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Nº 1739 - Ano 37
23.05.2011

É o ORGULHO de Christiano Ottoni

Escola de Engenharia completa 100 anos voltada para os problemas contemporâneos

Da redação

Detalhe de intervenção artística nas imediações da Escola Municipal Aurélio Pires: vivência real

Em 21 de maio de 1911, um grupo de 14 engenheiros se reuniu com o então secretário da Agricultura de Minas Gerais, José Gonçalves de Souza, e fundou a Escola Livre de Engenharia de Belo Horizonte. A data foi escolhida a dedo: celebrava o centenário de nascimento de Christiano Benedicto Ottoni, patrono da engenharia brasileira e que se tornou também o patrono da Escola de Engenharia da UFMG.

Talvez nem o mais otimista dos integrantes do grupo imaginasse que naquele dia estavam sendo lançadas as bases de uma das mais importantes instituições de engenharia no país. Cem anos depois e ainda recém-chegada ao campus Pampulha, onde ocupa modernas instalações, a Unidade se notabiliza por formar parcela significativa da mão de obra especializada em engenharia no país, além de desenvolver estudos e propor soluções para questões contemporâneas, como as retratadas a seguir.

Pelos ares

Um dos três núcleos voltados para a formação de engenheiros mecânicos especializados em aeronáutica, o Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA) tem reconhecida competência no desenvolvimento e operação de protótipos de aeronaves. Recentemente, o CEA-308 bateu quatro recordes mundiais de velocidade e razão de subida.

O CEA escreveu páginas importantes na história da aeronáutica mineira. Criado em 1963, desenvolveu, já no ano seguinte, sua primeira aeronave, o CB-1 Gaivota, pioneira no estado. O protótipo foi fundamental para a criação do Clube Mineiro de Planadores (atual Aeroclube Mineiro de Planadores). Além das aeronaves, o Centro desenvolveu um túnel de vento para auxiliar nas atividades de pesquisa com ensaios em voo.

Em terra firme

Mobilidade, acessibilidade, segurança, logística e qualidade de vida em centros urbanos são os principais focos dos estudos do Núcleo de Transportes (Nucletrans) da Escola de Engenharia, criado em 1995. Suas pesquisas são desenvolvidas por meio de convênios de cooperação técnica firmados com organismos governamentais e empresas privadas, além de recursos do CNPq e da Fapemig. “Já desenvolvemos pesquisas para formulação de grandes projetos relacionados ao transporte público e ao tráfego da Região Metropolitana de Belo Horizonte, como o estudo de viabilidade da extensão do trem metropolitano até a região de Venda Nova”, conta o professor David Magalhães, subcoordenador do Nucletrans e integrante desde os primórdios.

Um dos projetos em andamento no Nucletrans é a Pesquisa BH, que busca identificar a opinião de moradores sobre a qualidade de vida urbana nas diversas regiões da capital mineira e as condições de acesso a locais de interesse.

Com um pé na saúde

Desenvolvimento de próteses humanas, desinfecção de bactérias por meio de corantes e luz e um dispositivo que torna mais prática a detecção de problemas de visão e audição em crianças. Quem lê tal descrição imagina que ela se refere a atividades desenvolvidas numa escola de medicina ou de saúde. Trata-se, no entanto, de escopo relacionado ao Laboratório de Bioengenharia (Labbio) da UFMG. Criado em 1999 pelo professor Marcos Pinotti, o Labbio, que fica no Departamento de Engenharia Mecânica, integra o grupo de laboratórios ligados ao Centro de Tecnologia Biomédica da Universidade.

De acordo com Marcos Pinotti, a produção de órteses de mão e cotovelo visa ajudar na reabilitação de pessoas que sofreram acidente vascular cerebral (AVC). Até hoje, 20 pessoas testaram as próteses. Já a terapia fotodinâmica atua no extermínio de bactérias através da luz e de corantes, de forma a não prejudicar a saúde do paciente. “A maioria dos tratamentos usuais acaba comprometendo o funcionamento do fígado”, afirma Marcos Pinotti.

Uma das principais frentes do Laboratório é o projeto que desenvolve dispositivos que possibilitam triagem mais rápida e segura da saúde auditiva e ocular em crianças do ensino fundamental. A iniciativa, financiada pelo CNPq, tem a parceria do Hospital de Olhos de Belo Horizonte.

Mão de obra

Em tempos de Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de obras de infraestrutura para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, a formação de trabalhadores para a indústria e construção civil transformou-se em um ”gargalo” para a economia brasileira. Uma contribuição para minorar esse problema é oferecida pelo tradicional Curso Intensivo de Preparação de Mão de Obra Industrial (Cipmoi), o mais antigo programa de extensão da UFMG.

Criado em 1957 para ofertar o curso de mestre de obras para operários da construção civil, o Cipmoi ampliou o seu escopo e, hoje, além da capacitação para esse setor, trabalha com preparação para encarregado geral de obras, eletricidade de baixa tensão, tecnologia da soldagem e introdução ao desenho projetivo. São 280 vagas em cinco cursos com duração de um ano.

Em evolução

A jovem Belo Horizonte encontrou nos primeiros profissionais formados pela Escola de Engenharia uma base para crescer. “A Escola e os alunos ali formados tiveram participação efetiva na consolidação e expansão do espaço urbano. Nomes como Otacílio Negrão de Lima e Pedro Laborne Tavares (formados no ano de 1921) ajudaram no processo de modernização da cidade, comandado por Juscelino Kubitschek a partir da década de 40”, conta a pesquisadora Lígia Beatriz de Paula Germano, do Projeto República.

Nos anos 40, o perfil da Escola começa a mudar. Seguindo uma tendência nacional, a pesquisa começa a ganhar terreno na Unidade, que abandona a postura de se dedicar, exclusivamente, à formação de engenheiros. Tal mudança só foi possível a partir da profissionalização do corpo docente. “No início, os professores atuavam predominantemente como engenheiros e dividiam seu tempo entre o ofício e o ensino. Com a transição, eles passaram a se dedicar integralmente à escola, que absorveu também a pesquisa e a extensão”, analisa o atual diretor, Benjamim de Menezes.

Graduado na turma de 1965, o professor Evando Mirra, um dos mais proeminentes nomes da pesquisa brasileira em Engenharia, vê o futuro da área atrelado à produção científica. “O perfil do engenheiro do futuro passa pela produção do conhecimento, não só para responder aos problemas, mas principalmente para se antecipar a eles”, avalia.

Festa até dezembro

As comemorações dos 100 anos da Escola de Engenharia começam hoje, 23 de maio, às 20h, com sessão solene no Grande Teatro do Palácio das Artes, outorga da Medalha Conselheiro Christiano Ottoni e homenagem às turmas formadas em 1951, 1961 e 1986. Já no dia 11 de junho, a partir de 17h, será celebrada missa no auditório da Escola pelo cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo, que também celebrou a missa de 50 anos em 1961. Em seguida, haverá a inauguração do monumento dos 100 anos, em frente à sede, de autoria do professor Fabrício Fernandino, da Escola de Belas-Artes.

Eventos artísticos, culturais, científicos e homenagens completam a programação, que se estenderá até o final do ano.


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