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Nº 1716 - Ano 37
25.10.2010


Inclusão começa na cabeça

Em livro, pesquisador da FaE propõe mudança de mentalidade como forma de promover a inserção social de grupos excluídos

Clarice Cerqueira

Uma sociedade só será verdadeiramente inclusiva se houver profunda mudança de mentalidade de cada indivíduo. É o que defende o pesquisador François-Xavier Berthou, vinculado ao Grupo de Estudos de Educação Inclusiva e Necessidades Especiais (Geine) da Faculdade de Educação da UFMG, no livro Mentalidade includente: sociedade inclusiva.

O autor tem militância antiga na causa. Em Minas Gerais, trabalhou na Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem) e na França, com pessoas portadoras de deficiência na Associação Les Genêts d’Or. “Tornei-me atento a essas pessoas e vi que elas tinham coisas a dizer”, conta. Segundo ele, essa experiência aliada à reflexão, à observação de fatos, à pesquisa teórica e ao estudo de leis – declaração dos direitos humanos, dos direitos da pessoa deficiente, estatutos da criança e do adolescente e o da pessoa idosa – foram os fundamentos para a proposta que desenvolve em seu livro.

Pedintes em rodoviárias, moradores de periferias, como a barragem Santa Lúcia, em Belo Horizonte, a vida de idosos em asilos, o tratamento de deficientes físicos em organizações, entre outros grupos sociais, levaram o autor a se perguntar: qual o modo de tratamento das exclusões feito pela sociedade? Qual a concepção que as organizações têm do poder de cada ser humano? Ele é mesmo livre e independente? “O que ocorre é que a nossa sociedade é exclusiva e tudo é tratado de cima para baixo. Existem programas de assistência, como o Bolsa Família, mas eles não promovem o indivíduo, apenas sustentam a exclusão”, argumenta.

Representação

Um dos alicerces teóricos do livro é o conceito de representação. “Todos temos representações sociais, que são as ideias que fazemos dos outros. Essas ideias vêm da nossa educação, leituras e convivência”, explica Berthou. Em sua reflexão, o pesquisador defende uma mudança no modo de construir essas representações. “A associação dos pais e amigos dos excepcionais, por exemplo, não é a associação dos excepcionais. Melhor seria se as pessoas atendidas se tornassem atores nas instituições e então buscassem seus papéis na sociedade”, analisa. E complementa: “A sociedade precisa passar a enxergar essas pessoas – portadores de necessidades, idosos, moradores de periferia, entre outros – atualmente excluídas como possuidoras de potenciais e capacidades. Para modificar sua situação, elas devem ser e, principalmente, se enxergarem como atores na sociedade”, enfatiza o autor.

François explica que a inclusão deve ser sustentada por outros conceitos, inserção e integração, que apesar de associados não são exatamente sinônimos. “A inserção é uma tarefa das organizações, cabe a elas criar possibilidades para acolher as pessoas, identificando seu potencial. Já a sociedade deve efetivar a integração por meio da mudança de mentalidade. Por fim, a inclusão é o direito de cada um participar da vida social.”

O livro tenta desconstruir outros termos. A expressão portador de necessidades especiais, por exemplo, é questionada pelo autor, pois pode passar a ideia de que essa pessoa é um “coitadinho”, alguém inferior. “Na verdade, por trás dessa expressão, está a obrigação da sociedade de ajudar alguém que possui necessidades. Ajudar, nesse sentido, tem a ver com inserir e integrar”, conclui François Berthou.

Livro: Mentalidade includente, sociedade inclusiva
Autor: François-Xavier Berthou
Editora: Memnon
Páginas: 178
Preço: R$ 42