Busca no site da UFMG

Nº 1694 - Ano 36
10.5.2010

Vai a pé ou de trem?

Pesquisa pela internet medirá qualidade de vida e acessibilidade da população belo-horizontina

Fernanda Cristo

Foca Lisboa
David Ahouagi: viés da demanda

Posto de saúde, supermercado, restaurantes, escolas de ensino superior. Do que você sente falta próximo a sua casa? De serviços urbanos, como limpeza e coleta de lixo, drenagem de águas pluviais e iluminação? Como avalia o risco de criminalidade? Os níveis de ruídos são aceitáveis? O pedestre tem segurança no trânsito? Como se desloca para o trabalho e quanto tempo gasta para chegar lá? Você gostaria de ir mais ao teatro, mas acha o acesso complicado?

É para questões como essas que um grupo de pesquisadores da UFMG busca respostas. Sob a coordenação do professor David José Ahouagi Vaz de Magalhães, do Núcleo de Transportes (Nucletrans) da Escola de Engenharia, eles desenvolveram um formulário para avaliar a qualidade de vida urbana nas imediações das residências de Belo Horizonte, além das condições de acessibilidade a locais de interesse e de mobilidade urbana da população. Diferentemente de outras enquetes do gênero, respondidas presencialmente em casa ou nas ruas, esta lançará mão das facilidades oferecidas pela internet.

A equipe é composta por pesquisadores e bolsistas de iniciação científica de engenharia civil e mestrandos em Geotecnia e Transportes, que desenvolverão dissertações a partir dos dados obtidos com a aplicação do questionário, além de especialistas das áreas de estatística, geografia e administração.

“Avaliamos essencialmente a visão da demanda. Não estamos interessados em identificar se o bairro tem tantas mercearias ou tantas clínicas, queremos saber o que é importante ou não para a população residente em cada área”, resume Ahouagi. Segundo o professor, normalmente a qualidade de vida urbana é analisada somente pelo lado da oferta, no entanto, nem sempre as prefeituras sabem exatamente o que a população precisa ou deseja mais.

A expectativa é de que pelo menos dez mil pessoas respondam ao questionário. De acordo com Ahouagi, é necessária a participação de apenas um representante de cada domicílio. O diagnóstico final será baseado nas unidades de planejamento adotadas pela Prefeitura de Belo Horizonte. Somente serão submetidas a análises as regiões de onde forem extraídas amostras suficientes. “Queremos diagnosticar como as pessoas se sentem nas regiões onde vivem, quais suas dificuldades e facilidades de acesso e como elas avaliam o sistema de transporte de Belo Horizonte”, afirma o pesquisador, mestre em Transportes e doutor em Demografia.

Meios alternativos

O formulário avaliará ainda o interesse da população por meios de transporte alternativos, como a bicicleta. “Há uma resistência muito grande em Belo Horizonte por causa da topografia da cidade, mas será que em todos os trajetos esse uso é inviável?”, questiona. Outra possível solução proposta pelo professor é a criação de linhas de ônibus mais confortáveis, que estimulem as pessoas a deixarem o carro na garagem.

De acordo com Ahouagi, há estudos mostrando que apenas 30% dos domicílios da Região Metropolitana de Belo Horizonte possuem automóvel. Não obstante, como a média de ocupação dos carros é inferior a 1,5 pessoas por veículo, esse percentual já é suficiente para congestionar o trânsito. “Dois carros ocupam o espaço de um micro-ônibus que poderia levar 20 pessoas sentadas confortavelmente”, exemplifica. O problema, na visão do pesquisador, é que o atual sistema de transporte coletivo não é atrativo, por isso a população não está disposta a deixar seus veículos em casa, principalmente nos horários de pico.

Pesquisadores esperam reduzir custos
e tempo com questionário on-line

O questionário está disponível na internet e não haverá entrevistas pessoais. Um dos objetivos indiretos do projeto é avaliar o potencial do uso da rede para realização de pesquisas sociais, além de reduzir custos e tempo de processamento de dados. “A confiabilidade também pode ser muito maior, já que as camadas da população de média e alta renda têm certa insegurança de receber pessoas em casa”, diz o coordenador da pesquisa.

Segundo ele, a mais recente Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (PNAD), do IBGE, com dados de 2008, revelou crescimento no acesso à internet pela população belohorizontina. “Se conseguirmos provar que, em pelo menos 60% dos domicílios ou regiões, as pessoas têm acesso à internet, isso já representará uma redução drástica de custos”, calcula. Ao final do levantamento, será possível identificar os bairros onde não houve adesão suficiente, o que certamente exigirá o uso de meios auxiliares, como aplicação de questionário face a face ou via correios.

O formulário poderá ser respondido ao longo deste mês. A equipe de pesquisadores entrará em contato com empresas para solicitar a permissão do preenchimento do questionário em horário de serviço pelos empregados que não possuem acesso à internet em casa. “A resposta é rápida, leva de 10 a 15 minutos”, garante Ahouagi. “É fundamental que a população participe. Precisamos obter resultados representativos e abrangentes nas diversas regiões do município”, diz. O questionário pode ser acessado e preenchido no endereço www.pesquisabh.eng.ufmg.br. Os participantes receberão uma síntese dos resultados por e-mail. Todavia, as respostas individuais serão mantidas em sigilo. O projeto é financiado pelo CNPq e pela Fapemig.