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Nº 1628 - Ano 35
06.10.2008

Tecnologia na sola do pé

Engenharia e Fisioterapia desenvolvem tênis específico para caminhada

Grupo desenvolveu aparelho que testa a flexibilidade do solado

Manoella Oliveira

Estudantes de graduação, pós-graduação e professores da Fisioterapia e das engenharias Mecânica e de Produção da UFMG se uniram em pesquisa para desenvolver um tênis diferente dos muitos que hoje estão disponíveis nas vitrines das grandes lojas. A novidade se transformou em mais uma patente da Universidade, concebida no Laboratório de Bioengenharia do Departamento de Engenharia Mecânica.

Próprio para caminhada, o produto reúne condições especiais de amortecimento, conforto e design e é piloto de uma série de projetos que começam a surgir por demanda na região de Nova Serrana, no Centro-Oeste de Minas, responsável por 52% da produção nacional de calçados esportivos. O produto foi concebido a pedido da Cromic, indústria do município.

A grande inovação é a geometria do solado, associada ao design do cabedal (parte superior do tênis) criado para ele, o que exigiu levantamento de cores e de tendências e adequação dos materiais aos vários aspectos de conforto, como maciez, sensação térmica e gasto de energia.“Utilizamos a flexibilidade do solado para definir qual deformação deveria sofrer durante a caminhada. Normalmente, quando as pessoas pisam, ele não se altera por igual, o que ocasiona lesões principalmente no calcanhar e na sola do pé. No nosso projeto, a deformação é uniforme”, explica o coordenador do grupo da Engenharia Mecânica, professor Marcos Pinotti.

Para chegar a esse resultado, os pesquisadores desenvolveram, sob a coordenação de outro integrante da equipe, o professor Rudolf Huebner, do mesmo departamento, um aparelho para testar a flexibilidade do solado em pontos pertinentes e sua capacidade de amortecimento. “Constatamos que o produto que desenvolvemos é mais macio e absorve mais impactos do que aqueles fabricados pela empresa solicitante. Ele também é aplicável a qualquer tipo de tênis”, diz o professor Huebner, acrescentando que a máquina que testa a flexibilidade do produto pode também ser utilizada na elaboração de estudos sobre caracterização de solados, pois complementa outras ferramentas disponíveis para esta finalidade, como os programas de simulação.

Centro multidisciplinar

O projeto durou cinco meses e foi iniciado quando a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) trouxe à Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CT&IT) da UFMG a demanda por um tênis especial que culminou com a formação de um centro multidisciplinar para atendê-la. A fase de pré-desenvolvimento envolveu cerca de dois meses de testes realizados pela equipe de fisioterapeutas com calçados da empresa, da concorrência e os chamados “top de linha” para conhecer as vantagens de cada um, além de pesquisa de mercado que identificou 300 dos modelos de tênis mais desejados. Foram criadas cerca de 50 alternativas de design de calçado para que a empresa fizesse uma seleção. “Tínhamos a intenção de determinar o desalinhamento que as pessoas sofrem no pé e proporcionar mais conforto a elas, evitando o desgaste das articulações”, afirma o coordenador da equipe de Fisioterapia, professor Anderson Aurélio da Silva.

Depois de testes com voluntários, realizados pela equipe da Fisioterapia, e do solado, pelos engenheiros, o projeto está em sua fase final, a de reavaliação do protótipo, quando são propostas pequenas modificações. “A idéia inicial era colocar o tênis nos parâmetros biomecânicos que devem ser obedecidos para que ele se torne ‘top de linha’. Agora, estamos encerrando as experimentações que vão apontar a qualidade da caminhada da pessoa que usa o produto. Se houver alterações, serão mínimas”, afirma um dos integrantes da equipe, o fisioterapeuta Leandro Bicalho.

Parceria

A conexão das áreas tornou-se permanente, e a expectativa é que o vínculo entre academia e setor produtivo se fortaleça com novas pesquisas e produtos. “O mais interessante é a articulação entre os centros de excelência. Um produto que requer mais tecnologia custa mais caro, mas é vantajoso para uma empresa que não tem centro de pesquisa utilizar a estrutura da UFMG, que proporciona resultados rápidos e garantidos”, afirma o coordenador da equipe da Engenharia de Produção, professor Eduardo Romeiro.

A parceria também traz frutos acadêmicos para a Universidade, que, a partir da experiência, ganhou uma dissertação sobre a inserção do design na indústria de Nova Serrana. A autora é a pesquisadora Heloísa Nazaré dos Santos, da Engenharia de Produção. “Vejo essa troca com otimismo. A iniciativa vai trazer mais empresas para perto da academia e o pólo calçadista precisa desse apoio, social e economicamente relevante para Minas Gerais e para o Brasil”, completa Eduardo Romeiro.

Já o professor Pinotti destaca a importância de difundir o conhecimento em áreas diversas. “Nosso conhecimento é utilizado em demandas específicas, e é muito importante que tenhamos a oportunidade de aplicar as ferramentas da engenharia em outras áreas.” Na Fisioterapia, a patente deve gerar uma nova linha de pesquisa, nascida do contato entre os laboratórios de Biomecânica, de Desempenho Motor Humano e de Prevenção e Reabilitação de Lesões Esportivas