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Nº 1604 - Ano 34
04.04.2008

Debater, transmitir, pensar

Projeto criado na FaE mira alvos como o resgate da escola pública de qualidade

Itamar Rigueira Jr.

Paulo Cerqueira
luciano
Luciano Faria Filho: em busca de uma comunicação eficiente

A educação passou a freqüentar a mídia com espantosa assiduidade nos últimos anos, mas reina certo mal-estar: pesquisadores da área acham que os comunicadores tratam o assunto de forma inexata, e os profissionais da mídia consideram que os educadores não conseguem chegar ao público. Além disso, essa exposição fez crescer uma onda de supervalorização do papel das políticas educacionais para melhorar o Brasil. A partir de observações desse gênero, pesquisadores da Faculdade de Educação da UFMG resolveram criar o projeto Pensar a Educação Pensar o Brasil 1822–2022.

O projeto, que teve início no ano passado, desenvolve-se em torno de cinco vertentes: séries anuais de encontros de âmbito nacional, programa semanal na rádio UFMG Educativa (104,5 FM, em Belo Horizonte),coleção de livros, projetos interinstitucionais de pesquisa e página na internet.
“Os problemas da saúde, da segurança e da distribuição de renda são sempre creditados à falta de educação. É claro que a educação é muito importante, mas esses aspectos dependem de uma série de outras políticas. A educação não é a salvação da pátria”, argumenta Luciano Mendes de Faria Filho, professor da FaE e um dos coordenadores do Pensar a Educação Pensar o Brasil. O outro responsável pelo projeto é o professor Tarcísio Mauro Vago, da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG, e, ao lado de Luciano, professor da pós-graduação da FaE.

Os encontros promovidos este ano discutem as reformas educacionais, que parecem tão naturais no Brasil. “A escola precisa de continuidade, de projeto pedagógico consistente. Mas é muito fácil reformar a escola, que está sempre em crise. É muito fácil reformar a escola dos outros. Na hora de escolher uma para nossos filhos, procuramos as tradicionais”, afirma Luciano de Faria Filho.

Na mesma linha, os seminários de 2007 questionaram o fato de que nas últimas décadas, com o afastamento da classe média, a escola pública perdeu um interlocutor qualificado, capaz de discuti-la e defendê-la. “Isso significou também que os acadêmicos deixaram esse debate. Nosso objetivo é desconstruir imagens que marcam a escola pública e a privada. As diferenças não são naturais nem imutáveis”, diz o professor da FaE, para quem a classe média precisa voltar seu olhar para a educação pública, que deve ser vista como um direito de todos. Nos próximos anos, os debates deverão manter seu foco, desdobrados em temas como a qualidade do ensino e a relação entre a escola pública e instâncias como a comunidade e a família.

Nas ondas do rádio

As idéias e atividades do projeto Pensar a Educação Pensar o Brasil têm outro impacto importante, ao reunir e mobilizar, em torno de questões cruciais, professores e alunos de ensino médio, graduação e pós. Nesse sentido, segundo Luciano Faria, o programa das noites de segunda-feira na UFMG Educativa tem sido muito interessante. “Conquistamos o envolvimento de bolsistas de várias áreas e um retorno muito positivo tanto dos convidados para entrevistas quanto do público de várias partes do Brasil, que nos ouve pelo rádio ou pela internet”, comemora Luciano. Segundo ele, o objetivo não é dar aulas no rádio. “Estamos aprendendo. Queremos que mais gente de educação saiba falar com o público e que mais gente de comunicação entenda a educação”, diz.

O projeto segue os passos da Faculdade de Educação da UFMG, que tem longa tradição de envolvimento com a escola pública, entendida, destaca o coordenador, como “fundamental para a valorização do espaço público em geral e para a democracia”. A perspectiva expressa em seu nome – Pensar a Educação Pensar o Brasil 1822-2022 – deixa poucas dúvidas sobre as ambições do grupo. Com a aproximação do bicentenário da Independência brasileira, faz todo o sentido discutir, sob o viés da educação, os caminhos para se chegar a um país verdadeiramente independente.