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Nº 1631 - Ano 35
27.10.2008

Foca Lisboa

Portas abertas

UFMG faz primeira chamada de projetos de pesquisa para o Centro de Microscopia


Ricardo Bandeira

Pesquisadores da UFMG nas diversas áreas do conhecimento passam a contar, ainda este ano, com um conjunto de laboratórios único na América Latina. Trata-se do Centro de Microscopia (CM/UFMG), que começa a receber, na segunda-feira, 27 de outubro, projetos de pesquisa na área de microscopia eletrônica. A primeira chamada vai até 28 de novembro e representa a abertura do CM para a comunidade universitária. O Centro, localizado no campus Pampulha, conta até o momento com quatro microscópios eletrônicos, três deles com capacidade de ampliar imagens em até 1 milhão de vezes.

“O grande diferencial do Centro de Microscopia é o fato de concentrar equipamentos de última geração em espaço com infra-estrutura física de padrão internacional”, afirma a pró-reitora adjunta de Pós-Graduação, Elizabeth Ribeiro da Silva, também coordenadora da área biológica do CM/UFMG. De acordo com ela, este Centro distingue-se pela concepção multidisciplinar e multiusuária e, por isso, foi constituído como órgão suplementar ligado à Reitoria, sem vinculação específica com qualquer unidade acadêmica. Essa concepção reflete-se na constituição do Conselho Diretor, integrado por oito professores de várias áreas do conhecimento: Carlos Rosiére (Geologia); Gregory Kitten e Elizabeth Ribeiro (Biologia); Nelcy Mohallem (Química); José Aurélio Bergmann (Agrárias); Dulciene Queiróz (Saúde), além da diretora e vice-diretora do CM/UFMG.

Nesta fase inicial, o CM receberá propostas de pesquisadores da UFMG. O papel do órgão, no entanto, vai extrapolar, e muito, os “muros” da Instituição. O Centro também foi projetado para abrigar pesquisas de outras instituições de ensino superior e de empresas públicas e privadas que firmarem convênio para o desenvolvimento de projetos. Vai contribuir, ainda, para a formação científica e tecnológica de pessoal qualificado. “Esses microscópios, únicos no estado de Minas Gerais, vêm, portanto, suprir uma carência que não é apenas da UFMG ou de Belo Horizonte”, afirma a diretora do CM, Virgínia Ciminelli.

Infra-estrutura e pessoal

Dos quatro microscópios, dois são de transmissão, um de varredura (capta imagens de forma tridimensional) e o outro é um microscópio dual de feixe eletrônico e iônico (adequado a pesquisas em nanofabricação). Um quinto equipamento acaba de chegar. Trata-se de um microscópio de força atômica, muito utilizado nas análises de materiais, por ser capaz de identificar átomos nas superfícies. A direção do Centro também negocia a incorporação de microscópios instalados em outras unidades acadêmicas.

Centro foi construído com espaço para abrigar toda essa infra-estrutura. São 13 laboratórios para os microscópios, seis de preparação de amostras, um de fotografia e um de tratamento de dados e imagens.

A direção do CM está a cargo das professoras Virgínia Ciminelli (diretora) e Karla Balzuweit (vice-diretora e coordenadora técnico-científica da área de materiais). A coordenação técnico-científica conta com a participação dos professores Elizabeth Ribeiro da Silva (área biológica) e Wagner Nunes Rodrigues (laboratório de microscopia de feixe iônico/FIB). A equipe é formada, também, por Breno Barbosa Moreira (microscópio eletrônico de varredura); Douglas Rodrigues Miquita (microscópio eletrônico de transmissão 200 kV); Kinulpe Honorato Sampaio (microscópio eletrônico de transmissão 120 kV); Elizana Santana de Moraes (preparação de amostras biológicas); Jesus Manoel Francisco (preparação de amostras da área de materiais); Roger Luiz de Sena Severino (infra-estrutura do prédio) e Regina Pinto de Carvalho (professora voluntária).

Construção incluiu visitas a outros centros

A implantação do Centro de Microscopia da UFMG segue um plano de metas formulado em 2003. Na primeira etapa, foi construído o prédio, localizado numa área de 1 mil metros quadrados na parte extrema do quarteirão 10 do campus Pampulha, perto do Centro de Pesquisas Hidráulicas da Escola de Engenharia. A inauguração foi em setembro de 2006. De lá para cá, os equipamentos foram instalados e testados e houve contratação de pessoal para o CM. Agora, com a primeira chamada de projetos de pesquisa, o Centro entra efetivamente em operação.
De acordo com a professora Karla Balzuweit, a equipe que projetou o Centro fez visitas a institutos de pesquisa e empresas fabricantes de microscópios, no Brasil e no exterior. O resultado foi a construção de instalações planejadas de acordo com parâmetros internacionais, nos quesitos de campo magnético, vibração mecânica, vibração acústica e estabilidade térmica.

Entre outras áreas, o Centro será utilizado em pesquisas de materiais, biomateriais, biotecnologia, controle de qualidade de fármacos, diagnósticos clínicos, gestão ambiental, nanociência, nanotecnologia e tecnologia de cosméticos. No caso específico de Minas Gerais, os microscópios do CM serão especialmente úteis aos estudos relacionados aos setores mineral e metalúrgico, uma vocação econômica do estado.
De acordo com a diretora do CM, Virgínia Ciminelli, os custos de implantação do órgão foram de R$ 12 milhões, divididos entre recursos da UFMG, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Banco do Brasil, CT-Infra (Fundo de Infra-Estrutura, vinculado à Financiadora de Estudos/FINEP), Ministério da Ciência e Tecnologia e emendas parlamentares. Sua operação demandará, num primeiro momento, R$ 1,2 milhão anuais, que serão captados por meio de financiamento de projetos de pesquisa, prestação de serviços e patrocínios. Na opinião da diretora, o caráter multidisciplinar do Centro e sua abertura para projetos de outras universidades e de empresas exigem um novo modelo de financiamento, que deve articular órgãos governamentais, instituições de ensino e pesquisa e iniciativa privada.

Para o reitor da UFMG, professor Ronaldo Tadêu Pena, o Centro de Microscopia “é um passo decisivo da UFMG rumo à excelência internacional em pesquisa. Pesquisadores de campos diversos – biologia, física, química, geologia, engenharia de materiais e outras áreas –, agrupados em espaço especialmente construído, evidenciam a possibilidade e a efetividade do trabalho transdisciplinar. Lá não se trata de multiplicar olhares sobre um objeto previamente estabelecido, mas de constituir novos objetos, nas dimensões nanométricas, decorrentes da aproximação de áreas que a ortodoxia disciplinar costuma manter separadas”.

 

Primeiras descobertas

Antes da efetiva entrada em operação, a direção do Centro de Microscopia convidou um personagem ilustre para “inaugurar” um dos microscópios eletrônicos, o pesquisador e professor emérito da UFMG Ângelo Machado, especialista no estudo de libélulas. E a experiência foi além do caráter protocolar. Ao observar amostras desses insetos no microscópio eletrônico de varredura, Machado pôde identificar, com maior precisão, uma estrutura presente em algumas espécies de libélula e que ainda não teve sua função descrita pela ciência. Nessa estrutura está localizada a parte terminal de uma glândula que libera uma substância com provável participação na reprodução desses animais. Os resultados da descoberta serão expostos em trabalho que está sendo elaborado por Machado.

Observação de libélulas revelou glândula ainda não descrita pela ciênciaO professor celebra a abertura do Centro de Microscopia como uma conquista da UFMG. Segundo ele, o que mais se vê nas universidades são departamentos disputando, entre si, recursos para a compra de equipamentos. A UFMG, ao contrário, foi capaz de coordenar esforços no sentido de ter os melhores microscópios reunidos num só local.

Machado também destaca a importância, para sua área, do equipamento usado por ele na observação das libélulas. “O microscópio de varredura alia o valor científico ao valor estético das coisas”, diz, sobre a qualidade e a beleza das imagens obtidas.

Centro de Microscopia
Chamada de projetos de pesquisa
Período: 27 de outubro a 28 de novembro de 2008
Informações: www.ufmg.br/microscopia