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Nº 1653 - Ano 35
18.5.2009

Na boca ou no estômago?

O X Encontro de Pesquisa da Faculdade de Odontologia será oportunidade de apresentação de 126 trabalhos de graduação e de pós-graduação. Uma dessas pesquisas, realizada por estudantes e professores de diversas áreas da escola, avaliou o conhecimento de cirurgiões-dentistas a respeito da halitose (o conhecido mau-hálito). O objetivo foi verificar o que pensam os profissionais sobre as causas do problema e as terapias indicadas. “A maior parte das causas da halitose está relacionada à própria boca, e os entrevistados demonstraram saber disso, mas muitos dentistas ainda acham que fatores ligados ao estômago têm um peso grande”, relata o doutorando Marco Aurélio Camargo da Rosa. “Isso pode levar a medidas equivocadas, como o encaminhamento do paciente ao gastroenterologista”, acrescenta.

A pesquisa, que conta com a participação dos professores Evandro Abdo e Efigênia Ferreira, constatou ainda que, mesmo entre os profissionais que diagnosticam de forma correta, há uma tendência a prescrever terapia insuficiente. Dentistas com menor formação têm como praxe indicar para eliminação do mau-hálito os antissépticos líquidos, que, segundo os professores, tem seus méritos supervalorizados. Tratar cáries e cuidar da higiene de dentes, língua e próteses são medidas muitas vezes mais eficazes. A conclusão do trabalho, de acordo com Marco Rosa, é a de que os cirurgiões-dentistas “têm conhecimento satisfatório sobre a halitose, mas devem rever alguns conceitos relacionados a diagnóstico e aconselhamento de seus pacientes”.

Muito além dos índices

As pesquisas em odontologia seguem uma tendência: elas avaliam o paciente mais pela percepção dos indivíduos do que por índices que medem males da boca, como a cárie e a doença periodontal. Segundo Maria Letícia Ramos-Jorge, pós-doutora pela UFMG e professora da Universidade Federal dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha, as medidas objetivas são importantes, mas refletem apenas a doença, sem considerar sua repercussão na função bucal e no bem-estar psicossocial dos indivíduos.

Para Maria Letícia, a nova abordagem começa pela transdisciplinaridade, e a odontologia precisa de maior entrosamento com os outros campos da saúde. “Historicamente, a cavidade bucal tem sido dissociada do restante do corpo”, diz a pesquisadora. “Entretanto, estudos recentes revelam que desordens bucais têm conseqüências biológicas, emocionais e psicossociais tão sérias quanto outras doenças.” Ela inclui, entre esses efeitos negativos, o desenvolvimento de baixa autoestima causada pela perda de dentes. Maria Letícia lembra que o implante dental é considerado caro e sofisticado, mas está comprovado que as pessoas que se submetem a esse tratamento experimentam melhora substancial na qualidade de vida. “Isso poderia justificar a inclusão do tratamento em serviço público”, ela argumenta.

Maria Letícia Ramos-Jorge, que vai participar como debatedora do X Encontro de Pesquisa, relata ainda que, na última década, multiplicaram-se os instrumentos de avaliação da qualidade de vida. E projeto da Organização Mundial da Saúde (OMS) gerou um questionário composto por cem itens, que por sua vez deu origem a outros destinados a verificar a repercussão das condições bucais sobre a qualidade de vida. Ela acrescenta que a Faculdade de Odontologia da UFMG é hoje centro de referência na tradução e adaptação dos questionários para a cultura brasileira, muitas vezes por meio de dissertações e teses publicadas em periódicos internacionais.