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Nº 1694 - Ano 36
10.5.2010

Em busca do final feliz

Livro organizado por professor da UFMG descreve esforços voltados para a recuperação de afluente do Rio São Francisco

Juliana Paiva

Um coro de vozes unidas para contar uma história e registrar resultados de pesquisas que objetivam diminuir a agonia do personagem principal: o Rio dos Cochos, no Alto-Médio São Francisco. Esse é o eixo do livro Histórias dos gerais, organizado pelo professor do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) Eduardo Magalhães Ribeiro e lançado pela Editora UFMG.

Entre as vozes reunidas na obra, estão as de outros pesquisadores de várias instituições de ensino, inclusive da própria UFMG, que apresentam resultados preliminares de pesquisa, sistematizam informações sobre história e recursos naturais usados pela população local, como a água e os frutos do cerrado. A obra também traz depoimentos dos moradores da Bacia do Rio dos Cochos, que abrange os municípios de Januária, Bonito de Minas e Cônego Marinho. Eles contam sobre suas origens, suas lutas e as transformações que a região sofreu ao longo dos anos.

Há oito anos, o professor Eduardo Ribeiro e outros pesquisadores ligados ao Núcleo de Pesquisa e Apoio à Agricultura Familiar Justino Obers (Núcleo PPJ) conheceram a luta desse grupo de moradores para recuperar o rio e a busca por alternativas sustentáveis de produção. Naquela época, eles já tinham cerca de 10 anos de caminhada. “O Rio dos Cochos começou a minguar na década de 1990 e a população do lugar assumiu a responsabilidade de fazer seu rio correr novamente”, recorda Eduardo. “Conhecíamos experiências similares de recuperação, por exemplo, no Jequitinhonha, mas não no São Francisco”, completa.

Desde então, as instituições ligadas ao Núcleo PPJ – UFMG, Universidade Federal de Lavras (Ufla), Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSMG)/ Inconfidentes, Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) – começaram a acompanhar essa iniciativa por meio de atividades esporádicas de extensão. Posteriormente, pesquisadores de diversas áreas juntaram-se para a investigação de quase três anos que resultou no livro. As atividades foram apoiadas pelo CNPq e pela Fapemig.

Os pesquisadores trabalharam ao lado de pessoas que viram a degradação chegar por meio das grandes reflorestadoras, dos carvoeiros e das modernas técnicas produtivas, e que assumiram a luta pela recuperação. É o caso de Maria de Lourdes Pacheco Andrade, agricultora e professora aposentada. Orgulhosa da condição de coautora, ela diz que a participação dos moradores locais no livro prova que todos têm seu valor, independentemente de formação acadêmica.

Mais familiarizado com o ambiente editorial, por ter publicado outros dois livros e dezenas de artigos na imprensa, Antônio Inácio Correia, ex-dirigente sindical e um dos fundadores do MST, também conta sua própria história dos gerais norte-mineiros. Como diretor do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Januária, ele enfrentou grileiros e grandes empresas em defesa da agricultura familiar e da natureza da região.

Massa crítica

Duas décadas depois dos moradores terem se mobilizado, a situação do Rio dos Cochos ainda não é favorável. Segundo Eduardo Ribeiro, o rio é intermitente, corre de seis a oito meses por ano. Enquanto no Brasil o consumo médio per capita da população é de 136,16 litros de água/dia, na Bacia dos Cochos essa média fica em torno de 31,20 litros/dia durante a seca.

Vários resultados são elencados pelos organizadores do livro, como a redução do número de incêndios florestais e das áreas de carvoejamento. No entanto, segundo o professor Ribeiro, o maior avanço foi a experiência acumulada em uma série de tentativas de estabelecer atividades e técnicas produtivas que pudessem diversificar a renda das famílias locais e, ao mesmo tempo, reduzir os impactos ambientais. “Eles já sabem bem o que funciona ou não lá; formaram uma massa crítica. Esse é um passo extremamente sofisticado”, avalia o organizador do livro.

Livro: Histórias dos gerais
Organizador: Eduardo Magalhães Ribeiro
Editora UFMG
329 páginas
R$ 55