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Nº 1666 - Ano 35
7.9.2009

Horizonte pesado

Documentário produzido por formandos em Comunicação Social resgata história do heavy metal em BH

Priscila Brito

“Belo Horizonte é a capital do metal do Brasil.” Com esta e outras frases de teor semelhane, inicia-se o documentário Ruído das Minas – A origem do heavy metal em Belo Horizonte, projeto de conclusão do curso de Comunicação Social dos estudantes de jornalismo Filipe Sartoreto, Gracielle Fonseca e Rafael Sette Câmara. Em 82 minutos, o filme reconstitui a formação e consolidação da cena de heavy metal na capital mineira na década de 80, buscando explicar que essas afirmações vão muito além de um certo ufanismo.

Para o diretor do documentário, Filipe Sartoreto, o simples fato de Belo Horizonte ter sido o berço do Sepultura, uma das principais bandas do gênero no mundo, “já justificaria um filme sobre o heavy metal na cidade”, mas, segundo ele, a capital ofereceu muito mais ao estilo. “Na mesma época, surgiram outras bandas que foram referência.”

Com depoimentos de membros de bandas como Chakal, Holocausto, Mutilator, Overdose, Sarcófago, Sepultura, Sextrash e Witchhamer, o documentário faz uma abordagem histórica e ao mesmo tempo cultural do movimento em Belo Horizonte. “Tentamos mostrar qual era o nicho das pessoas, onde as bandas se encontravam e faziam seus shows”, explica a produtora Gracielle Fonseca. Um dos núcleos do movimento, segundo ela, foi a Cogumelo, inicialmente loja de discos especializada em rock, mas que logo se tornou uma das principais difusoras do estilo ao bancar a gravação dos primeiros álbuns das bandas locais. Outro aspecto abordado é a peculiaridade do som produzido aqui. “A maioria das bandas seguiu a linha do trash metal, mais agressivo”, afirma a produtora.

O paradoxo da formação de uma cena de estilo agressivo em meio a uma população tida como religiosa e pacata, como a mineira, também é discutido. “Para muitas das bandas, a cidade era tão conservadora e movida pelo catolicismo, que a música foi a válvula de escape que elas encontraram para contestar a ‘tradicional sociedade mineira’”, analisa Gracielle.

As polêmicas entre as bandas também não escaparam ao roteiro do trabalho. Entre elas, a famosa rixa entre o Sarcófago e o Sepultura e os motivos que levaram à ascensão somente desta última, e não das demais bandas, à cena mundial. “Essa é uma questão que tem duas linhas principais de argumentação. Uns defendem que o Sepultura era a banda que mais se dedicava, outros acham que a banda, depois que conseguiu um espaço, não favoreceu os outros grupos”, esclarece Filipe. Mais que registrar esses conflitos, a principal preocupação neste ponto, segundo o diretor, foi ser plural. “A gente tentou dar espaço para todas as versões da melhor forma possível.”

Passado

Concentrado em fatos ocorridos nos anos 80, o documentário levanta uma questão de fundo: a cena de heavy metal na cidade não conseguiu manter ao longo dos anos o vigor da época do seu surgimento? Para Gracielle, essa é uma leitura possível. “A cena é muito mais complexa hoje, com mais bandas, mas muito mais fraca. A maioria dos shows não tem lotação máxima, por exemplo”. As mudanças tecnológicas e a entrada do Brasil no circuito internacional de shows também têm responsabilidade nessa constatação, segundo Filipe. “As bandas daqui tinham muita repercussão naquela época porque era muito difícil ter acesso ao que era de fora. Hoje as grandes bandas vêm tocar aqui e você tem acesso a tudo com a internet”, avalia.

Ruído das Minas será exibido na cidade no Indie 2009 – Mostra de Cinema Mundial, nesta quarta-feira, dia 9 de setembro, dentro da mostra Música do Underground. Nos dias 19 e 20, o filme será transmitido para todo o país no DocMTV, na MTV Brasil.

Gracielle revela que o objetivo agora é providenciar legendas para o documentário e levá-lo para o exterior. “A ideia não é fazer um lançamento, mas pelo menos repercutir”, explica. A produtora, que esteve recentemente em festivais na Europa, teve a prova de que o barulho produzido aqui ecoou no velho continente. “Tem muito fã de banda mineira por lá. Nos festivais, você vê muita gente com camisa do Sarcófago e do Sepultura”, ela conta.