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Nº 1615 - Ano 34
23.06.2008

Executivos precoces

Foca Lisboa
junior
Mariana Penido (esq.) e integrantes da empresa dos cursos de engenharias de Produção e Mecânica: metodologias de gestão

Empresas juniores ajudam estudantes a incorporar, em sua formação, questões do cotidiano profissional

Luiz Dumont Jr.

Como conseguir uma boa formação acadêmica e acumular experiência profissional antes de terminar o curso? Essa é uma dúvida que aflige todos os estudantes de graduação. A resposta – ou pelo menos parte dela – pode estar no trabalho das empresas juniores (EJs) que atuam na UFMG, oferecendo um ambiente profissional sem se distanciar da teoria ensinada em sala de aula.

Existe até uma entidade, o Núcleo UFMG Júnior, que reúne as EJs da Universidade e incentiva o surgimento de novas organizações. O Núcleo, ao qual estão filiadas 11 empresas juniores, realiza eventos internos e trabalha para estreitar o contato das empresas com a Federação de Empresas Juniores do Estado de Minas Gerais (Fejemg) e a Brasil Júnior, órgão que reúne as federações de empresas juniores do país.

Segundo Henrique Carneiro Campos Glória, diretor-presidente da Consultoria e Projetos Elétricos Júnior (CPEJr), empresa dos cursos de Engenharia Elétrica e Engenharia de Controle e Automação, que coordena o Núcleo, há uma relação estreita entre essas organizações. “O movimento empresa júnior é, por assim dizer, altruísta. Nunca olhamos para uma empresa como concorrente, e sim como parceiro, que também quer aprender”, comenta.

Para Henrique Campos, que cursa o terceiro período de Engenharia Elétrica, a participação em EJs conferem um perfil gerencial aos seus integrantes. “Um estudante de engenharia adquire muitos conhecimentos técnicos durante o curso, mas há uma carência em relação a questões gerenciais”, diz Campos. Essa lacuna, em muitos casos, acaba preenchida pelas EJs. “Elas garantem uma formação complementar, oferecendo ferramentas e ajudando a desenvolver lideranças”, diz.

Outra preocupação das empresas juniores diz respeito ao papel que exercem na sociedade. De acordo com Henrique Carneiro, os clientes das EJs são pequenas e médias empresas, além de setores da própria Universidade. “Esses clientes são o nosso foco principal. Vendemos a eles serviços por preços bem mais acessíveis”, argumenta o diretor. A oportunidade de oferecer um produto com preço abaixo do mercado abre portas para alavancar empresas que não possuem capital para contratar consultorias especializadas. “Nós pensamos pelo lado do desenvolvimento social. Há pessoas que precisam da nossa ajuda para desenvolver uma agricultura de base ou começar seu próprio negócio”, afirma Diogo de Moura Cordeiro, aluno do 4º período de Engenharia Elétrica e conselheiro administrativo da CPEJr.

Tipo exportação

O trabalho das empresas juniores brasileiras, sobretudo da UFMG, será apresentado internacionalmente no próximo mês. Entre os dias 2 e 7 de julho, a CPEJr, junto com a Produção Júnior Consultoria e Assessoria, empresa dos cursos de Engenharia de Produção e Engenharia Mecânica, apresentarão, cada uma, dois workshops na Conferência Mundial de Empresas Juniores. O evento reunirá cerca de 500 empresários juniores da Europa, Brasil e Ásia. Dos 70 trabalhos que serão expostos, 10 são de empresas brasileiras – quatro da UFMG.

Com o tema Balanced Scorecard – BSC – O desenvolvimento de uma empresa júnior baseado no alinhamento da estratégia global da organização, o primeiro workshop da Produção Júnior tratará da implantação de mecanismos de gestão estratégica com base no Balanced Scorecard (BSC), metodologia utilizada nas grandes empresas para definir estratégias, metas e caminhos para alcançar resultados. “Vamos demonstrar como implementar essa ferramenta em uma empresa júnior, cuja realidade não é a mesma de uma empresa convencional”, afirma Mariana Penido, diretora-presidente da empresa.

O segundo workshop, intitulado Gerenciamento de Projetos de uma empresa Júnior baseado em práticas mundialmente reconhecidas – o Guia PMBoK, foi elaborado com base no livro-guia PMBoK, sigla em inglês para Project Management Body of Knowledge, publicação que reúne as melhores técnicas e práticas de gerenciamento de projetos no ambiente profissional. “A partir do PMBoK, implementamos a nossa metodologia, chamada Ciclo de Projetos Externos, o Cpex”, afirma Mariana. Dipor de uma metodologia de construção de projetos, segundo ela, é fundamental para a rotina de organizações de alta rotatividade, como as empresas juniores. “Se não tivermos um mínimo de padrões gerenciais descritos, o conhecimento se perde”, argumenta Mariana Penido.

A Consultoria e Projetos Elétricos Júnior (CPEJr) levará a Portugal duas ferramentas implantadas em seu dia-a-dia de trabalho. O primeiro workshop, com o tema Plano de Milhagem – Análise de Desempenho e Bonificações Motivantes, mostra a preocupação da empresa com a motivação dos seus membros. Como as EJs não visam lucro e seus integrantes são voluntários, a CPEJr elaborou um modo de recompensá-los materialmente, sem ferir sua natureza. As atividades realizadas na empresa resultam em uma pontuação mensal acumulada pelos membros, que podem convertê-la em prêmios, como chaveiros, camisas da empresa ou livros.

O segundo workshop está relacionado à busca de parcerias capazes de agregar valor ao produto oferecido pela empresa. ”Montamos uma espécie de árvore ou rede de parcerias”, afirma Diogo Cordeiro. “Um cliente que vai construir um prédio, por exemplo, precisa de instalações elétricas e hidráulicas. A partir dessa demanda, definiremos qual empresa fornecerá o material, levando em conta a localização da obra e o preço do produto”, explica. Segundo o estudante, com essa ferramenta focada nos clientes é possível identificar potenciais parceiros para os projetos realizados pela empresa no futuro.

Clique para ver as empresas juniores que atuam na UFMG.

A mais júnior de todas

Há dois anos, as estudantes Andréia Oliveira de Paula e Daniela Santos, hoje no nono período de Enfermagem, saíram de uma aula que associava administração e enfermagem com uma idéia na cabeça: montar uma empresa. A idéia ganhou materialidade no dia 20 de junho, com o lançamento da empresa Arterial UFMG – Consultoria e Assessoria Júnior em Enfermagem. Andréia e Daniela são, respectivamente, presidente e diretora-geral da mais nova empresa júnior da UFMG. “Quando tivemos essa primeira aula, pudemos ver para onde o barco andava na nossa profissão”, explica. “Ficamos uma aula planejando detalhadamente como seria a empresa e colocamos tudo no papel”, completa Daniela.

Ao comentar a idéia com um amigo que participava de outra empresa júnior, este sugeriu a abertura de uma EJ. “Ficamos quase um ano visitando outras empresas e recebemos muito apoio”, lembra Daniela Santos.

Segundo as diretoras, o primeiro desafio é consolidar a empresa, permitindo a ela caminhar com suas próprias pernas. O 'empurrãozinho' inicial foi dado pela direção da Escola de Enfermagem, que emprestou o material e arcou com as despesas administrativas de abertura da EJ. “O que temos aqui é emprestado. Nossa intenção é devolver tudo", afirma Andréia Oliveira.

De início, a empresa atuará na gestão de cursos voltados para a saúde.“Organizaremos cursos para estudantes e profissionais de enfermagem, além de um curso de capacitação para babás que cuidam de recém-nascidos”, explica a diretora. “Posteriormente, planejamos prestar consultoria nas áreas de administração hospitalar, de qualidade e de cuidados domiciliares”, acrescenta Andréia.

A empresa também pretende ajudar a quebrar paradigma que cerca a formação do enfermeiro, que ainda associa seu trabalho apenas a hospitais e postos de saúde. O objetivo é criar condições para que o estudante que passe pela Arterial possa atuar como consultor da área de saúde.