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Nº 1685 - Ano 36
8.3.2010


Cinema em rede

Trabalho de mestrado analisa modelos de distribuição de filmes baseados nas redes sociais

Itamar Rigueira Jr.

Nas últimas décadas, o cinema brasileiro cresceu em quantidade e qualidade, mas o público ainda não tem acesso fácil a parte considerável dessa produção, desvinculada dos esquemas de distribuição das grandes empresas transnacionais. Essa situação incomoda a pesquisadora Cynthia Zaniratti, que decidiu investigar o tema em seus estudos de mestrado em Ciência da Informação. Ela descobriu dois modelos alternativos de distribuição, que podem indicar caminhos para a democratização do acesso a filmes produzidos no país.

Trata-se do Programadora Brasil, criado em 2006 no âmbito do Ministério da Cultura, e da empresa MovieMobz, que atua há menos de dois anos. O primeiro trabalha apenas com filmes brasileiros e estimula a implantação de pontos de exibição, no estilo dos cineclubes, especialmente em cidades onde não há salas de cinema (só 8% dos municípios dispõem ao menos de uma sala). A segunda reúne cinéfilos e promove sessões especiais de filmes brasileiros e estrangeiros – com pouco espaço no “circuitão” –, geralmente em cinemas comerciais dedicados a produções mais diversificadas. As duas iniciativas utilizam a internet como instrumento de mobilização e são enxergadas pela pesquisadora como redes sociais.

“O cinema nacional enfrenta principalmente a concentração de salas em poucas cidades e o domínio do filme americano nas grades de programação. Se esse domínio está baseado no poder global de grandes empresas, a resistência a essa hegemonia pode lançar mão de outro fenômeno contemporâneo, as redes sociais”, discorre Cynthia Zaniratti, que defendeu, no final de 2009, dissertação com o título Informação, fluxos e filmes: as redes sociais e a distribuição do cinema brasileiro.

Em seu trabalho, Cynthia lembra que as redes “materializam, aprimoram e democratizam a informação em forma de fluxos compartilhados entre sujeitos de interesses comuns”, e os objetos de sua pesquisa representam novidade na medida em que “determinam uma mudança na dinâmica da escolha, dando maior poder de decisão ao público sobre o que quer ver”.

Inconstância

Cynthia Zaniratti ressalta que a indústria brasileira de cinema teve bons momentos, como a fase áurea das chanchadas e a da produção apoiada pela Embrafilme, extinta em 1990, mas se caracteriza historicamente pela inconstância. Mesmo depois da “retomada” (simbolizada por Carlota Joaquina, de Carla Camuratti, lançado em 1994), poucos são os filmes que levam aos cinemas mais de 500 mil espectadores. “A participação do filme brasileiro no mercado exibidor gira em torno de 10%, mesmo com a entrada em cena da Globo Filmes, que atua em parceria com as grandes empresas estrangeiras e consegue inserir suas produções no circuito nacional, com atores conhecidos e propaganda maciça na TV”, salienta a pesquisadora.

A situação se agravou, segundo ela, com a quase extinção dos cinemas de rua, a partir da década de 90, já que o predomínio dos complexos de salas localizados em shoppings permite que a exibição dos blockbusters seja atrelada à de uma série de outras produções dos grandes grupos.

As qualidades que a pesquisadora detectou nos dois modelos pesquisados – a Programadora Brasil viabiliza sessões com ingressos a preços simbólicos e a MovieMobz exibe em sistema digital, o que confere agilidade e amplitude – não devem alimentar ilusões. “As iniciativas são incipientes e não eliminam o gargalo da distribuição do filme brasileiro e de outras produções não comerciais. Mas podem ser vistas como uma aposta e devem ser acompanhadas”, avalia Cynthia Zaniratti.

Dissertação: Informação, fluxos e filmes: as redes sociais e a distribuição do cinema brasileiro
Autora: Cynthia Zaniratti, sob orientação de Maria Aparecida Moura
Defesa: 10 de novembro de 2009, no âmbito do programa de pós-graduação em Ciência da Informação