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Nº 1624 - Ano 34
08.09.2008

Conhecimento no ar

Programas produzidos e apresentados por professores e alunos da UFMG Educativa trazem prazer e informação para quem faz e quem ouve

Itamar Rigueira Jr.

Coordenadoras de projeto de extensão, elas sempre acharam que a UFMG – e sobretudo o ICB, unidade em que trabalham – deveria se abrir mais. E pensavam que o rádio seria uma ótima forma de levar para fora o conhecimento gerado na Unidade. O ano era 2005 e, enquanto isso, o Centro de Comunicação (Cedecom) preparava o lançamento da rádio UFMG Educativa. A novidade chegou até as pesquisadoras Adlane Vilas-Boas e Débora Reis, que correram para propor uma parceria. Nascia ali o Na onda da vida. Orgulhosas, elas estão entre os professores e alunos que mantêm programas desde as primeiras transmissões da emissora, que completou três anos no último dia 6.

Literatura, direito, saúde, música latina, música para crianças, internet, educação e muitos outros temas recheiam as pílulas, programetes e até os programas longos produzidos por integrantes da comunidade acadêmica, com assessoria de técnicos, produtores, estagiários e jornalistas da UFMG Educativa. E tem gente na fila de espera. “Nossa intenção sempre foi abrir a rádio para a Universidade, oferecendo programação diversificada e incentivando que a comunidade se reconhecesse na emissora. Um dos nossos grandes diferenciais são os programas em parceria com a UFMG. Os setores passaram a nos procurar”, conta o radialista Elias Santos, coordenador da UFMG Educativa.

Quebrando o gelo

Quando a rádio foi inaugurada, o Na onda da vida já tinha algumas edições gravadas. Depois de conversas sobre o formato e oficinas de preparação para as estreantes no veículo, Adlane e Débora começaram a abordar variados assuntos ligados às ciências biológicas – da epilepsia aos cristais em plantas. Estudantes do ICB buscam as informações com professores, que são cada vez mais receptivos à idéia de contribuir com o programa – um terço do corpo docente do ICB já colaborou. “O desafio é transmitir essa informação de forma interessante. E eu adoro escrever”, diz Adlane, vinculada ao Departamento de Biologia Geral. Ela acha que há poucos programas de divulgação científica, e o Na onda da vida, “nascido numa unidade que tem fama de produzir muita pesquisa, ajuda a quebrar esse gelo”.

Pioneira ao lado de Adlane, Débora Reis, do Departamento de Morfologia, passou mais tarde a coordenar outro programa. Desdobramento do projeto de extensão homônimo, o Universidade das crianças tem duração de dois minutos e meio e responde perguntas de meninos e meninas de 9 a 11 anos sobre corpo humano e meio ambiente. As respostas de especialistas em medicina, biologia e geografia voltam para as crianças, e o programa também analisa a compreensão que elas demonstram sobre os temas.

“Nosso objetivo é resgatar a pergunta, a coisa mais importante do fazer científico”, explica a pesquisadora, que se declara insatisfeita com a forma como a ciência é tratada atualmente. “Os cientistas deixam de fazer perguntas e pesquisam aquilo que é mais publicável”, ela diz. Débora destaca o prazer de estar com as crianças, que também ficam fascinadas, porque podem manipular o equipamento das gravações. “Valorizamos o conhecimento e a linguagem delas”, conta Débora.

Se o rádio é um veículo talhado para a tradução de assuntos difíceis em linguagem simples e agradável, a professora Mônica Sette Lopes, da Faculdade de Direito, está no lugar certo. Juíza do Trabalho, Mônica estuda canto e toca violão e lança mão dessas habilidades na sala de aula. Sente-se totalmente à vontade na produção e apresentação do programa Direito é música. “Nossa área é complicada, lida com problemas o tempo todo, e no programa tenho liberdade. Posso falar de direito sem nenhuma reserva, inventar o que quiser”, vibra a professora, que já utilizou canção de Gilberto Gil para ilustrar comentário sobre conflitos e interpretação da lei e o enredo do filme Cinema Paradiso para falar de Platão. Mônica diz que tudo é válido para divulgar o direito, e que ela se diverte ao mesmo tempo em que passa o conteúdo acadêmico. “É meu passatempo preferido”, completa.

No compasso da latinidade

Filipe Chaves
Mauro Braga: histórias ligadas às canções

Entre os programas musicais produzidos em parceria com a comunidade acadêmica, um dos mais originais é comandado pelo professor Mauro Braga, pró-reitor de Graduação da UFMG. Seu Compasso latino leva aos ouvintes tangos, boleros, rumbas e outros ritmos e estilos que ele conhece como poucos. “Sou consumidor desse tipo de música desde antes de aprender a ler, e sempre gostei de conhecer o contexto em que as canções foram compostas e gravadas e detalhes da produção dos discos”, conta Mauro Braga, que revela ter uma biblioteca “razoável” sobre a música latino-americana e um grande acervo – calculado entre 500 e 700 discos de vinil, que se somam a centenas de CDs comprados sobretudo em viagens de férias.

O processo de escolha do compositor ou cantor que terá sua obra apresentada nos programetes parte geralmente de histórias que ele captura nas muitas leituras sobre o tema. Com a facilidade proporcionada pela internet, Mauro Braga tem feito descobertas valiosas, às vezes por puro acaso. “Há pouco tempo, interessado em alargar a abrangência de minhas pesquisas, cheguei à história de um compositor venezuelano, preso político, que compôs na cadeia uma música para a filha”, relembra.
A união entre o hobby e as viagens também tem se convertido em boas edições do Compasso Latino. Em Cuba, Braga conheceu a capa do único disco gravado pela cantora Fredesvinda García. Não pôde ouvir por causa de um problema no toca-discos do anfitrião. Mais tarde, num sebo em Paris, reconheceu aquela capa em um CD que era a remasterização do LP.

Mauro Braga redige e apresenta o programa. Aos poucos, foi mudando o modo de preparar os textos e fazer a locução, seguindo as orientações dos especialistas. “É difícil dizer se está adequado. Hoje repito menos o texto, mas não sei se melhorei ou se o pessoal deixou de ser tão exigente”, brinca.

Ondas poéticas

E que tal ouvir poesia no rádio, de manhã e à noite? Vera Casa Nova, professora da Fale, garante a programação, sob direção da jornalista Rosaly Senra, apresentadora da UFMG Educativa. As duas produzem o Toque de poesia. Levantam a vida do autor, selecionam os textos – por tema, por uma curiosidade ou qualquer outro critério – e eles são lidos por Vera, que também é crítica literária, ensaísta e... poeta. “Poesia é mistura de som, sentido, ritmo, por isso deve também ser ouvida, e não apenas lida”, ela argumenta.

O programa, que tem duração de três a cinco minutos, privilegia a literatura brasileira e dedica séries semanais a um autor ou tema. Muitas vezes, a última edição traz entrevista com um poeta – quando ele já morreu, a produção pode incluir um depoimento gravado. Toque de poesia tem atrações como a leitura, por professores da Fale, de poemas estrangeiros no original.

Nas manhãs de sábado e domingo, a UFMG Educativa abre espaço para as crianças. Outro programa que vem desde a inauguração da emissora, Serelepe – Uma pitada de música infantil começou em forma de pílulas (programas curtíssimos) e este ano passou a ter uma hora de duração. Serelepe é dividido em blocos dedicados à música brasileira, estrangeira, histórias cantadas e informações e dicas sobre o tema. Concebido por Eugênio Tadeu, da Escola de Belas-Artes, e produzido por professores e alunos de diversas unidades, o programa é uma disciplina optativa na EBA e gerou um blog. Eugênio Tadeu lembra a dificuldade, no início, para chegar a um formato adequado. “Demorou um pouco para acharmos um jeito de fazer, e, na verdade, depois de três anos, é como se estivéssemos sempre começando”, ele revela