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Nº 1750 - Ano 37
26.9.2011

ENSINANDO a criar o peixe

Curso de Aquacultura investe na formação de mão de obra na cadeia de produção de pescado

Foca Lisboa
Edgar Teixeira no Laqua
Edgar Teixeira no Laqua: teoria e prática sobre as etapas de produção

Ana Rita Araújo

Antes mesmo de colocar no mercado seus primeiros profissionais, o curso de graduação em Aquacultura da UFMG, criado em 2009, já forma mão de obra para atuar na produção de pescado, uma das áreas de maior expansão no setor de alimentos. Um dos treinamentos vem sendo oferecido a detentos do presídio Antônio Dutra Ladeira, localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e outro a inscritos no programa Bolsa Família do município Morada Nova de Minas, na região central do estado, a cerca de 280 quilômetros da capital.

“O consumo de pescado cresce no mundo inteiro, e os estoques são insuficientes para suportar a demanda. A produção é o caminho, mas faltam profissionais em todos os níveis da cadeia produtiva”, afirma o coordenador do curso de Aquacultura, professor Edgar Alencar Teixeira.

Fruto de demanda do Ministério da Pesca e Aquicultura e da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), o curso no presídio não tem por objetivo o consumo local, mas a formação de detentos, de modo a prepará-los para ingresso no mundo do trabalho após o cumprimento da pena. Já a capacitação em Morada Nova de Minas baseia-se, sobretudo, no fato de que a cidade, com cerca de oito mil habitantes, localiza-se às margens da represa de Três Marias. Módulos condensados do curso também são oferecidos em Belo Horizonte, na Escola de Veterinária.

Os primeiros oito detentos em treinamento serão multiplicadores dos conhecimentos adquiridos sobre engorda de peixes em tanque-rede. “Oferecemos informações teóricas e práticas sobre as diversas etapas de um ciclo de produção, que inclui montagem e inspeção dos tanques-redes, recebimento dos animais, tratamento profilático e verificação do desenvolvimento”, explica o professor. Já em Morada Nova de Minas, o curso de capacitação em piscicultura continental aborda os principais sistemas de produção de peixes; alimentação e nutrição; qualidade de água e sua influência na criação, processamento e qualidade do pescado. Voltado para estudantes, pequenos produtores e trabalhadores rurais, a intenção é divulgar a piscicultura como atividade comercial geradora de lucro e renda e incentivar ações associativistas e cooperativistas.

Referência

Tanto os cursos de extensão quanto o de graduação na área têm como base o Laboratório de Aquacultura (Laqua), referência em pesquisas sobre a cadeia produtiva de organismos aquáticos, desde a reprodução até o produto pronto para consumo. Os trabalhos de investigação desenvolvidos no Laqua estão inseridos nos dois programas de pós-graduação da Escola de Veterinária – Ciência Animal e Zootecnia, ambos nos níveis de mestrado e doutorado – e envolvem estudos sobre produção de peixes em recirculação de água, exigências nutricionais, avaliação de alimentos, reprodução, genética e melhoramento, qualidade de água e toxicologia, larvicultura e processamento de pescado. O Laqua trabalha com três espécies de peixes: tilápia (Oreochromis niloticus), surubim (Pseudoplatystoma sp.) e pacamã (Lophiosilurus alexandri).

Segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura, o Brasil possui 12% da água doce disponível do planeta, um litoral de mais de oito mil quilômetros e uma faixa marítima – Zona Econômica Exclusiva (ZEE) – equivalente ao tamanho da Amazônia, o que se traduz em “enorme potencial” para a criação controlada de peixes, crustáceos, moluscos e algas.

Primeiro curso do tipo na região Sudeste, a graduação em Aquacultura da UFMG oferece formação multidisciplinar que inclui, além de disciplinas sobre sanidade, toxicologia, nutrição e qualidade da água, conhecimentos de hidráulica, hidrologia e cálculos. “Há questões, como o alto custo energético dos sistemas de recirculação de água, que poderão ser melhor trabalhadas por nossos egressos, com base na formação recebida no curso”, prevê Edgar Teixeira.

Devido exatamente à formação multidisciplinar, a questão do registro profissional dos alunos de Aquacultura é tema ainda em discussão, uma vez que o currículo permitiria, por exemplo, que a profissão fosse considerada uma área da Medicina Veterinária, ou ainda que estivesse incluída nas profissões regidas pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea).