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Nº 1624 - Ano 34
08.09.2008

Rebeldes com causa

Estudo de professora da Enfermagem identifica resistência à insulina entre adolescentes obesos

Paula Lanza

Adolescentes com obesidade abdominal tendem a ser mais resistentes à ação da insulina, hormônio responsável pela redução das taxas de glicose, substância associada ao aparecimento de enfermidades crônicas, como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares. Esta é uma das principais conclusões de estudo desenvolvido pela professora Luana Caroline dos Santos, do curso de Nutrição da Escola de Enfermagem.

Segundo a professora, a gordura abdominal contribui para aumentar as frações de colesterol circulantes no sangue, favorecendo a secreção de citocinas – proteínas de baixo peso molecular que atuam como mensageiras do sistema imune – e de hormônios pelas células gordurosas, os adipócitos. “Tais células agem nos tecidos, tornando-as mais resistentes à ação da insulina e diminuindo sua sensibilidade ao hormônio”, explica Luana dos Santos.

O estudo foi desenvolvido no Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente (CAAA), do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Atendendo a anúncios publicados em jornais e revistas, 49 jovens – 12 meninos e 37 meninas, com média de idade de 16,6 anos – se prontificaram a colaborar como voluntários. A pesquisa não incluiu jovens que tomassem glicose e medicamentos alteradores de peso ou que afetassem o metabolismo lipídico. Também foram excluídos adolescentes com doenças crônicas e com peso superior a 120 quilos.

Resultados

O levantamento encontrou valores elevados de insulina no sangue de 40,2% dos adolescentes, enquanto a resistência ao hormônio foi identificada em 57,1% dos participantes. Luana dos Santos observou que adolescentes com resistência à insulina apresentavam maior índice de massa corporal e gordura do tronco (região central) e de leptina, hormônio protéico secretado principalmente pelo tecido adiposo e que age no cérebro para inibir a ingestão de alimentos.

“É importante ressaltar que a população do estudo era constituída de adolescentes clinicamente saudáveis e que apresentavam excesso de peso ainda sem tratamento”, salienta a professora Luana. Assim, foi possível identificar que a obesidade, mesmo em idades precoces, altera o controle metabólico do organismo, intensificando a possibilidade de desordens, entre elas a resistência à insulina. Isso pode aumentar o risco, na fase adulta, de enfermidades não-transmissíveis, como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares.

A professora Lígia Martini, da Universidade de São Paulo, orientadora e co-autora de artigo publicado por Luana dos Santos, afirma que a pesquisa comprova que, além da genética, outros fatores estão envolvidos com o fenômeno, como obesidade, dieta inadequada e falta de atividade física. “Os fatores genéticos são responsáveis por menos de 10% dos casos de resistência à insulina. O papel da dieta inadequada é muito mais significativo. O excesso de açúcares e gorduras e a chamada junk foods* contribuem para que a insulina não atue adequadamente, captando a glicose para dentro das células”, revela Lígia.

*Junk food, “comida-lixo” numa tradução literal do inglês, é uma expressão usada para designar alimentos com alto teor calórico, mas com níveis reduzidos de nutrientes. Contém elevados níveis de gordura saturada, sal ou açúcar e numerosos aditivos alimentares. Em contrapartida, é carente de proteínas, vitaminas e fibras dietéticas. O consumo de junk food tem sido associado ao surgimento da obesidade, doenças coronarianas, diabetes tipo 2, hipertensão e cáries.

Foca Lisboa
Luana dos Santos: obesidade altera controle metabólico, mesmo nos jovens

Estudos ganham espaço em publicações especializadas

Os resultados das pesquisas desenvolvidas pela professora Luana Caroline dos Santos vêm ganhando espaço em algumas das mais importantes publicações científicas do Brasil. O artigo mais recente, veiculado em 5 de setembro nos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, trata da associação entre perda de peso, massa óssea, composição corporal e o consumo alimentar de adolescentes obesos pós-púberes. Suas conclusões baseiam-se em trabalho de acompanhamento dos mesmos adolescentes que aceitaram se submeter ao estudo que associou a obesidade abdominal à resistência à insulina. Foram cerca de 10 meses de intervenção multiprofissional com orientações nutricionais e dieta hipocalórica, combinadas ao incentivo à atividade física.

O título do trabalho, Efeitos da perda de peso sobre a massa óssea e alterações metabólicas de adolescentes obesos pós-púberes, é o mesmo de sua tese de doutorado, defendida há quase um ano na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP).

Já a revista São Paulo Medical Journal publicou este ano o trabalho Gordura corporal central e resistência à insulina em adolescentes obesos pós-púberes, escrito por ela em co-autoria com os professores Isa de Pádua Cintra e Mauro Fisberg, da Unifesp, e Lígia Araújo Martini, da USP. O primeiro artigo da série, que saiu há cerca de dois anos na Revista Brasileira de Nutrição Clínica, fez uma revisão dos efeitos da perda de peso na densidade mineral óssea em indivíduos obesos.