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Nº 1604 - Ano 34
04.04.2008

Um teste para medir a alfabetização

aluno

 

Ceale elabora Provinha Brasil, instrumento de avaliação que será aplicado aos alunos do segundo ano de escolaridade

Estados e municípios começam a aplicar, este mês, a Provinha Brasil, novo instrumento para avaliar o nível de alfabetização das crianças que estudam em escolas públicas, no segundo ano de escolaridade. Coordenado pela Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), o teste tem todo o material pedagógico elaborado pelo Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da UFMG, a convite do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

A escolha baseou-se na experiência do Ceale na área. Entre outras atividades, o órgão, ligado à Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, é responsável por avaliar o nível de aprendizado de alunos do programa Brasil Alfabetizado, do MEC, e é parceiro do governo de Minas no Proalfa, que mede a alfabetização dos estudantes da rede pública do estado.
“Há algum tempo trabalhamos com avaliação em larga escala. Esse trabalho é resultado de nossa trajetória, dos projetos de pesquisa e formação de professores alfabetizadores”, afirma Francisca Izabel Pereira Maciel, diretora do Ceale e coordenadora da equipe que elaborou a Provinha Brasil.

De acordo com a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, o novo teste difere de outros aplicados no país, como a Prova Brasil (4ª e 8ª séries), o Enem (ensino médio) e o Provão (ensino superior). Ao contrário destes, a Provinha Brasil não terá seus resultados traduzidos em rankings de municípios ou escolas. “A Provinha não é apenas mais um instrumento de avaliação. Ela é um instrumento de gestão do processo de alfabetização”, diz a secretária.

O principal objetivo, segundo ela, é produzir um retrato da alfabetização das crianças no segundo ano de escolaridade. De posse dos dados, as secretarias de educação poderão atuar mais rapidamente para corrigir problemas e melhorar a formação dos professores.

A Provinha Brasil é prevista no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), lançado pelo MEC no ano passado e que tem como uma de suas metas a alfabetização, até 2021, de todas as crianças com idade até 8 anos. Hoje, cerca de 30% delas não são alfabetizadas. E o problema não é falta de escola, já que o índice de alunos não matriculados gira em torno de 2%.

Aluno e professor

A elaboração da Provinha Brasil pelo Ceale segue as diretrizes do Ministério da Educação. De acordo com Francisca Maciel, a idéia não é diferenciar uma escola da outra, mas influir na preparação do professor e no aprendizado dos alunos. “Partimos do pressuposto de que as avaliações devem ser a favor do aluno e do professor. É importante o tratamento estatístico, mas tem de haver um diálogo com a dimensão pedagógica. Pretendemos que o professor repense e reflita sobre sua prática”, afirma a diretora do Ceale.

Ela destaca que a Provinha Brasil não define os conteúdos a serem utilizados pelo professor. A intenção é mostrar com que competências e habilidades ele precisa trabalhar para que o aluno aprenda a ler e escrever. “Matriz de avaliação é diferente de matriz de ensino”, sentencia Francisca. Outra característica do material produzido pelo Ceale é o foco na perspectiva do letramento, ou seja, não apenas na aquisição das habilidades pelo aluno, mas também nos usos e funções sociais da leitura e da escrita.

O Inep pretende tornar contínuo o processo de avaliação. A Provinha Brasil poderá ser aplicada sempre no início e no fim do segundo ano de escola, para permitir um acompanhamento da evolução dos estudantes ao longo do período.

Adesão voluntária

Além de não dar origem a rankings, a Provinha Brasil tem aplicação descentralizada. Ela não é obrigatória e depende da adesão de estados e municípios. Os responsáveis pelas redes públicas de ensino podem baixar o material pedagógico pela internet, reproduzir e distribuir os testes. Entretanto, 3.133 municípios terão tratamento diferenciado, por não estarem bem avaliados segundo os parâmetros do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Eles receberão o material impresso.

A aplicação e a correção das provas ficarão a cargo dos próprios professores. Isto permitirá a eles acompanhar o desempenho dos alunos, por meio de parâmetros de avaliação previamente testados. Antes dessa primeira aplicação, o Inep submeteu a Provinha Brasil a um pré-teste com 20 mil alunos de todo o país, o que permitiu correções no material, feitas pelo Ceale.

A primeira edição da Provinha Brasil contém 24 questões que medem habilidades de leitura e escrita. Posteriormente, o MEC pretende incluir a matemática no teste. A elaboração do material contou diretamente com 15 integrantes da equipe do Ceale, apoiados por outros professores e estudantes de pós-graduação da FaE.

A Provinha Brasil está disponível no endereço http://provinhabrasil.inep.gov.br. O download só é permitido a gestores de educação com senha de acesso ao sistema Educacenso. Nas escolas municipais de Belo Horizonte, a prova será aplicada em 22 e 25 de abril. Nas escolas estaduais de Minas, a aplicação e o cronograma ficarão a cargo de cada estabelecimento.