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Nº 1653 - Ano 35
18.5.2009

Originada dos caminhos que levavam às reservas de ouro e diamantes da capitania de Minas Gerais no século 18 e parte do 19. Em torno dela, formaram-se 179 municípios em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

De familiar a universal

Livro da Editora UFMG resgata caminho percorrido pela educação brasileira a partir do século 19

Patrícia Azevedo

Da primeira lei que regulamentou o ensino no Brasil, outorgada em 1827 pelo imperador Dom Pedro I, ao atual modelo instituído pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, publicada em 1996, o sistema de ensino e a sociedade brasileira passaram por grandes mudanças. O Império virou República, a escola se transformou em uma instituição social estratégica e o ensino passou a ser obrigatório e universal, para citar apenas algumas delas.

Investigar e compreender tais transformações é a proposta do livro História de práticas educativas, que acaba de ser lançado pela Editora UFMG. A obra reúne 22 artigos que traçam, de maneira multifacetada, o caminho da educação em Minas Gerais e no Brasil nos séculos 19 e 20. Todos os artigos foram escritos a partir de teses e dissertações defendidas entre 2005 e 2007 pelos orientandos do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação (Gephe) da UFMG.

Na primeira parte da obra, estão agrupadas as pesquisas sobre o surgimento e a afirmação da escola em Minas Gerais. Já a segunda parte do livro reúne estudos que tratam de práticas educativas em um sentido mais geral, abordando, por exemplo, os modos de circulação de saberes, a ação educativa em jornais e revistas, e discussões sobre disciplinas, métodos e teorias pedagógicas.

“Esta é uma forma de pôr em circulação o trabalho dos alunos, que investigam, com muito empenho e esforço, a história do ensino no país”, conta Tarcísio Mauro Vago. Professor do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação (FAE) da UFMG e integrante do Gephe, ele assina a organização do livro juntamente com o professor Bernardo Jefferson de Oliveira, coordenador do programa de pós-graduação da FaE.

Modelo centenário

Apesar das tentativas de regulamentação do ensino durante o período imperial, o Brasil estava dividido em províncias e cada uma delas tinha autonomia para organizar seus sistemas de ensino. Resultado: professores ensinavam em casa, as escolas eram estruturas isoladas e não havia homogeneidade. “As necessidades das famílias também eram outras. As meninas ficavam em casa para ajudar nos serviços domésticos e os meninos iam para o campo trabalhar com os pais”, conta Tarcísio.
Segundo o professor, o sistema de ensino que as gerações atuais conhecem (prédios próprios para escolas, divididos em salas de aula, com várias disciplinas, professores e direção) só teve início com a República. “Em Minas Gerais, especificamente, começou a partir de 1906, com a reforma João Pinheiro. Este ano, completamos 103 anos do atual modelo escolar”, explica.

Com a nova estrutura, surgem também novas necessidades, como a formação e a qualificação de professores, que começam com as escolas normais até chegar nas licenciaturas para cada uma das áreas. Houve também mudanças no currículo, que além de ensinar a ler e escrever, passou a conter disciplinas como história, geografia, ciências e artes. “A sociedade passou a exigir uma formação mais ampla. Além disso, surge a ideia de garantir o acesso a toda a população. No final do século 19, 80% da população não frequentava a escola. Hoje, 98% das crianças com até 10 anos estão nas salas de aula”, informa Tarcísio Vago.

Em Minas

A história da educação em Minas Gerais também recebeu destaque especial no livro. Um dos artigos dedica-se ao estudo do processo de escolarização no período de 1772 a 1835 no termo de Mariana, região de mineração e agricultura. Outro artigo fala sobre a relação entre ensino e associações religiosas no estado. “Antes da construção de Belo Horizonte, vitrine da República, a capital de Minas era Ouro Preto, símbolo maior do Império. Estudar o ensino nessa região é de fundamental importância para compreender as mudanças que resultaram nas práticas educativas atuais”, completa Tarcísio.

Livro: Histórias de práticas educativas
Edição: Editora UFMG
Organizadores: Tarcísio Mauro Vago e Bernardo Jefferson de Oliveira
Páginas: 531
Preço: R$ 57