Busca no site da UFMG

Nº 1598 - Ano 34
25.02.2008

A luz que “irriga” o semi-árido

Professor do NCA projeta sistema de irrigação acionado
por energia solar

Luiz Dumont Jr.

O Núcleo de Ciências Agrárias (NCA) da UFMG, sediado no campus de Montes Claros, está projetando e testando um sistema pioneiro de irrigação movido a energia solar que poderá substituir os protótipos convencionais usados no semi-árido mineiro. O projeto, aprovado em edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), é coordenado pelo professor Flávio Pimenta de Figueiredo e será usado na irrigação de frutíferas como goiaba, abacaxi, figo, atemóia e maracujá, que se adaptam bem ao clima do Norte de Minas.

Para irrigar suas propriedades, os agricultores da região utilizam motobombas alimentadas com energia elétrica, que, segundo o professor Pimenta, respondem atualmente por cerca de 30 a 40% dos custos totais da produção de frutíferas. O projeto estuda a substituição da energia elétrica pela solar. Para que isso ocorra, placas fotovoltaicas, dispositivos que absorvem a radiação solar e a transformam em energia elétrica, serão instaladas junto às bombas. “Minha expectativa é obter uma economia de 20 a 30% de água e energia elétrica, implementando um programa de manejo de irrigação”, afirma o professor Flávio Pimenta. Esse manejo, acrescenta, consiste na aplicação do volume exato de água no momento adequado, respeitando as relações entre água, solo, planta e clima.

Eber Faioli
irrigacao

 

Os painéis fotovoltaicos são compostos pela associação de várias células voltaicas, dispositivos que convertem energia solar em eletricidade. O sistema de bombeamento tem três componentes: um conjunto fotovoltaico, um motor de corrente contínua e uma bomba d’água. O painel converte energia solar em corrente elétrica e alimenta o motor que, por sua vez, aciona a bomba d’água. Quando é suprido com potência elétrica suficiente, o motor produz torque mecânico para a bomba começar a trabalhar.

Pimenta enumera várias qualidades das células fotovoltaicas como fonte energética sustentável. Elas não consomem combustível além da luz solar, têm vida útil longa, não poluem nem modificam a temperatura do ambiente. As células voltaicas também são viáveis sob o ponto de vista econômico, pois demandam pouca manutenção e sua matéria-prima, o silício, é o segundo mineral mais abundante da Terra.

Métodos de irrigação

O projeto prevê o estudo de três métodos de irrigação: gotejamento, gotejamento enterrado e microaspersão. No primeiro, uma área específica, próxima às raízes das plantas, é irrigada por meio de uma rede de gotejadores ligada por mangueira alimentadora a uma fonte de água. Esses gotejadores fornecem uma vazão lenta e permanente, permitindo que a água seja facilmente absorvida pelo solo. Em um sistema bem ajustado, há pouca chance de desperdício. O gotejamento enterrado possui o mesmo mecanismo, porém é instalado a alguns centímetros abaixo da superfície. Já a microaspersão tem o mesmo princípio de funcionamento do aspersor, porém com vazões menores e de forma localizada, ou seja, aplicada no pé das plantas.

Segundo o professor Pimenta, os métodos serão pressurizados para aplicação das vazões requeridas, que, por sua vez, são fornecidas pelo conjunto motobomba acionado pelo sistema alternativo de energia solar. A avaliação dos sistemas ocorrerá trimestralmente, levando-se em conta os critérios de uniformidade, eficiência e consumo de energia.

A pesquisa será realizada em uma área experimental de quatro mil metros quadrados localizada no NCA. “Já preparamos o orçamento dos equipamentos e a licitação para implantação do projeto”, explica. Ao longo da pesquisa, com duração prevista de dois anos, a seleção das frutíferas será feita com base na adaptação à região e na sua possibilidade de agregar valor comercial, por meio do processamento das frutas em geléias, polpas e compotas. “É um trabalho pioneiro no Norte de Minas. Esperamos que ele possa ajudar a viabilizar o uso racional da agricultura irrigada", projeta Flávio Pimenta.

A pesquisa é voltada para pequenos e médios produtores que vivem da agricultura familiar. Eles serão beneficiados com cursos e projetos de extensão. “A tecnologia em estudo é pouquíssimo utilizada na região”, diz o professor Pimenta, ao lembrar que não mais que três proprietários locais valem-se da energia solar, ainda assim usada apenas para aquecimento de água ou para acionamento de pequenos eletrodomésticos residenciais.