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Nº 1628 - Ano 35
06.10.2008

Rápidos no gatilho

Adolescentes que jogam videogame se saem melhor em teste de atenção, conclui pesquisa da Faculdade de Medicina

Larissa Nunes*

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Luciana Alves: videogames podem fazer bem, mas é preciso bom senso

O videogame, velho inimigo dos pais na tarefa de educar seus filhos, pode não ser esse vilão que muitos pensavam. Pelo menos é o que sugere a pesquisa Análise das performances em teste de atenção sustentada: comparação entre jogadores e não-jogadores de videogame, da psicóloga Luciana Alves.

Desenvolvido como dissertação de mestrado da Faculdade de Medicina da UFMG, o estudo revelou que jovens que têm o hábito de jogar videogame se saíram melhor em um teste de atenção. Em uma cidade mineira de médio porte foram observados 30 adolescentes pobres. Parte do grupo tinha experiência com videogame e outra parte nunca havia entrado em contato com qualquer tipo de jogo eletrônico.

Ao submeter os dois grupos a um teste de atenção sustentada, a pesquisadora observou que os jogadores de videogame foram mais rápidos em responder à tarefa proposta do que o grupo de não-praticantes. Na segunda parte do estudo, a psicóloga expôs as crianças que não tinham familiaridade com o videogame a dois jogos de aventura por um tempo determinado e aplicou novamente o teste. Segundo ela, o resultado foi animador: houve melhora no desempenho dessas crianças no teste de atenção aplicado. Em breve, os resultados serão publicados com detalhes em revistas especializadas.

Socialização

ilustração
Ilustraçao: André Coelho

Ainda que a questão da socialização não fosse objeto de investigação da pesquisa, Luciana Alves relatou que sua experiência com as crianças revelou que o jogo de videogame ajudava na interação social. “Uns ajudavam os outros quando um nível do jogo era mais difícil, eles interagiam cara a cara e por meio da rede.”

Sobre aquela velha noção de que o jogo pode isolar crianças e adolescentes, a psicóloga explica: “Uma pessoa pode ser anti-social de qualquer forma. É claro que o jogo pode ser mais um instrumento, uma forma para se isolar, mas um livro também pode ter o mesmo efeito”.
Já com relação ao tempo de exposição aos jogos, Luciana só tem uma orientação: bom senso.

O recomendado é que os jovens joguem por período igual ou inferior a uma hora, de acordo com uma pesquisa na área à qual Luciana teve acesso. No entanto, seguir esse tempo à risca pode ser frustrante para quem está jogando. “Em muitos jogos é necessário mais de uma hora para se passar de fase. Os pais precisam equacionar essa questão, observando como a criança fica depois daquele tempo que ela joga. Se ela não está deixando de desenvolver tarefas, se está cansada etc.”

A mesma recomendação vale para o conteúdo dos jogos: “Seria mais interessante que o jogo fosse adequado para a faixa etária, mas temos que lidar com a nossa realidade”, analisa. Para ela, os jovens terão acesso e irão se interessar por jogos não adequados à sua faixa etária ou violentos a partir da convivência com amigos e vizinhos. “Mas os pais podem sentar e jogar com a criança, ver como ela reage frente ao jogo em questão. O segredo é observar os filhos”, conclui Luciana Alves.

Dissertação: Análise das performances em teste de atenção sustentada: comparação entre jogadores e não-jogadores de videogame
Autora: Luciana Alves
Defesa: 5 de setembro, junto ao programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança da Faculdade de Medicina
Orientador: professor Alysson Massote Carvalho (UFMG)

*Estudante de Jornalismo da UFMG e estagiária da Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina