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Nº 1604 - Ano 34
04.04.2008

Estudo revela os efeitos da adoção do bônus na UFMG

Simulação mostra que, com o bônus, aprovação de estudantes de escolas públicas aumentaria em 15 pontos percentuais

Ricardo Bandeira

A adoção, no Vestibular da UFMG, de um bônus para candidatos egressos de escolas públicas aumentaria para cerca de 50% a proporção desses estudantes entre os aprovados no concurso. É o que revela uma simulação feita pela Pró-Reitoria de Graduação, com base nos dados do Vestibular 2006. Naquele ano, em torno de 35% dos calouros da UFMG haviam estudado em escolas públicas. Se a pontuação adicional já estivesse em vigor, eles seriam metade dos aprovados.

A proposta de adoção do bônus será avaliada pelo Conselho Universitário. Ela foi aprovada no mês passado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) e prevê atribuição de adicional de 10% na pontuação obtida pelos candidatos que freqüentarem todo o ensino fundamental e médio em escolas públicas.

A simulação da Pró-Reitoria de Graduação mostra que o bônus teria forte impacto em cursos tradicionalmente muito concorridos e que contam com pequena parcela de estudantes do ensino público. Em 2006, o mais disputado foi Medicina, com 29,14 candidatos por vaga. Dos aprovados no curso naquele ano, 14% estudaram em escolas públicas. Se o bônus tivesse sido aplicado, a proporção seria de 38%. Em Comunicação Social, segundo mais concorrido em 2006, com 27,23 candidatos por vaga, a presença de estudantes do ensino público subiria de 14% para 31%. No terceiro mais disputado, Fisioterapia (26,38 por vaga), a proporção aumentaria de 23% para 47%.

A maior diferença seria sentida no curso de Farmácia (16,89 por vaga), que contou com 14% de calouros egressos da escola pública. Com o bônus, eles seriam 59%, mais de quatro vezes o índice registrado em 2006. Nas áreas que normalmente contam com grande parcela de estudantes do ensino público, o impacto existiria, mas seria menor. No curso noturno de Pedagogia, a proporção subiria de 86% para 94%.
“Com o bônus, é possível que parte dos estudantes passe a concorrer a cursos considerados de maior prestígio”, afirma o pró-reitor de Graduação, Mauro Braga. Segundo ele, alguns candidatos desistem de tentar Medicina, por exemplo, por acreditarem não ter chances na seleção.

A proposta de pontuação adicional se baseia na premissa de que alunos da rede pública enfrentam um caminho mais difícil para chegar ao vestibular do que os concorrentes de escolas particulares. Além de a qualidade do ensino público ser considerada inferior, nele se concentram estudantes das camadas mais pobres da população. O bônus de 10% é uma tentativa de equilibrar a disputa e promover inclusão social.

Só pela internet

A Pró-Reitoria de Graduação anunciou a primeira novidade para o Vestibular 2009 da UFMG. As inscrições, pela primeira vez, serão feitas apenas pela internet. O pró-reitor Mauro Braga afirma que a medida vai agilizar os procedimentos da Comissão Permanente do Vestibular (Copeve) e permitir um período maior de inscrições.

Para ele, a mudança não significará exclusão social. No Vestibular 2008, 58 mil dos mais de 65 mil candidatos se inscreveram pela internet. Segundo Braga, dados da Copeve mostram que os sete mil estudantes que preferiram os Correios não se concentravam no interior do estado nem nas classes mais pobres.

internet

Levantamento feito pela UFMG entre 51 instituições federais de ensino superior aponta que 39 delas só aceitam inscrições pela internet. Outras dez conjugam a internet com outras modalidades, como as inscrições presenciais ou pelos Correios.

 

Reversão

A pontuação adicional deverá reverter, de forma significativa, um processo verificado nos últimos anos: a constante redução do ingresso de estudantes de escolas públicas na UFMG. Em 2002, eles representavam quase 40% do total. Em 2007, eram 31%. A exceção foi o Vestibular 2008, que registrou aumento dessa proporção para 33,1%, mesmo diante da queda do número de inscritos oriundos da rede pública (de 51%, em 2007, para 49%, em 2008).

De acordo com Braga, ainda não se sabe se o aumento foi aleatório ou significativo, nem a causa da variação. Os números estão sendo analisados pelo Departamento de Estatística do ICEx. O que é possível afirmar, segundo o pró-reitor de Graduação, é que a mudança de duração da primeira etapa do vestibular, que passou a ser realizada em um dia, não prejudicou candidatos da escola pública. Até 2007, a primeira etapa durava dois dias.

Foca Lisboa
Mauro
Mauro Braga apresentou números que revelam efeitos da pontuação adicional no Vestibular

A mudança também não afetou o desempenho dos candidatos nas provas. Um indicativo é a nota de corte, que oscilou, em média, apenas 0,4% em relação a 2007. Foi, ao lado do Vestibular 2006, a menor variação desde 2001. “Os dados mostram que a primeira etapa em dois dias não agregava nada à qualidade da seleção”, diz Braga. A redução para um dia representou economia de R$ 1 milhão para a Universidade e seguiu tendência verificada em outras instituições federais de ensino superior.