os projetos de prevenção de incêndio da capital mineira estarão na base de dados do programa. “Ainda temos, em Belo Horizonte, 47 mil projetos em papel, que serão digitalizados”, afirma.