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Nº 1624 - Ano 34
08.09.2008

Ciências Agrárias cultiva talentos

Oficinas com práticas de campo e laboratório põem alunos da zona rural de Montes Claros em contato com ambiente acadêmico

Juliana Paiva
Oficina de Microscopia: oportunidade de contato com práticas laboratoriais

Juliana Paiva*

Todas as quintas-feiras, Eugênia Alves Dias, de 15 anos, acorda às 5h30 da manhã para ir à Universidade. Ela precisa caminhar cerca de meia hora para, depois, pegar o ônibus que a leva, juntamente com 14 colegas, ao campus regional da UFMG em Montes Claros, onde funciona o Instituto de Ciências Agrárias (ICA). O curioso é que até quatro meses atrás ela nunca tinha ouvido falar da UFMG ou sequer sabia o que era uma universidade ou faculdade. Aluna da 8ª série da Escola Municipal Mariana Santos, na zona rural de Montes Claros, a jovem participa do projeto de extensão Jovens Talentos.

Trinta alunos da 5ª a 8ª série do ensino fundamental, de duas escolas municipais, fazem parte do projeto, iniciado em 2007. A seleção das escolas e dos participantes fica a cargo da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer de Montes Claros, que também é responsável pelo transporte dos estudantes.

Desde o mês de maio, eles participam, uma vez por semana, de oficinas que incluem práticas de campo e de laboratórios. Os temas são ligados a ciências básicas, solos, agroindústria, ambiente, biotecnologia, produção animal e vegetal. Quem expõe os conteúdos e orienta as práticas são os alunos de graduação em Agronomia e Zootecnia e do mestrado em Ciências Agrárias, com concentração em Agroecologia, orientados por professores. Dessa forma, o projeto realiza um de seus objetivos: permitir aos alunos do ICA o contato com a docência, um dos possíveis caminhos da futura atuação profissional.

Um deles é Luis Guilherme Cangussu Araújo, da Zootecnia, encarregado da oficina de Avicultura. Apesar de grande intimidade com o tema, já que trabalha com as aves desde que ingressou no curso, ele encara a missão como um desafio: “É difícil me livrar dos termos técnicos e falar de um jeito que eles entendam”.

Mesmo sem nunca ter pensado em seguir carreira acadêmica, Michele da Silva Teixeira, da Agronomia, também está envolvida com o Jovens Talentos e tem sob sua responsabilidade a oficina de Aproveitamento Total de Alimentos. Para ela, que todas as semanas recebe e acompanha uma das turmas de estudantes durante sua estada no campus, a oportunidade de integração com a comunidade é o que mais motiva a participar do projeto de extensão.

Acesso possível

Juliana Paiva
Eugênia Dias: caminhada e viagem de ônibus para chegar ao ICA

Difundir conhecimentos e despertar nos alunos de escolas públicas o interesse pelo estudo estão entre os objetivos do projeto. Idealizador e coordenador do Jovens Talentos, o professor Delacyr da Silva Brandão Junior acrescenta que a iniciativa ajuda a desfazer a idéia de que a universidade é algo distante. “Aqui, eles são recebidos como alunos da UFMG, pois participam de um projeto de extensão da Universidade. Eles precisam entender que aqui também é para eles”, enfatiza.

Eugênia Dias parece já ter percebido essa intenção e declara: “Quero fazer Agronomia”. Apesar da decisão ser precoce e certamente influenciada pelo pouco que passou a conhecer do ensino superior, a vivência na Universidade serviu para mostrar que a possibilidade existe. Douglas Matheus Silva, 14 anos, também aposta nisso e faz planos para deixar o campo e mudar-se para a cidade a fim de continuar os estudos depois de terminar o ensino médio.

Para a diretora da Escola Municipal Alcides Carvalho, Deusmira Alves Maia Costa, além de ajudar os estudantes a identificarem suas vocações, esse contato precoce com a Universidade pode ajudar a diminuir o “choque” que eles costumam sofrer ao entrar para o ensino superior e perceber que a realidade é bastante diferente da vivenciada nas escolas que freqüentaram até então.

Os alunos que participam do Jovens Talentos têm o compromisso de compartilhar o que aprendem nas oficinas com os seus colegas. Uma oportunidade é dada por meio da Mostra do Conhecimento, que acontece no final do ano. Em estandes, eles apresentam os conteúdos das diferentes disciplinas.

Ainda dentro do projeto, o ICA atende a demanda de outras escolas públicas da cidade e região que solicitam visitas monitoradas ao campus. Foi o que aconteceu este ano com a Escola Municipal Nair Fonseca Brandão, da zona rural de Montes Claros, localizada a cerca de 100 quilômetros do campus.

*Jornalista do Cedecom/ICA