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Nº 1707 - Ano 36
23.8.2010

ARQUITETURA do espaço HÍBRIDO

Experiências unem doutores e alunos de graduação para envolver o corpo na comunicação digital

Itamar Rigueira Jr.

A imagem simula a presença do Museu de Hoje em São Gonçalo do Rio das Pedras (MG)

Um conjunto de peças viaja de caminhão para, no destino, transformar--se em uma barraca de montagem intuitiva, equipada com projetores, computadores e conexão por internet. Essa estrutura permite, por exemplo, que integrantes de duas comunidades troquem experiências de diversos tipos, mostrem sua arte e características de sua cultura, reunindo-se no que seria um terceiro espaço. E essas informações podem ser ainda incorporadas a um grande banco de dados.

A descrição simplificada é do projeto do Museu do Hoje, elaborado por Lorena Melgaço Marques a partir de sua passagem, na época da graduação, pelo Laboratório Gráfico para Experimentação Arquitetônica (Lagear), da Escola de Arquitetura da UFMG. O trabalho do Laboratório é voltado à criação de espaços híbridos, reunindo características físicas e digitais. O objetivo é superar a predominância visual dos ambientes digitais e enfatizar o engajamento corporal.

“A comunicação por computador está reduzida a interfaces bidimensionais, e aí se perde a riqueza do contato em espaço físico. Nosso objetivo é juntar as duas coisas”, explica o professor José dos Santos Cabral Filho, coordenador do Lagear. A investigação visa ampliar as possibilidades de comunicação por meio de conexão digital de ambientes arquitetônicos, muitas vezes com a participação direta do movimento das pessoas.

Aparatos como câmeras móveis e sensores informam sobre as características do espaço remoto, intensificando a interação das pessoas envolvidas. Sistemas desenvolvidos pela equipe do Lagear utilizam, por exemplo, um artefato tipo origami que aumenta ou diminui de tamanho de acordo com a quantidade de pessoas numa sala remota, ou muda de cor com a variação de ruído no ambiente distante. As pesquisas exploram tecnologias simples e softwares livres.

Movimentos espontâneos

O Laboratório Gráfico de Experimentação Arquitetônica, que reúne de pesquisadores doutores a alunos de graduação, tem investido, nos últimos anos, na “conexão espacializada” de comunidades. Em 2006, conectou o Palácio das Artes, em Belo Horizonte, onde se realizava uma exposição de artesãos de Araçuaí, à própria cidade, no Norte de Minas. Foi uma forma de mostrar à população de Araçuaí a repercussão de seu trabalho e dar aos visitantes da mostra uma ideia do local de origem daquelas obras.

Pouco antes, o projeto Ocupar Espaços, desenvolvido em parceria com a ONG Oficina de Imagens, promoveu encontro virtual dos moradores do Aglomerado da Serra e da Barragem Santa Lúcia, também na capital. Eles experimentaram jogos baseados em negociação, grafitaram imagens projetadas e viram espaços conhecidos serem modificados por interfaces digitais.

No caso do Museu do Hoje, a ideia parte da constatação de que muitas cidades não dispõem de centros de cultura e podem se beneficiar de estrutura itinerante acessível, sem entraves de hierarquia e burocracia. “O projeto valoriza movimentos culturais espontâneos e pode se adaptar tanto às demandas de cada comunidade, quanto à necessidade de renovar a si mesmo para incorporar novas possibilidades tecnológicas e outras mudanças”, afirma Lorena Marques, que cursa mestrados na UFMG e em instituições da Europa.

Envolvido com atividades de ensino, pesquisa e extensão, o Lagear começou em 1993 com os primeiros programas de computação gráfica que permitiam projetar em computador e evoluiu à medida que se alteravam as relações da arquitetura com as novas tecnologias. “Hoje trabalhamos com a chamada arquitetura aberta, que tem como uma de suas características a possibilidade de projetar ambientes digitais sobre o espaço físico, o que favorece o diálogo com os habitantes”, afirma José Cabral Filho.